Início NACIONAL Análise: Mensagens desmoralizam Bolsonaro – 20/08/2025 – Poder

Análise: Mensagens desmoralizam Bolsonaro – 20/08/2025 – Poder


Os diálogos de Jair Bolsonaro com o filho Eduardo e o pastor Silas Malafaia revelados pela Polícia Federal dificilmente terão grande impacto no julgamento do ex-presidente pela trama golpista no Supremo Tribunal Federal, uma vez que ali há muito tempo a sensação é de jogo jogado, com uma pesada condenação.

Nesse sentido, uma eventual prisão preventiva do ex-presidente em regime fechado apenas anteciparia uma consequência previsível.

O verdadeiro efeito da exposição das conversas é outro, e não menos importante para Bolsonaro: a sua desmoralização política e pessoal.

A leitura das mensagens é uma experiência que pode ser feita à luz freudiana de uma relação turbulenta entre pai e filho ou pela do controle psicológico exercido por um líder religioso sobre uma figura acuada. Em nenhuma das situações, Bolsonaro se sai bem.

O personagem durão e contestador do sistema sofre profundos arranhões em sua imagem. A frase “VTNC seu ingrato do caralho” de um explosivo Eduardo tem tudo para se tornar mais uma a grudar no ex-presidente como um dia foram “dei uma fraquejada” ou “e daí?, eu não coveiro”.

Malafaia, por sua vez, surge como um ator muito mais relevante do que se imaginava na estratégia do ataque ao Supremo, no que é uma das grandes revelações das mensagens. Fica claro que o pastor é muito mais do que um mero organizador de atos na avenida Paulista.

“As conversas indicam que Silas Malafaia atua diretamente na definição das ações planejadas pelo grupo investigado que tem por finalidade coagir autoridades judiciais da Suprema Corte (STF)”, resume o relatório.

Não por acaso, ele tem choques com Eduardo, como se os dois disputassem o espólio do líder em seu ocaso político.

É o pastor que insiste na tese de vincular de maneira mais direta o tarifaço de Donald Trump à anistia para Bolsonaro. “‘Tem que juntar a taxa com a questão da anistia. Ou juntar liberdade, justiça e anistia e a queda da taxa”, diz em uma das mensagens ao ex-presidente.

A preocupação é também com a forma. Fazendo as vezes de dublê de marqueteiro, pede a Bolsonaro que se manifeste não por texto, mas sempre por vídeo, pois é “só o que viraliza”. Dá ainda frequentes esporros no ex-presidente, em seu habitual estilo ácido, e não é contestado (ao menos nas mensagens reveladas).

A desmoralização de Bolsonaro se completa com a ênfase muito maior que é dada à anistia para si próprio, em detrimento do perdão para os presos do 8 de janeiro, tratados quase como uma nota de rodapé. E prossegue com o extraordinário documento em que ele pede asilo ao presidente da Argentina, Javier Milei, contrariando inúmeras declarações que deu de que jamais fugiria do país.

Tudo somado, Bolsonaro emerge como uma figura diminuída, com o projeto de se martirizar perante a opinião pública severamente abalado. Há impactos evidentes para o futuro daquilo que ainda se convenciona chamar de bolsonarismo.

Bolsonaro parece alguém que perde grande parte da condição política de influenciar a eleição de 2026, como já demonstram os governadores de centro-direita que colocam a cabeça para fora à revelia dele.

Os holofotes se voltam mais uma vez para Tarcísio de Freitas, alvo da fúria de Eduardo Bolsonaro e, ocasionalmente, de Malafaia também.

As agressivas mensagens do deputado federal direcionadas contra ele não permitem mais disfarçar o profundo racha ideológico da direita.

O governador de São Paulo, a partir de agora, terá de mais uma vez exercitar seus dotes de equilibrista para fazer acenos ao centro sem perder a chancela do ex-presidente, caso queira realmente se arriscar numa candidatura presidencial.

A tarefa, no entanto, ficou mais complicada, pois é difícil imaginar um Jair preso e enfraquecido dando a bênção à candidatura de Tarcísio contra a vontade do filho exilado.

Importam menos, nesse caso, os encontros do governador com a Faria Lima, os evangélicos ou os cantores bregas. Diante de tamanha confusão, o porto seguro da candidatura à reeleição se torna bastante tentador para o ocupante do Palácio dos Bandeirantes.



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