A estratégia de investir em ações que pagam bons dividendos já faz parte da cultura de muitos brasileiros, que veem na distribuição regular de lucros uma boa forma de multiplicar o dinheiro. Mas é possível montar uma carteira de ações que garanta rendimentos mensais com os lucros pagos pelas companhias, unindo a renda variável com recebimentos regulares?
Um estudo feito por Einar Rivero, sócio fundador da consultoria Elos Ayta, a pedido do InfoMoney, mostra nove ações que pagaram dividendos ou juros sobre capital próprio todos os meses desde dezembro do ano passado.
A maioria são papéis de bancos, que costumam adotar o pagamento mensal de remuneração para atrair mais acionistas. Mas há também empresas do setor imobiliário e de calçados. E o retorno em dividendos pagos em relação ao valor da ação, o chamado dividend yield, não chega a ser ruim, com a maioria pagando mais de 7% ao ano e chegando a até 30% no ano.
Não perca a oportunidade!
| Ação | Código | Setor | Dividend yield* |
| Alos ON | ALOS3 | Imóveis | 7,17 |
| Banestes ON | BEES3 | Bancos | 4,76 |
| Banestes PN | BEES4 | Bancos | 4,72 |
| Bradesco ON | BBDC3 | Bancos | 10,98 |
| Bradesco PN | BBDC4 | Bancos | 10,64 |
| Itaú Unibanco ON | ITUB3 | Bancos | 10,13 |
| Itaú Unibanco PN | ITUB4 | Bancos | 8,86 |
| Mitre ON | MTRE3 | Incorporações | 14,50 |
| Vulcabrás ON | VULC3 | Calçados | 30,15 |
Leia também: Carteira de dividendos: como montar uma para receber proventos todos os meses – InfoMoney
A dificuldade em receber uma renda mensal é que a maioria das empresas paga dividendos trimestrais ou semestrais e os maiores valores se concentram nos meses depois da divulgação do balanço anual, por volta do começo do ano. “São poucas as que pagam dividendos mensais de forma relevante”, diz Rodrigo Santoro, head de ações da Bradesco Asset Management.
Em geral são bancos, mas em valores pequenos, sem recorrência, e quando sai o resultado anual os pagamentos crescem. Para ter um rendimento mensal, ele sugere que o investidor faça uma composição com várias empresas e monte um planejamento mensal. “Mas é tarefa difícil pensar em mês, o ideal é receber o dividendo, colocar em renda fixa de curto praz e ir usando ao longo do tempo”, diz Santoro.
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Dividendo médio
O dividend yield médio no Brasil está em torno de 6% ao ano, mas várias empresas pagam mais que isso, afirma Santoro. E, na maioria dos casos, o lucro cresce mais que a inflação. Ele estima que os pagamentos de dividendos no próximo ano tragam um rendimento médio de 6,5%, depois de bater mais de 7% neste ano por conta da antecipação das distribuições feita por empresas para evitar a tributação de 10% sobre dividendos que ultrapassarem R$ 50 mil por mês e que começa a valer no ano que vem.
Além do ganho com dividendos, analistas lembram que as empresas que distribuem lucros com regularidade costumam ser companhias mais estabilizadas, maduras, com boa geração de caixa, menos endividadas e com baixa necessidade de investimentos. São, portanto, empresas mais seguras para o investidor ter em sua carteira. Mas não há garantia de que os valores distribuídos se manterão constantes, podendo variar de acordo com o desempenho das companhias.
Bruna Sene, analista de Renda Variável da Rico Investimentos, cita alguns pontos positivos das boas pagadoras de dividendos. A primeira é a disciplina e qualidade, pois empresas que pagam dividendos de forma consistente geralmente têm negócios mais maduros, com caixa previsível, menor endividamento, o que ajuda a reduzir “surpresas” na carteira. Além disso, para quem reinveste dividendos em ações da própria empresa, existe um efeito de juros compostos ao longo do tempo, que pode ser muito relevante.
Há também um potencial de ganho com a valorização da ação, que somado aos dividendos representa o retorno total do investimento e pode multiplicar ou reduzir o ganho com os lucros. Esse ganho com a ação pode melhorar com a virada do ciclo de juros, observa Bruna. Se o mercado começar a precificar queda de juros, como é o momento atual, ações “de qualidade” e com bom potencial de dividendos podem se beneficiar tanto do fluxo de novos investimentos quanto da reprecificação das ações pelo juro mais baixo.
Mas ela lembra que dividendos em ações não são “cupom garantido” como na renda fixa: há volatilidade e o pagamento pode variar. Por isso, a estratégia é mais indicada para quem tem horizonte mais longo, aceita oscilação e quer combinar renda com potencial de valorização da ação.
Nova tributação
O investidor tem de ficar atento também a essa nova tributação, que estabelece o pagamento caso o valor recebido em dividendos ultrapasse R$ 50 mil por mês e que vai incidir sobre os lucros obtidos a partir do ano que vem. Já os lucros apurados até 31 de dezembro de 2025 poderão ser pagos até 2028, sem imposto. Por isso, muitas empresas correram ampliar a distribuição neste ano, considerando também os lucros retidos e as reservas de lucros. Nos cálculos da XP Investimentos, os valores adicionais a serem anunciados neste fim de ano podem ficar entre R$ 42 bilhões e R$ 85 bilhões.
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Nos casos em que o valor dos dividendos ultrapasse os R$ 50 mil, a empresa deverá reter o equivalente ao imposto de 10% até a declaração de ajuste anual do acionista. Se ele tiver pago mais de 10% de imposto no ano, considerando outros ganhos tributáveis, não haverá cobrança sobre os dividendos. Se o imposto pago for inferior a 10%, haverá a cobrança sobre os dividendos. Não entram no cálculo os investimentos isentos de imposto, como LCI, LCA, CRIs, CRAs e fundos imobiliários.
Fundos imobiliários
Falando em fundos imobiliários, eles são outra forma de garantir um ganho mensal em dividendos. Segundo Marcos Baroni, head de Fundos Imobiliários da Suno Research, o retorno médio em dividendos dos fundos que compõem o índice do setor, o IFIX, varia entre 10% e 12% ao ano, o que dá um pagamento médio mensal entre 0,8% e 1,0%.
Além disso, o investidor deve ficar atento ao retorno total, que inclui a variação das cotas do fundo. Baroni estima que os fundos imobiliários de tijolo, ou seja, que investem em imóveis, estariam com um dividend yield de 9% ao ano, enquanto os que investem em títulos do setor, como CRIs, pagariam cerca de 12% ao ano.
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