O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi um soldado de Eduardo Cunha quando este estava no mesmo cargo e infernizava o governo Dilma Rousseff. Para criar problemas ao presidente Lula agora, recorre aos ensinamentos do mentor.
Cunha também armou uma “pauta-bomba” para Dilma, a exemplo do que Motta acaba de fazer com Lula. O petista vetou a lei de ampliação do número de deputados e Motta deu o troco em seguida. Comandou a aprovação plenária, a toque de caixa, de um projeto que tira 30 bilhões de reais do Fundo Social do pré-sal, gerido pelo governo, e destina a quantia à rolagem de dívidas rurais.
Outro combustível é a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que restabeleceu os principais pontos do decreto governamental sobre o aumento do IOF.
Motta tinha interesse direto na lei do número de deputados. Em 2023, o Supremo decidiu que a quantidade de cadeiras na Câmara deveria ser recalculada com base nos dados populacionais do último censo do IBGE. O ajuste reduziria o número de parlamentares de sete estados, entre eles a Paraíba, terra de Motta, e o Rio de Janeiro, berço da família Cunha. Para evitar perdas, Motta apoiou uma solução que aumentava o total de vagas na Câmara, favorecendo ambos os estados. A proposta levada ao plenário em 25 de junho foi apresentada pela deputada Dani Cunha (União Brasil-RJ), filha de Eduardo Cunha.
Eduardo Cunha presidiu a Câmara entre fevereiro de 2015 e maio de 2016 e caiu poucos dias depois de seus comandados aprovarem a abertura do processo de impeachment de Dilma. Enquanto esteve no cargo, o hoje deputado cassado travou uma guerra aberta contra a petista, pressionando-a a interferir na Operação Lava Jato, que ameaçava seu mandato e o de muitos aliados.
Para estrangular o governo, Cunha acelerou projetos que impunham gastos ao governo. Por exemplo: estender às aposentadorias do INSS os reajustes dados ao salário mínimo, atrelar o salário dos advogados públicos da União aos vencimentos dos togados do Supremo e elevar em 59% a remuneração no Judiciário.
A cabeça de Cunha estava a prêmio naquele momento, em decorrência da Lava Jato. Ele havia sido acusado de cobrar propina em troca da facilitação de contratos de empresas com a Petrobras.
Outra jogada dele para tentar sobreviver às acusações foi criar uma CPI da Petrobras no início de 2015, tão logo havia assumido o leme na Câmara. Ele escalou um jovem deputado de apenas 26 anos para presidir a comissão: Hugo Motta. Este estava no segundo mandato e havia se tornado um fiel de Cunha.
A manobra foi um tiro no pé. O que levou à cassação do então presidente da Câmara pelos colegas em setembro de 2016 foi o fato ter mentido na CPI da Petrobras em maio de 2015. Em depoimento à comissão, negou ter dinheiro escondido no exterior – e ele tinha.
Em seus últimos dias de poder, Cunha ainda tentou emplacar Motta na liderança do PMDB, então o partido de ambos, para conter sua própria queda. Mas a articulação fracassou: o escolhido foi Leonardo Picciani (RJ), contrário ao impeachment, e, mais tarde, Baleia Rossi (SP), hoje presidente do MDB.
Hoje, Cunha e Motta dividem a mesma legenda, o Republicanos.