Início FINANÇAS cúpula com Trump é uma grande vitória para Putin

cúpula com Trump é uma grande vitória para Putin


O presidente Donald Trump passou a semana preparando o terreno para sua cúpula de alto risco com a Rússia, marcada para sexta-feira (15) no Alasca, com expectativas muito baixas. Poucos acreditam que ele consiga avanços significativos para interromper os combates entre Rússia e Ucrânia, dado o enorme distanciamento entre as posições dos dois países.

No entanto, esses dois países em conflito parecem concordar em pelo menos um ponto: simplesmente se reunir com Trump já representa uma grande vitória para o presidente Vladimir Putin. O encontro tira o líder russo do isolamento diplomático e lhe dá a oportunidade de persuadir o presidente americano cara a cara.

“A visita de Putin aos EUA significa o colapso total do conceito de isolar a Rússia. Colapso total”, comemorou a televisão controlada pelo Kremlin após o anúncio da cúpula, organizada às pressas no último fim de semana.

Leve seu negócio para o próximo nível com auxílio dos principais empreendedores do país!

Para a Rússia, “isso é um avanço, mesmo que não concordem em muita coisa”, afirmou Sergei Mikheyev, cientista político russo pró-guerra e figura constante na TV estatal.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, excluído das negociações no Alasca sobre o futuro de seu país, chegou à mesma conclusão, dizendo a repórteres na terça-feira: “Putin vai vencer nisso. Porque ele está buscando, desculpe, fotos. Ele precisa de uma foto do encontro com o presidente Trump.”

Mas o encontro vai além de uma simples foto. Além de amenizar o status de pária da Rússia no Ocidente, a cúpula gerou divisões dentro da OTAN — um objetivo constante da Rússia — e adiou a ameaça de Trump de impor novas sanções duras. Há pouco mais de duas semanas, Trump prometeu que, se Putin não concordasse com um cessar-fogo até a última sexta-feira, ele puniria Moscou e países como China e Índia que ajudam a Rússia comprando seu petróleo e gás.

Continua depois da publicidade

Os líderes europeus ficaram surpresos com a decisão de Trump de realizar uma reunião com Putin sobre a Ucrânia que excluiu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Crédito… Haiyun Jiang/The New York Times

O prazo passou sem interrupção da guerra — que, na verdade, se intensificou com a ofensiva russa de verão — e sem novas penalidades econômicas contra a Rússia.

“Em vez de ser atingido por sanções, Putin conseguiu uma cúpula”, disse Ryhor Nizhnikau, especialista em Rússia e pesquisador sênior do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais. “Essa é uma vitória enorme para Putin, independentemente do resultado da cúpula.”

Antes do encontro no Alasca, apenas dois líderes ocidentais — os primeiros-ministros da pequena Eslováquia e da Hungria — haviam se reunido com Putin desde que ele ordenou a invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022 e foi alvo de um mandado internacional de prisão por crimes de guerra em março de 2023.

Continua depois da publicidade

Muitos na Europa ficaram perplexos com a decisão de Trump de realizar uma cúpula sobre a Ucrânia que excluía Zelensky, e os líderes europeus pressionaram o presidente para que não fechasse um acordo às costas da Ucrânia.

Trump tentou acalmar esses receios em uma videochamada com líderes europeus, incluindo Zelensky, na quarta-feira. Os europeus disseram ter alinhado uma estratégia com Trump para o encontro com Putin, incluindo a exigência de que qualquer plano de paz comece com um cessar-fogo e não seja negociado sem a Ucrânia na mesa.

Um acordo de paz para a Ucrânia não é o verdadeiro objetivo de Putin na cúpula, disse Tatiana Stanovaya, pesquisadora sênior do Carnegie Russia Eurasia Center. “O objetivo dele é garantir o apoio de Trump para avançar as propostas russas.”

Continua depois da publicidade

Bombeiros e equipes de resgate ucranianos no local de um bombardeio russo na região de Kharkiv, Ucrânia, em julho. Crédito… David Guttenfelder/The New York Times

Para Putin, afirmou ela, o encontro é uma “manobra tática para virar a situação a seu favor” e acalmar a crescente irritação da Casa Branca com a demora do Kremlin em aceitar um cessar-fogo.

Na véspera da cúpula, na quinta-feira, o Kremlin indicou que pretende incluir outros temas além da Ucrânia nas negociações, como a possível restauração das relações econômicas com os EUA e discussões sobre um novo acordo de armas nucleares. A ideia das armas faz parte dos esforços russos de longa data para enquadrar a guerra na Ucrânia como parte de um conflito maior entre Oriente e Ocidente.

Trump chamou o encontro com Putin de um “encontro para sentir o terreno”, do qual ele se afastará rapidamente se um acordo de paz parecer improvável.

Continua depois da publicidade

Nem a Casa Branca nem o Kremlin declararam publicamente que tipo de acordo de paz buscam. Mas Trump disse que poderia envolver “alguma troca de territórios”, algo que ele acredita estar bem preparado para negociar, como ex-desenvolvedor imobiliário de Nova York.

Zelensky rejeitou qualquer troca de terras, afirmando que não tem autoridade, segundo a Constituição ucraniana, para negociar partes do país. Aceitar isso provavelmente desencadearia uma grave crise política em Kiev e avançaria um dos objetivos antigos de Putin: derrubar Zelensky.

Trump repreendeu Zelensky na Casa Branca, em fevereiro, por travar uma guerra defensiva e por demonstrar, segundo ele, gratidão insuficiente pela ajuda dos EUA. Crédito… Doug Mills/The New York Times

A entrega das regiões orientais da Ucrânia também destruiria as esperanças de Trump de que os EUA possam um dia se beneficiar das reservas de minerais raros da Ucrânia, a maioria localizada em territórios que a Rússia reivindica como seus.

Continua depois da publicidade

“O pior cenário para a Ucrânia e, mais amplamente, é que Putin faça uma oferta aceitável para os EUA, mas que Zelensky não consiga aceitar internamente”, disse Samuel Charap, cientista político e coautor de um livro sobre Ucrânia e Eurásia pós-soviética.

Isso, acrescentou, poderia levar Trump a retomar a postura abertamente hostil que adotou em fevereiro. Na época, ele criticou Zelensky na Casa Branca por demonstrar pouca gratidão pela ajuda americana e por continuar uma guerra que, segundo ele, a Ucrânia não poderia vencer.

A Rússia também rejeitou recentemente a ideia de troca de territórios, na qual suas tropas se retirariam de parte das áreas conquistadas durante a guerra.

“Todo lugar onde um soldado russo pisou será, sem dúvida, mantido pela Rússia”, disse Kostantin Zatulin, influente parlamentar do partido de Putin, à televisão estatal esta semana. Isso, acrescentou, é a “linha vermelha” da Rússia.

O Kremlin não indicou que aceitaria algo menos do que reivindicar grande parte da Ucrânia, sem fazer concessões.

“Não temos dúvidas de que a postura russa permanece inalterada”, disse a ministra da Defesa da Lituânia, Dovile Sakaliene, em entrevista. Ela acrescentou: “eles não têm conceito de cessar-fogo, e qualquer concessão é vista como um incentivo para escalar o conflito.”

Putin, mestre veterano da manipulação, certamente trabalhará duro no Alasca para pintar Zelensky como um obstáculo intransigente à paz.

“Trump acha que pode olhar nos olhos de Putin e fechar um acordo. Ele acredita em seu próprio talento como negociador”, disse Nizhnikau, especialista finlandês em Rússia. “O problema é que Putin faz isso a vida toda e vai para essa cúpula com a ideia de manipular Trump.”

A última cúpula de Trump com seu homólogo russo, realizada em 2018 em Helsinque durante seu primeiro mandato, mostrou sua tendência a aceitar a versão da realidade de Putin. Na ocasião, ele disse não ver motivos para duvidar das negativas do presidente russo sobre interferência na eleição presidencial de 2016.

Neste ano, Trump sugeriu que a Ucrânia seria responsável pela invasão de seu próprio território e se recusou a acompanhar os tradicionais aliados ocidentais dos EUA na votação de uma resolução da ONU condenando a agressão russa. No domingo à noite, Zelensky expressou preocupação de que Trump possa ser facilmente “enganado”.

Trump respondeu irritado na segunda-feira à insistência de Zelensky de que não poderia ceder território. “Ele tem autorização para ir à guerra e matar todo mundo, mas precisa de autorização para fazer uma troca de terras?”, rebateu Trump. “Vai ter troca de terras, sim.”

Putin e Trump participam de uma reunião bilateral na cúpula do G20 em Osaka, Japão, em 2019. Crédito… Erin Schaff/The New York Times

Ainda assim, disse Charap, o cientista político, “Putin não pode contar com a vitória ainda.” Apesar do controle firme sobre o sistema político russo e os principais meios de comunicação, ele tem preocupações internas, especialmente sobre o tema territorial, caso a troca sugerida por Trump avance. “Território é um tema explosivo politicamente, especialmente para a Ucrânia, mas também para a Rússia.”

Após anos inflamando o nacionalismo na Rússia, Putin deu liberdade a uma subcultura barulhenta de blogueiros e comentaristas pró-guerra. Quando o apresentador de um programa semanal de notícias da TV estatal comemorou no domingo que o encontro no Alasca poderia significar o fim da chamada “operação militar especial” na Ucrânia, blogueiros nacionalistas reagiram com fúria.

Putin, reclamou um deles, “aparentemente decidiu jogar a toalha.”

c.2025 The New York Times Company



FONTE

Google search engine