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Secretário cuiabano tem projeto de arquitetura tecnoindígena patenteado e se torna referência nacional | Notícias


O arquiteto e urbanista José Afonso Botura Portocarrero, atual secretário municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, acaba de receber a patente pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) do protótipo Tecnoíndia, de sua autoria e que fez parte da sua pesquisa na universidade. O fato representa um marco histórico para o pesquisador e profissional e também para a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que amplia o número de patentes concedidas para um total de 14, tendo o Tecnoíndia, como o primeiro de arquitetura patenteado.

A Carta Patente foi assinada pelo diretor de Patentes, Programas de Computador e Topografias de Circuitos Integrados, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, Alexandre Dantas Rodrigues, no dia 02 deste mês.

“Mais do que um registro legal, trata-se do reconhecimento de uma ideia que atravessa o tempo, demonstrando a união entre um desenho ancestral e as possibilidades tecnológicas da atualidade”, frisou o arquiteto e urbanista, José Afonso Botura Portocarrero.

A patente do produto final é aguardada há cerca de 8 anos, desde que deu entrada do pedido no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), e se justifica por si só, devido a originalidade da ideia, “criada de uma maneira própria”. Uma visão que resume a essência de um trabalho que nasceu de uma sensibilidade dupla de olhar para o passado e projetar o futuro.

O Módulo Tecníndia parte justamente desse encontro. Sua força está em reconhecer que o desenho das habitações indígenas é tecnologia, uma tecnologia ancestral que permanece viva, presente, bela e extremamente relevante. Para o arquiteto, “pode ser um desenho muito antigo, algo ancestral, mas está presente porque é passível de ser fabricado, além de ser bonito”. Assim, o que antes era visto apenas como tradição passa a ser entendido também como inovação.

A pesquisa, desenvolvida no Departamento de Arquitetura da UFMT e no Núcleo Tecnoíndia, buscou transformar o desenho tradicional das habitações indígenas em um sistema construtivo industrializável. O desafio era fazer com que uma forma culturalmente específica, antes construída artesanalmente, pudesse ser reproduzida com precisão, rapidez e eficiência. “Com as tecnologias atuais, conseguimos avançar, porque é possível reproduzir as peças com precisão. A máquina corta o desenho curvo no computador; os furos já saem prontos, sem margem de erro.”

O grande diferencial do protótipo é justamente permitir que um desenho típico das aldeias brasileiras entre na lógica produtiva contemporânea, tornando-se viável para habitações indígenas, pequenas escolas, postos de saúde e moradias. Ao circular publicamente, o protótipo reivindica outro tipo de reconhecimento, o do valor dessas tecnologias tradicionais, muitas vezes invisibilizadas pelas políticas públicas, que insistiam em impor às aldeias modelos padronizados do Minha Casa Minha Vida, inadequados tanto cultural quanto ambientalmente.

A construção do protótipo teve apoio do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem).

Como referências, destacam-se o Memorial Rondon, em Mimoso (MT), a sede da Adufmat e o Núcleo de Pesquisa Tecnoíndia, na UFMT, o projeto Sebrae de Sustentabilidade, em Cuiabá (MT), e a escola do Sesc Pantanal, em Poconé (MT).

Engenharia de Precisão

A trajetória que levou ao protótipo é longa. Portocarrero iniciou seus estudos sobre habitação indígena em 1997, no mestrado pela UFMT, seguiu aprofundando o tema no doutorado na USP e percorreu universidades e laboratórios no Brasil e no exterior, incluindo um estágio de pesquisa de dois meses na ETH Zürich, na Suíça. Nesse percurso, produziu levantamentos, analisou tecnologias, fez e refez maquetes, sempre acompanhado por alunos e colaboradores.

No Laboratório de Estruturas da Engenharia Civil da UFMT, com apoio do s engenheiros civis Manuel Santini Rodrigues Junior, e de Alberto Rodrigues Dalmaso e das estudantes de graduação envolvidas no projeto, Victória Praeiro Macieski e Murythely de Melo Toigo, nasceu o primeiro protótipo.

Submetido a uma rigorosa prova de carga, o protótipo resistiu a uma tonelada de peso. Um segundo modelo, mais complexo, com quatro arcos — evolução direta do primeiro — foi apresentado em Curitiba, na EBRAMEM, e depois exibido em São Paulo, na Bienal Internacional.

A maturação do projeto culminou, em 2018, no depósito do pedido de patente junto ao INPE. “Após oito anos de espera, a concessão finalmente chegou.  E, nessa época, representa um verdadeiro presente de Natal”, descreve Portocarrero.

O registro aparece também no Escritório de Inovação Tecnológica (EIT) da UFMT, e considerado, segundo Portocarrero, o primeiro projeto do Departamento de Arquitetura da UFMT a conquistar uma patente, um feito considerado raro no campo da arquitetura brasileira.

“O protótipo é uma ponte entre mundos: entre o conhecimento ancestral indígena e a engenharia de precisão; entre o desenho tradicional e o corte computacional; entre o respeito cultural e a inovação tecnológica. Sua patente não é apenas um certificado, mas um gesto político e científico que afirma: as tecnologias indígenas são tecnologias brasileiras, e merecem lugar no futuro que estamos construindo”, pontuou.

Montagem

A partir de uma única peça módulo, que se justapõe, é constituído o pórtico ogival comum aos povos indígenas brasileiros.

A ligação entre as peças do pórtico é feita por meio de parafusos. Os conjuntos de peças são dispostas lado a lado formando a estrutura que é repetido a cada 1,25 metros, e que sustentam a cobertura.

O desenho é ao mesmo tempo simples e sofisticado, como as habitações indígenas. Como a estrutura é modular, permite sua montagem e desmontagem, podendo ser útil em situações de moradias urgentes.



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