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corte em lucro e dividendo e menor ROE desde 2016 – mas mercado já precificou?






A expectativa já era de números bem fracos, mas o segundo trimestre de 2025 (2T25) do Banco do Brasil (BBAS3) conseguiu decepcionar ainda mais o mercado?

Depois de diversas semanas de revisões para baixo e sucessivas sinalizações negativas, o Banco do Brasil reportou efetivamente resultados fracos no 2T25, com lucro líquido de R$ 3,8 bilhões, queda anual de 60%, abaixo do consenso já reduzido. Revisões do guidance e corte dos dividendos também complementaram o cenário negativo, ainda que já relativamente precificado pelo mercado.

Os números refletiram principalmente a piora da qualidade de crédito e o consequente aumento das provisões. O ROE (retorno sobre o patrimônio) recuou para 8,2% (-7,5 pontos percentuais, ou pp, na base trimestral; -12,8 pp ano a ano), o menor patamar desde 2016 e o mais baixo entre os grandes bancos incumbentes.

A XP Investimentos ressalta que, embora resultados fracos fossem antecipados, dados do Banco Central divulgados em maio sugeriam um trimestre ainda pior do que os cerca R$ 5 bilhões inicialmente esperados.

Nos últimos 10 dias, as expectativas dos investidores já haviam se ajustado para perto de R$ 4 bilhões em lucro e cerca de 10% de ROE. Com R$ 1,6 bilhão obtidos em junho (contra R$ 500 milhões em maio), o banco mostrou alguma recuperação, encerrando o trimestre próximo ao consenso recentemente atualizado.

“A inadimplência continuou sendo um grande peso, embora a gestão tenha adotado um tom mais otimista em vídeo divulgado junto aos resultados”, avaliam Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães, analistas da XP que assinam o relatório.

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Durante a teleconferência pós-resultados com analistas de mercado, foi destacado que no 2T25 a carteira de crédito agrícola foi a principal responsável pelas provisões, além de um aumento da inadimplência em PMEs (pequenas e médias empresas), especialmente em empréstimos renegociados e reestruturados. O CFO Giovanne Tobias, enfatizou que 2025 será um ano de ajuste nos resultados, com recuperação esperada a partir de 2026.

O banco está se tornando mais seletivo na carteira agrícola, reduzindo o guidance de crescimento para esse segmento, enquanto eleve as expectativas de crescimento no segmento de PF, especialmente em empréstimos consignados. Julho ainda foi pressionado, portanto não esperamos alívio maior nos números de inadimplência do 3T25.

Para lidar com isso, o banco está migrando garantias de hipotecas para alienação fiduciária. O guidance para receita de tarifas permanece estável apesar dos efeitos regulatórios, com foco em tarifas de estruturação em vez de tarifas de crédito. Por fim, espera-se algum consumo de capital no próximo ano devido a demandas regulatórias e de risco operacional.

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A Genial ressalta esses quatro pontos negativos do balanço: i) Inadimplência persistente no agronegócio, atingindo 3,49% (+0,45 pp t/t; +2,17 pp a/a), concentrada nas cadeias de soja e milho, sobretudo na região Centro-Oeste. Apesar de não haver quebra de safra relevante nos últimos anos, a queda acentuada dos preços e alavancagem dos clientes levou a um forte aumento nos atrasos e pedidos de recuperação judicial. Em segundo lugar, o aumento da inadimplência em PF e PMEs, ampliando o desafio para o banco.

Em terceiro lugar, o custo de crédito saltou 104% a/a e 57% t/t, atingindo R$ 15,9 bilhões, evidenciando a rapidez e magnitude da deterioração. O último ponto é a nova resolução 4.966, que exige reconhecimento das receitas de operações em estágio 3 pelo regime de caixa.

A casa de research ainda aponta que o Banco do Brasil registrou R$ 1,2 bilhão em despesas não recorrentes com a adesão ao Programa de Transação Tributária (PTI), relacionado à controvérsia sobre a incidência de contribuições previdenciárias sobre valores pagos a título de PLR. O efeito foi quase totalmente compensado por ganho de R$ 1,1 bilhão referente ao efeito tributário e de PLR sobre esses itens, resultando em impacto líquido de -R$ 72 milhões, sem relevância material sobre o lucro do trimestre.

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“Certamente um trimestre fraco, mas de certa forma esperado, e a nova projeção pode amenizar a pressão. Permanecemos cautelosos, buscando maior visibilidade sobre as tendências de piora da qualidade de crédito, mas não esperamos uma reação negativa significativa”, avaliou o Itaú BBA antes da abertura dos mercados.

O Bradesco BBI aponta que o banco reportou lucros abaixo das expectativas, impactados principalmente pelo aumento das provisões de crédito, refletindo uma piora nas taxas de inadimplência nos segmentos de agronegócio, pessoa física e jurídica.

“Os resultados poderiam ter sido piores não fosse o aumento das baixas contábeis durante o trimestre. Além disso, o banco revisou sua projeção para 2025, agora prevendo lucro líquido entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões, e sugerindo uma forte recuperação da Margem Financeira Bruta (MFB), enquanto as provisões são mantidas em níveis elevados”, avalia o banco.

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Em relação à inadimplência de curto prazo, o segmento de agronegócio apresentou piora na inadimplência de empréstimos (NPL) em 30 dias, passando de 4,1% para 5,5%, indicando que o terceiro trimestre provavelmente trará um custo de crédito igual ou superior aos níveis do segundo trimestre.

Os analistas, apesar de sua avaliação atrativa, mantêm a recomendação neutra, pois não observam nenhum sinal de melhora na perspectiva operacional do banco.

Revisões do guidance

O BB também revisou suas projeções. A nova faixa de lucro líquido projetada para 2025 foi ajustada para entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões, alinhada às expectativas do mercado. Considerando os R$ 11,2 bilhões obtidos no primeiro semestre, o ponto médio de R$ 23 bilhões indica que os lucros no segundo semestre deverão ficar entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões por trimestre, um ritmo superior ao do segundo trimestre e possivelmente menos negativo do que o esperado.

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Para o ano, o BB calcula expansão entre 3% e 6% na sua carteira de crédito, ante intervalo de crescimento de 5,5% e 9,5% estimado anteriormente.

A margem financeira bruta somou R$ 25,06 bilhões, declínio de 1,9% ano a ano, mas alta de 4,9% na comparação trimestral, com o banco citando crescimento de das receitas financeiras (+7,6% em operações de crédito e 13,9% em tesouraria), que mais do que compensou a elevação de 11,9% nas despesas financeiras.

Apesar do corte no guidance, o banco projeta que o 2S25 terá lucro ligeiramente superior ao 1S25, com desempenho no 3T25 semelhante ou ligeiramente melhor que o 2T25, e um 4T25 mais próximo do 1T25, ressalta a Genial.

Payout

O BB ainda reduziu o payout (percentual de dividendo distribuído em relação ao lucro) de 45% para 30%. Segundo a Genial, a medida é conservadora e voltada à preservação de capital, diante dos resultados fracos e consumo regulatório adicional estimado de 1 pp no índice de capital previsto para 2026. A expectativa é de retorno gradual ao patamar histórico de 40%-45% conforme os resultados se normalizem.

O payout implica um dividend yield (dividendo em relação ao preço da ação) de aproximadamente 6%. “Assumindo o ponto médio do guidance, o banco está sendo negociado a cerca de 4,8 vezes o P/L, acima da sua média histórica, sugerindo espaço para novas revisões para baixo. Reiteramos nosso rating de neutro”, afirma a XP.

Já o analista CNPI da Suno Research, Evandro Medeiros, apontou que seria provável que o mercado reagisse negativamente dada a drástica queda no lucro líquido e a perspectiva de dividendos módicos em 2025 frente ao observado nos últimos três anos. “Assumindo um lucro de R$ 20,4 bilhões e um payout de 30%, nos deparamos com um dividend yield de 5,4%”, ressaltou.



FONTE

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