Início NACIONAL Reunião ministerial teve bronca em ministros e anúncio de demissão

Reunião ministerial teve bronca em ministros e anúncio de demissão


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou nesta quarta-feira (17/12) a última reunião ministerial do ano, na Residência Oficial da Granja do Torto, em Brasília. O encontro reuniu ministros, líderes do governo e dirigentes de bancos públicos para um balanço das principais entregas da gestão e discussões sobre os próximos passos para 2026. Não faltaram puxões de orelhas,  alertas e cobranças para mais empenho e atenção do ministeriado no ano eleitoral que pode dar o quarto mandato ao petista.

Logo na abertura, Lula fez uma cobrança direta aos auxiliares por falhas na comunicação do governo e pela dificuldade de fazer com que as ações cheguem ao conhecimento da população. Segundo o presidente, a gestão ainda não encontrou “a narrativa correta” para apresentar seus resultados à sociedade, sobretudo às vésperas de um ano eleitoral que tem classificado como “o ano da verdade”.

“Nós precisamos fazer com que o povo saiba o que aconteceu neste país. Eu tenho a impressão que o povo ainda não sabe. Eu tenho a impressão que nós ainda não conseguimos a narrativa correta para fazer com que o povo saiba fazer uma avaliação das coisas que aconteceram neste país”, afirmou.

O petista também pediu que os ministros deixem de falar como se fossem observadores externos da gestão e passem a se posicionar como parte do governo.”Às vezes, eu fico pensando quando vocês falam: ‘Porque no governo do presidente Lula’. Dá a impressão que vocês não são governo. Ou seja, vocês estão comigo esse tempo todo, então o governo não é do presidente Lula, o governo é nosso”, pontuou.

Ele ainda ressaltou que a comunicação não pode ser feita “para si mesmos”, mas para um público que precisa compreender as mensagens transmitidas.

Transição ministerial e eleições de 2026

Lula abordou a transição prevista em ministérios ocupados por auxiliares que devem disputar as eleições de 2026. Sem rodeios, afirmou que espera que aqueles que pretendem concorrer tenham êxito nas urnas. “Por favor, ganhem o cargo que vão disputar, não percam”, pediu.

O presidente também avisou que, no próximo pleito, os partidos que integram o governo terão de deixar claro de que lado estarão. A declaração ocorre em meio ao desgaste da relação com siglas do Centrão, como União Brasil e PP, que romperam com o Planalto nos últimos meses e anunciaram desembaque oficial da gestão petista.

Embora ainda não tenha confirmado oficialmente uma candidatura à reeleição, Lula tem indicado que poderá disputar o cargo em 2026, caso mantenha as condições físicas e mentais atuais. Segundo ele, a polarização política tem prejudicado as pesquisas de avaliação do governo, apesar de o terceiro ano de mandato ter terminado em uma “situação amplamente favorável”.

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O presidente Lula reúne ministros nesta manhã para um balanço do ano e o alinhamento de estratégias com foco em 2026. A reunião ocorre na Residência Oficial da Granja do Torto.
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O presidente Lula reúne ministros nesta manhã para um balanço do ano e o alinhamento de estratégias com foco em 2026. A reunião ocorre na Residência Oficial da Granja do Torto.

KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo

O presidente Lula reúne ministros nesta manhã em Brasília
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O presidente Lula reúne ministros nesta manhã em Brasília

Fotos: KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES @kebecfotografo

Lula reúne ministros na Granja do Torto, em Brasília
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Lula reúne ministros na Granja do Torto, em Brasília

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Lula reúne ministros na Granja do Torto, em Brasília
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Lula reúne ministros na Granja do Torto, em Brasília

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Demissão de Celso Sabino

Como mostrou o Metrópoles, ao final da reunião, o presidente anunciou a saída de Celso Sabino (sem partido) do Ministério do Turismo. O União Brasil, antigo partido do ministro, pediu a exoneração e indicou Gustavo Feliciano, filho do deputado federal Damião Feliciano (União-PB), para assumir a vaga.

Em dezembro, o União Brasil decidiu expulsar o ministro após ele contrariar a decisão da sigla de romper com o governo e permanecer no cargo.

Na época, Sabino chegou a entregar a carta de demissão, mas conseguiu se segurar na cadeira até a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA), berço político do ministro.

Em reservado, a sigla nega que tenha feito o pedido e a indicação para a vaga, alegando que Gustavo não é filiado ao partido. A cúpula do partido rejeita que a indicação do nome seja um movimento do partido, indicando que o acordo feito com o presidente conta com apoio somente de uma ala da legenda.

A troca no comando da pasta foi vista como um aceno ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Relação com o Congresso

Em meio às tensões recentes entre o Executivo e o Legislativo, Lula adotou um tom conciliador ao falar sobre o Congresso Nacional. Disse manter boa relação com o presidente da Câmara e com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e afirmou estar disposto a dialogar para “aparar as arestas”.

“Sou amigo do Hugo Motta, do [Arthur] Lira, do [Rodrigo] Pacheco, do Alcolumbre. Sou grato pelo que fizeram nesses três anos. E, na hora que surgir uma divergência, é importante a gente lembrar que é necessário conversar mais, aparar as arestas, e eu estou disposto a fazer isso, porque nós somos gratos por tudo que foi aprovado até agora”, destacou o presidente.

No Senado, Alcolumbre ficou insatisfeito com a indicação do ministro Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto, na Câmara, houve desgaste após o avanço do Projeto de Lei da Dosimetria, que reduz penas de condenados pela trama golpista.

Sobre a indicação de Messias, o presidente pediu que os ministros entrem em contato com senadores aliados para buscar apoio à aprovação do nome do advogado-geral da União na sabatina no Senado.


Ministério da Segurança Pública

  • Durante a reunião, o presidente também anunciou que pretende criar o Ministério da Segurança Pública assim que o Congresso Nacional aprovar a PEC que trata do tema, que atualmente tramita a passos lentos no Legislativo.
  • Na avaliação do presidente, a criação da nova pasta deve ocorrer apenas em 2026, ano da eleição presidencial, quando a segurança pública tende a ganhar ainda mais centralidade no debate político.
  • Atualmente, a área de segurança pública está sob responsabilidade do Ministério da Justiça, comandado por Ricardo Lewandowski, o que exigirá o desmembramento da pasta para viabilizar a criação do novo ministério.
  • Durante a reunião, Lula cobrou da equipe econômica a busca por espaço no Orçamento para financiar a nova estrutura administrativa.
  • Segundo o presidente, o volume atual de recursos destinados à área é insuficiente. “Não é com essa merreca de dinheiro que temos hoje que vamos criar o Ministério da Segurança Pública. Segurança pública significa dinheiro, para investir em mais soldados e inteligência”, afirmou.

Política externa: Mercosul, EUA e Venezuela

No campo internacional, Lula afirmou ter se colocado à disposição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para ajudar em uma eventual negociação de paz entre os EUA e a Venezuela. Segundo o petista, o Brasil pode contribuir desde que haja disposição para o diálogo.

Já no encerramento da reunião, Lula voltou a pressionar pela assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Disse que, caso o tratado não seja firmado durante a Cúpula do Mercosul, marcada para sábado (20/12), em Foz do Iguaçu (PR), o Brasil não retomará as negociações enquanto ele estiver na Presidência.

A expectativa do governo brasileiro é concluir um acordo negociado há 26 anos, apesar da resistência de países como França e Itália, que temem impactos negativos sobre seus setores agrícolas.

Nesta semana, o Parlamento Europeu aprovou salvaguardas que podem suspender benefícios tarifários ao Mercosul, reforçando as incertezas em torno da conclusão do tratado.



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