O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta sexta-feira 1º que os bolsonaristas que atuam junto ao governo dos Estados Unidos em busca de sanções contra a Corte e o próprio País fazem parte de uma “organização criminosa miliciana” que age de forma “covarde e traiçoeira”.
Na sessão que marcou a abertura dos trabalhos do Supremo no segundo semestre do ano, Moraes deu as primeiras declarações públicas depois que a administração de Donald Trump impôs contra ele a chamada Lei Magnitsky. O ministro garantiu que não vai se intimidar, e disse que seguirá trabalhando nas ações relativas à tentativa de golpe de Estado.
O ministro disse que, mesmo com o avanço das investigações, há bolsonaristas que dobram as apostas e reiteram ameaças nas redes sociais. Ele garante, porém, que a pressão não faz efeito.
“Ao fazerem as postagens, dizem ‘ainda há tempo caso você aceite a coação’. Acham que estão lidando com a laia deles. Acham que estão lidando, também, com milicianos. Mas não estão. Estão lidando com ministros da Suprema Corte brasileira”, bradou.
Sem citar nomes, mas deixando claro sobre quem falava, Moraes citou a atuação de agentes como o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do jornalista Paulo Figueiredo nos EUA: “Não tiveram coragem de continuar no território nacional”, afirmou.
Para o ministro, o apelo dos bolsonaristas ao governo Trump para tentar frear a atuação do judiciário no Brasil é comparável à tática adotada após as eleições de 2022, quando os acampamentos nos quartéis e os ataques de 8 de Janeiro de 2023 foram usados para gerar instabilidade e pavimentar o caminho para um golpe.
“O modus operandi é o mesmo: incentivo a taxações ao Brasil; incentivo a crise econômica, que gera crise social, que por sua vez gera crise política, para que mais uma vez haja instabilidade social e a possibilidade de um novo ataque golpista”, afirmou.
Moraes destacou que não é o único alvo das ameaças de bolsonaristas. Outros ministros da Corte e os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara, Hugo Motta, (Republicanos-PB) também estão na mira das chantagens.
“Essas tentativas de obstrução à Justiça, realizadas por brasileiros, supostamente patriotas, a favor de interesses estrangeiros, têm uma única finalidade: tentar substituir o devido processo legal por um tirânico arquivamento para beneficiar determinadas pessoas que se acham acima da Constituição, da Lei e das instituições”, prosseguiu.
Apoio de Barroso e Gilmar
Alvo preferencial da fúria da extrema-direita, Moraes recebeu apoio declarado do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e do decano da Corte, Gilmar Mendes. A sessão de abertura dos trabalhos no segundo semestre foi um espaço para resposta à escalada das agressões nas últimas semanas.
Barroso citou o ’empenho’ e a ‘bravura’ de Moraes na condução dos processos da tentativa de golpe, e disse que “nem todos compreendem os riscos que o País correu e a importância de uma atuação firme e rigorosa, mas sempre dentro do devido processo legal”.
“Foi necessário um tribunal independente e atual para evitar o colapso das instituições, como ocorreu em vários países do mundo, do Leste Europeu à América Latina”, completou o presidente do Supremo.
Os ministros Barroso e Gilmar Mendes fizeram a defesa de Moraes na abertura dos trabalhos do 2º semestre de 2025 do STF.
Foto: Antonio Augusto/STF
Ministro mais antigo na casa, Gilmar afirmou que Moraes “tem prestado serviço fundamental ao Estado brasileiro, demonstrando prudência e assertividade na condução dos procedimentos instaurados para defesa da democracia”.
Gilmar também foi duro nas críticas diretas aos bolsonaristas, afirmando que os ataques à soberania brasileira são estimulados por “radicais inconformados com a derrota de seu grupo político nas últimas eleições presidenciais”. As falas incisivas foram contra Eduardo Bolsonaro, “um deputado que, na linha de frente do entreguismo, fugiu do país para covardemente para difundir aleivosias [deslealdades] contra o Supremo Tribunal Federal, num verdadeiro ato de lesa-pátria“.