Investidores locais adotaram uma postura “taticamente pessimista” em relação às ações brasileiras devido às incertezas sobre cortes de juros e eleições, à expectativa de resultados fracos no 3º trimestre e à recuperação do dólar, pois não querem comprometer um ano de forte desempenho até aqui.
Contudo, para a equipe de estratégia do Bradesco BBI, liderada por Ben Laidler, esta pode ser uma oportunidade para aumentar o risco em Brasil (cuja recomendação do BBI é overweight, ou exposição acima do mercado na América Latina) diante de catalisadores iminentes e significativos, apoiados pela sazonalidade do 4º trimestre, pela clara redução das saídas locais e pelo duplo desconto de avaliação em ações e câmbio.
A conclusão ocorre após uma semana de reuniões com investidores no Brasil, destacando que o sentimento local se tornou “taticamente pessimista”, após forte desempenho acumulado no ano.
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“Investidores locais têm reduzido posições em ações cíclicas domésticas e de consumo, especialmente diante do risco de resultados do 3º trimestre, e aumentado posições em setores defensivos e commodities (ainda o maior underweight, ou exposição abaixo da média)”, avaliam os estrategistas.
Neste sentido, o BBI projeta que esses ventos contrários devem diminuir, vendo uma provável oportunidade de curta duração para investidores, antes dos claros catalisadores dos ciclos de juros e eleições. “Estamos focados em ativos sensíveis a juros, mercados de capitais e ações que podem ser afetadas por atuações do governo”, ressalta.
Para os estrategistas, em resumo, quatro fatores-chave levaram a um aumento do pessimismo dos locais recentemente: 1) a sinalização do primeiro corte de juros no Brasil mudou de janeiro para março, o que diminuiria o ímpeto para a Bolsa; 2) a incerteza política e fiscal para 2026 permanece alta; 3) a temporada de resultados do 3º trimestre deve mostrar a esperada desaceleração dos lucros domésticos; 4) o movimento recente do dólar interrompeu temporariamente a lenta realocação global de recursos dos EUA para mercados internacionais.
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Contudo, a equipe vê essas preocupações dos investidores como temporárias e que devem se reverter antes do fim do ano. 1) A economia está esfriando rapidamente, segundo a pesquisa do banco, mantendo como provável o primeiro corte de juros (Selic) para janeiro; 2) o BBI vê o mercado próximo do “pico de incerteza” política, enquanto a expectativa é de manutenção da regra fiscal; 3) a forte desaceleração dos lucros no 3º trimestre é um sinal positivo, na visão do BBI, indicando ortodoxia macroeconômica, redução de riscos e cortes de juros à frente; 4) os fundamentos sustentam nova fraqueza gradual do dólar e fluxos de rotação. Na semana passada, aponta, houve US$ 800 milhões em entradas em ETFs (fundos de índice) de mercados emergentes domiciliados nos EUA, apesar do dólar forte.
Olhando para as ações, o BBI vê os locais reduzindo a exposição a ações cíclicas domésticas, de consumo e small caps, que estão expostas à desaceleração dos resultados do 3º trimestre ou à decepção com o atraso no corte de juros.
Essas ações dominaram o grupo dos que tiveram pior desempenho desde o pico de setembro. Os investidores locais aumentaram suas posições defensivas em setores financeiros — com Nu (BDR: ROXO34), BTG (BPAC11) e Bradesco (BBDC4) sendo frequentemente mencionados — e em utilities (como energia e saneamento), ao mesmo tempo em que reduziram o grande underweight em commodities. As saídas de capital local continuam, mas claramente começaram a desacelerar, com alguns investidores até começando a registrar entradas.
Para o BBI, a oportunidade para ir contra esse recente movimento de redução de risco dos investidores ocorre especialmente em ativos sensíveis a juros — como Rumo (RAIL3), Movida (MOVI3), Hapvida (HAPV3) e MRV&Co (MRVE3) em seu portfólio modelo — e em ações cujas atuações do estado impactam os papéis – como Banco do Brasil (BBAS3) e Vale (VALE3).
“Nossa análise mostra que as saídas de capital local em ações estão diminuindo após o pico das taxas de juros e devem cessar quando os cortes começarem. Isso é um aspecto positivo pouco valorizado, que amplifica o impacto do primeiro corte de juros e a continuidade dos fluxos estrangeiros”, avalia a equipe de estratégia.
Entre outros países, o BBI é overweight em Argentina e Chile, neutro em México e underweight no Peru. “Somos overweight para Argentina por conta do apoio dos EUA ao país e os resultados positivos das eleições de meio de mandato impulsionando uma alta de alívio. É o mercado mais barato e menos favorecido globalmente, que oferece potencial de alta. Para o Chile, continuamos acreditando que os investidores subestimam o crescimento, a avaliação e o potencial cambial com a volta da direita nas eleições de dezembro”, aponta a equipe de estrategistas.
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Confira o portfólio de ações do Bradesco BBI para a América Latina:
| País | Empresa | Ticker Local | Peso Portfólio (%) |
|---|---|---|---|
| Brasil | Rumo | RAIL3 | 3,5 |
| Brasil | Motiva | MOTV3 | 4,0 |
| Brasil | Hapvida | HAPV3 | 4,0 |
| Brasil | MRV | MRVE3 | 4,5 |
| Brasil | BTG Pactual | BPAC11 | 5,5 |
| Brasil | XP | XP US | 5,0 |
| Brasil | Vale | VALE3 | 6,0 |
| Brasil | Banco do Brasil | BBAS3 | 3,0 |
| Brasil | Mercado Livre | MELI US | 8,0 |
| Brasil | Nubank | NU US | 5,0 |
| Brasil | Itaú | ITUB4 | 7,0 |
| Brasil | Suzano | SUZB3 | 3,4 |
| Brasil | Eletrobras | ELET6 | 5,0 |
| México | Walmex | WALMEX* MM | 8,4 |
| México | Alfa | ALFAA MM | 7,0 |
| México | Bolsa Mexicana | BOLSAA MM | 4,0 |
| México | Fibra Uno | FUNO11 MM | 7,7 |
| Chile | Latam Airlines | LTM CI | 2,5 |
| Chile | Banco de Chile | BCH US | 3,0 |
| Chile | Cencosud | CENCOSUD CI | 2,5 |
| Peru | – | – | 0,0 |
| Argentina | Vista Energy | VIST US | 1,0 |
| Colômbia | – | – | 0,0 |





