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O cenário mundial no momento e o futuro do Brasil em um dia


Acompanhe as análises e as previsões de quatro protagonistas da política, da economia e da vida brasileira diante do mundo atual durante o Money Week 2025

 

O maior evento de investimentos, finanças e empreendedorismo do Brasil foi realizado na última sexta-feira, no Expocentro, em Balneário Camboriú. Promovido pela EQI investimentos, o Money Week 2025 contou com presença de mais de 4 mil pessoas.
Durante todo o dia, o tema principal girou em torno de como o Brasil pode enfrentar e sair da atual correnteza gerada em maior força pelos Estados Unidos e a China. O evento contou com a participação destacada do ex presidente do Brasil Michel Temer, do chairman do BTG Pactual André Esteves, do jornalista Willian Waack e do ex ministro da economia Paulo Guedes. A seguir as principais análises e previsões apontadas por eles:

 

MICHEL TEMER

 

 

 

O presidente do Brasil, entre os anos 2016-2018, Michel Temer foi o destaque do primeiro painel na parte da manhã. No seu depoimento, conduzido pelo CEO da EQI Asset, Ettore Marchetti, explorou os rumos do Brasil no cenário econômico e institucional.

Temer fez também um diagnóstico do cenário político nacional e internacional, alertando para o que classificou como “distanciamento do multilateralismo”.

Segundo ele, o diálogo entre países e a preservação das relações institucionais estão sendo substituídos por ataques verbais e radicalizações. “Hoje tem distanciamento do multilateralismo, muitas vezes com palavras agressivas das instituições contra dirigentes de
outros países, e isso não é bom”, alertou. “A relação não é de Donald Trump com Lula. São relações institucionais.”

Para Temer, o caminho para o Brasil solucionar a questão das tarifas comerciais impostas por Trump necessariamente passa pelo diálogo.
“O que eu faria se fosse presidente? Eu não faria agora, eu teria começado lá atrás. O momento presente é complicado, mas é fruto de um processo que se iniciou lá atrás, pela falta de diálogo”.

Sobre sua experiência à frente do Planalto, o presidente relembrou as dificuldades enfrentadas e as decisões impopulares que, segundo ele, eram necessárias. “Quando eu cheguei ao governo, percebi que economia não se resolve em passe de mágica. Para ajustar a economia, você tem que tomar uma série de medidas, dentre as quais o teto de gastos”, afirmou, comentando uma das maiores dificuldades do governo atual, que é controlar os gastos.

Temer lembrou do conselho que recebeu, à época, do publicitário Nizan Guanaes: “Aproveite sua impopularidade e faça o que o Brasil precisa”.

 

ANDRÉ ESTEVES

 

O primeiro grande painel da parte da tarde foi com o chairman do BTG Pactual, André Esteves, que dividiu o palco com o CEO da EQI Investimentos Juliano Custódio. Ele falou sobre os “Setores, Movimentos e Oportunidades reais: o que só os grandes players estão vendo”.

“Uma carteira saudável é aquela que se beneficia desse juro enorme que o Brasil vive e equilibra isso com boas ações”, afirmou Esteves. Mostrou logo que foge da diversificação e que prefere investir de forma concentrada. “Eu não acredito em carteira com 50 ações. Eu sou um investidor concentrado em coisas que eu acredito. Além disso, a carteira tem que ter oportunidades de growth, que pode ser fundo imobiliário ou private equity, por exemplo.

André Esteves ainda deu conselhos claros sobre como navegar no mercado em momentos de incerteza: fugir de modismos, evitar ações especulativas e manter o foco em empresas sólidas com histórico, gestão e resultados consistentes. “Está difícil bater o CDI, até para o dólar. Mas empresas como o BTG, Itaú, Petrobras, Vale, são companhias com resultados, com gente e com história. São apostas mais seguras do que entrar em meme stocks ou modas passageiras.”

Ele também comentou a tentativa dos Estados Unidos de resgatar sua indústria por meio de incentivos e mudanças na política comercial. Fez duras críticas à linha adotada pela Casa Branca. “Os EUA têm déficit comercial há 50 anos e foram, de longe, o país mais bem-sucedido durante esse período. Acho que é um caminho errado que, no final, vai ser prejudicial aos próprios EUA.”

Para ele, o Brasil não deve seguir esse modelo protecionista. “O Brasil deve fugir desse caminho. Temos que manter relações com todo mundo e investir naquilo que sabemos fazer bem. Eu acredito muito mais em investir na nossa música do que no chip, que não vamos fazer nunca melhor que os outros.”

No encerramento desse painel, André Esteve e Juliano Custódio celebraram os 5 anos da parceria entre BTG e EQI, relação que, segundo ambos os executivos, foi fundamental para a expansão do acesso a investimentos de qualidade. “Esta sociedade é fundamental para o desenvolvimento do nosso negócio”, disse Esteves. “O que antes era restrito a contas muito altas e a fundos soberanos, hoje pode chegar à base de investidores, com o mesmo nível de excelência.” completou.

 

WILLIAM WAACK

 

O atual choque entre as potências — Estados Unidos e China — e o papel do Brasil no meio do fogo cruzado, foi o tema desenvolvido pelo jornalista e analista internacional William Waack durante o Money Week 2025. Ele trouxe uma perspectiva profunda sobre o cenário internacional, em conversa com Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset.

O cenário atual foi descrito por ele como inédito e potencialmente decisivo para as próximas décadas, uma espécie de “Guerra Fria 2.0”. O seu diagnóstico partiu da constatação de que a globalização, como a conhecemos até aqui, está dando lugar a decisões cada vez mais guiadas por interesses políticos e estratégicos, e não mais por uma lógica puramente econômica. O reflexo disso aparece nas tensões comerciais, nas disputas por hegemonia e no desmantelamento de cadeias produtivas globais.

Segundo Waack, o grande paradoxo da nova desordem mundial está justamente no papel dos Estados Unidos. O país que construiu e liderou a ordem liberal baseada em valores como democracia, livre mercado e direitos humanos, tornou-se agora o principal agente de sua desconstrução. “O mundo em que estamos vivendo hoje dá razão aos historiadores que afirmam que não há racionalidade econômica.
Não é isso que está em jogo. O que está em jogo é a manutenção do poder.”, disse

Com a ascensão da China ao papel de potência revisionista, o tabuleiro geopolítico global se reconfigura. Pequim desafia a liderança americana e oferece a outros países, como o Brasil, a oportunidade de tomar partido. “A China acredita que o mundo liderado pelos EUA está em decadência. Ela está disposta a competir em todos os campos.
Mas ao fazer isso, também nos obriga a uma escolha difícil: de que lado estamos?”, questionou Waack.

A posição do Brasil é especialmente delicada. Como país continental, com escassa capacidade de projeção de poder e distante de grandes conflitos religiosos, étnicos ou militares, o Brasil vive uma posição relativamente confortável, mas também vulnerável. “Se por um lado estamos longe das zonas de conflito, por outro temos dificuldade em entender o impacto que essas disputas globais têm sobre nós.”

O maior risco, segundo Waack, não está nas tarifas comerciais em si, como o recente tarifaço imposto pelos EUA a produtos brasileiros, mas no simbolismo político dessas medidas. “O maior problema do tarifaço contra o Brasil não é a medida em si, mas o fato político que ela revela: o governo americano não vê o atual governo do Brasil como democrático. Essa percepção é grave, complexa e, até o momento, segue sem resposta.”

A estratégia americana diante da ascensão chinesa tem pressionado países como o Brasil a uma espécie de “escolha de Sofia”. A cada passo, o país é compelido a demonstrar lealdade a uma das potências — o que, em qualquer cenário, acarreta perdas.

“Estamos sendo forçados a escolher um lado, quando o melhor caminho para nós seria manter relações equilibradas com ambos. O Brasil não pode permitir que um lado interprete nossa postura como uma escolha contra ele”, alertou Waack.

Ele também destacou os impactos dessa lógica geopolítica na economia global. Segundo Waack, “essa dinâmica pode comprometer a produtividade mundial, especialmente se os Estados Unidos decidirem trazer as cadeias de produção para dentro de suas fronteiras por questões de soberania nacional. Se isso ocorrer, a produtividade cairá e, consequentemente, a inflação aumentará.”

Além disso, ele acrescentou que, “diante desse cenário, os bancos centrais elevarão os juros, levando a um ciclo de juros globais mais altos e prolongados. Nesse ambiente novo e incerto, o prêmio pelo risco deverá ser maior .

Diante de tantas incertezas, Waack sugere um exercício quase terapêutico: documentar o momento histórico que estamos vivendo.

“Escrevam um diário. Vamos precisar lembrar dessa fase. Estamos vivendo um momento que não volta mais, assim como foram os anos
1930. Estamos realmente em uma fase histórica que vamos precisar lembrar sempre na nossa cabeça”.

 

 

PAULO GUEDES

O ex-ministro da Economia Paulo Guedes fez o encerramento do Money Week 2025. Ele apresentou a sua visão sobre a “nova ordem mundial” e o esgotamento dos modelos econômicos e políticos vigentes nas últimas oito décadas.

“Vou tentar explicar o que, à primeira vista, parece uma confusão”, disse Guedes logo no início do painel. “O que parece caos é, na verdade, o movimento de placas tectônicas. Há uma engrenagem econômica por trás da estrutura da sociedade.”

O painel traçou um amplo panorama que começou com a ascensão das democracias liberais no pós-Segunda Guerra Mundial.
Segundo Guedes, o mundo prosperou sob a combinação de democracia política e liberalismo econômico, liderado pelos EUA com o Plano Marshall e a reconstrução de nações derrotadas como Alemanha, Japão e Itália.

“O Ocidente acreditou na fórmula mágica: democracia e mercados. E funcionou”, afirmou. “Países devastados pela guerra se tornaram potências ao apostar no setor privado e no comércio internacional.”

Mas, para Guedes, esse modelo atingiu seu limite. Segundo ele, o liberalismo permitia a mobilidade: das pessoas, dos capitais, das ideias. Mas, agora, o mundo virou um campo de batalha por influência e segurança, com a crescente rejeição à imigração como um dos sintomas da crise das democracias liberais.

“O ser humano busca melhores condições. Antes, os incomodados se mudavam. Agora, não há mais para onde ir. O mundo aberto acabou. Os conservadores subiram ao banco da frente e os liberais foram para o banco de trás. A geopolítica tomou o volante.”

Na visão do ex-ministro, a globalização, que durante décadas elevou padrões de vida em diversos países, gerou também desequilíbrios que se tornaram politicamente insustentáveis. “Salários subiram no Oriente e estagnaram no Ocidente. O Ocidente apertou o botão de sobrevivência”, disse, referindo-se ao avanço de forças conservadoras em democracias centrais como Alemanha, Polônia, Hungria e os Estados Unidos.

A explosão das tensões migratórias na Europa, a guerra na Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio são, segundo ele, manifestações de uma disputa maior por protagonismo em um mundo que deixou de ser regido pela lógica multilateral. “A Pax Americana acabou. Cada país vai cuidar de si. A globalização chegou ao auge. Agora, a regra é: quem tem força, manda.”

Guedes argumentou que a economia está perdendo espaço nas decisões globais e exemplo disso é a tarifa de importação imposta pelo presidente Donald Trump sobre os produtos brasileiros. “A tarifa é geopolítica. Só 10% é economia. Os outros 40% é tarifa geopolítica. E
é um sinal sério”.

O ex-ministro enfatizou que a diplomacia e o respeito serão fundamentais para o país neste momento. “Respeito é fundamental. Aqui e lá fora. Quem não respeitar, será desrespeitado”, enfatizou. “A Europa sentou para conversar e baixou a tarifa. Aqui, era só ficar quieto que pegava 10%”, apontou.



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