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o apelo de senadores dos EUA a Trump contra o tarifaço ao Brasil – CartaCapital


Senadores norte-americanos do Partido Democrata enviaram ao presidente Donald Trump, nesta sexta-feira 25, uma carta na qual apelam contra o tarifaço de 50% anunciado pela Casa Branca sobre as importações de produtos brasileiros. Trata-se, de acordo com eles, de um “claro abuso de poder” que provocará sofrimento no país. A promessa do governo dos Estados Unidos é que a taxa entrará em vigor na próxima sexta-feira 1º.

Encabeçam a solicitação Jeanne Shaheen, do Comitê de Relações Exteriores do Senado, e Tim Kaine, do Subcomitê de Relações Exteriores do Senado para o Hemisfério Ocidental.

O grupo critica a tentativa de Trump de se intrometer no processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que irá a julgamento no Supremo Tribunal Federal por liderar a tentativa de golpe de Estado em 2022.

“Interferir no sistema jurídico de outra nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação”, sustentam os congressistas. “Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em nome de um amigo é um grave abuso de poder, mina a influência dos EUA no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região.”

Os senadores destacam que os Estados Unidos acumulam superávit na balança comercial com o Brasil desde 2008. Além disso, prosseguem, o tarifaço elevaria os custos para famílias e empresas norte-americanas.

“Os americanos importam mais de 40 bilhões de dólares anualmente do Brasil, incluindo quase 2 bilhões de dólares em café. O comércio entre os EUA e o Brasil sustenta quase 130.000 empregos nos Estados Unidos, que estão em risco devido às ameaças de tarifas elevadas.”

Uma eventual sequência de retaliações de lado a lado, advertiram, fará com que os exportadores americanos sofram e as taxas sobre importações ultrapassem os 50% já anunciados.

O documento também expõe preocupações geopolíticas, sob o argumento de que a guerra comercial deflagrada por Trump aproximará o Brasil da China. “Empresas estatais chinesas e ligadas ao Estado estão investindo pesadamente no Brasil, incluindo diversos projetos portuários em andamento, e recentemente o China State Railway Group firmou um Memorando de Entendimento para estudar um projeto ferroviário transcontinental.”

Eles afirmam que os principais objetivos dos Estados Unidos na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da China.

Leia a carta na íntegra:

“Prezado presidente Trump:

Escrevemos para expressar preocupações significativas sobre o claro abuso de poder inerente à sua recente ameaça de iniciar uma guerra comercial com o Brasil. Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça tarifária do seu governo claramente não se dirige a isso. Tampouco se trata de um déficit comercial bilateral, visto que os EUA tiveram um superávit comercial de 7,4 bilhões de dólares com o Brasil em 2024 e não registram déficit comercial com o Brasil desde 2007.

Em vez disso – como o senhor afirma explicitamente em sua carta ao presidente Lula da Silva – a ameaça de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil e a ordem do Representante Comercial dos EUA para iniciar uma investigação nos termos da Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 têm como objetivo principal forçar o sistema judicial independente do Brasil a interromper o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Interferir no sistema jurídico de outra nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação.

O sr. Bolsonaro é um cidadão brasileiro que está sendo processado em tribunais brasileiros por supostas ações sob sua jurisdição. Ele é acusado de trabalhar para minar os resultados de uma eleição democrática no Brasil e de planejar um golpe de Estado. Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses procedimentos em nome de um amigo é um grave abuso de poder, mina a influência dos Estados Unidos no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região. O anúncio do seu governo, em 18 de julho de 2025, de sanções de visto contra funcionários do Judiciário brasileiro que trabalham no caso do sr. Bolsonaro indica – mais uma vez – a disposição do seu governo em priorizar sua agenda pessoal em detrimento dos interesses do povo americano.

Suas ações aumentariam os custos para famílias e empresas americanas. Os americanos importam mais de 40 bilhões de dólares anualmente do Brasil, incluindo quase 2 bilhões de dólares em café. O comércio entre os EUA e o Brasil sustenta quase 130.000 empregos nos Estados Unidos, que estão em risco devido às ameaças de tarifas elevadas. O Brasil também prometeu retaliar, e vocês, preventivamente, prometeram retaliar na mesma moeda – o que significa que os exportadores americanos sofrerão e os impostos sobre importações para os americanos subirão além do nível ameaçado de 50%.

Uma guerra comercial com o Brasil também contribuirá para aproximar o Brasil da República Popular da China (RPC), em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência da RPC na América Latina. Empresas estatais chinesas e ligadas ao Estado estão investindo pesadamente no Brasil, incluindo diversos projetos portuários em andamento, e recentemente o China State Railway Group firmou um Memorando de Entendimento para estudar um projeto ferroviário transcontinental.

Essas considerações não são exclusivas do Brasil. Em toda a América Latina, a RPC trabalha para aumentar sua influência por meio da Iniciativa Cinturão e Rota. Estamos preocupados que suas ações para minar um sistema judicial independente apenas aumentem o ceticismo em relação à influência americana em toda a região e forneçam às autoridades da RPC e às empresas apoiadas pelo Estado maior credibilidade para sua agenda. A mesma tendência também está ocorrendo no Leste e no Sudeste Asiáticos.

Os objetivos primordiais dos EUA na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas mutuamente benéficas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da RPC. Instamos vocês a reconsiderarem suas ações e priorizarem os interesses econômicos dos americanos que desejam previsibilidade, e não mais uma guerra comercial”.

Assinam a carta os senadores:

  • Tim Kaine
  • Jeanne Shaheen
  • Adam B. Schiff
  • Richard J. Durbin
  • Peter Welch
  • Kirsten Gillibrand
  • Mark R. Warner
  • Catherine Cortez Masto
  • Michael F. Bennet
  • Jacky Rosen
  • Raphael Warnock



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