Em meio à forte volatilidade das ações de bancos na última semana por conta da Lei Magnitsky, Banco do Brasil (BBAS3) apareceu como um dos principais afetados negativamente, enquanto outros analistas passaram a ver um ativo do setor como possível “vencedor” relativo em meio à turbulência do setor.
Trata-se da ação do Santander Brasil (SANB11) – isso uma vez que a companhia é subsidiária de sua matriz espanhola e já havia algumas sinalizações sobre fechamento de capital meses atrás. Em junho, analistas da Genial destacaram que se encontraram com o CEO do Santander Brasil, Mario Leão, e disseram que o executivo não descartou a possibilidade de uma operação (OPA) para fechar o capital do banco.
Ou seja, a depender dos cenários para os bancos brasileiros, os acionistas do Santander Brasil passariam “mais ilesos” à turbulência.

Cabe ressaltar que, entre terça e sexta da semana passada, bancos listados na B3 perderam R$ 46 bilhões em 4 dias.
O movimento refletiu a decisão da segunda-feira do ministro do STF, Flávio Dino, de que leis e ordens judiciais estrangeiras não possuem validade imediata no Brasil, interpretação vista pelo mercado como uma referência indireta à Lei Magnitsky, aplicada recentemente contra o ministro Alexandre de Moraes. A sanção americana impede Moraes de manter contas e investimentos em instituições financeiras ligadas ao sistema dos EUA, e a decisão do Supremo gerou um impasse, conforme aponta a Genial Investimentos: enquanto Washington reforçou que nenhum tribunal estrangeiro pode anular suas sanções, os bancos brasileiros se veem no dilema entre cumprir a legislação doméstica ou respeitar regras internacionais com alcance extraterritorial.
Assim, o cenário intensificou a aversão a risco no mercado financeiro, ao expor o setor bancário a potenciais consequências relevantes.
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Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos, apontou na última semana que o Santander teria, no pior dos cenários, uma saída mais tranquila do Brasil.
“Enquanto os outros bancos têm sede aqui e uma participação lá fora, o Santander é um banco internacional que tem uma participação aqui. E, no pior dos cenários de todos, o Santander poderia, por exemplo, vender a operação dele no Brasil – e provavelmente venderia a um preço acima para quem fosse assumir uma operação tão grande. Assim, poderia vender para algum dos outros bancos que iriam tentar se consolidar, podendo sair com certa facilidade”, aponta o especialista.
Para Coelho, por ter essa saída mais tranquila do Brasil, as ações Santander são vistas nesse tipo de cenário como menos impactadas. “É diferente de um Itaú (ITUB4) ou Bradesco (BBDC4), por exemplo, que não conseguiriam com facilidade encerrar uma operação aqui e seguir com uma operação fora. Isso porque a operação deles [Itaú e Bradesco] é praticamente irrelevante fora comparado ao tamanho do negócio que já existe aqui”, avalia.
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“É diferente de outros bancos grandes que são os bancos sediados aqui, nascidos e construídos aqui ao longo das últimas décadas”, avaliou.
Um outro ponto ressaltado pela Genial Investimentos é de que Banco do Brasil, Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e BTG Pactual (BPAC11) possuem subsidiárias e escritórios nos EUA, o que os expõe diretamente à regulação americana em suas operações. O Santander Brasil, por sua vez, não tem operação própria nos EUA, avalia a casa de research. Ainda assim, por ser controlado pela matriz na Espanha, que possui operações relevantes no EUA, poderia ser afetado, pelo efeito cascata, o que reduziria sua autonomia em cenários de maior risco regulatório.
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Gustavo Moreira, planejador financeiro e especialista em investimentos, ao comparar diretamente com o Banco do Brasil, também vê o Santander com uma certa vantagem.
“Isso porque o Banco do Brasil é um banco estatal e, nesse momento, está muito mais exposto a questões políticas e regulatórias. Já o Santander, sendo privado, acaba sentindo menos esse tipo de interferência. Tanto que na terça-feira da semana passada, quando todos os bancos caíram, o Santander recuou cerca de 4,9%, enquanto o BB caiu quase 6%. Foi uma queda, claro, mas mostrou que o impacto nele foi um pouco menor”, aponta.
Porém, Moreira ressalta ser importante dizer que, se coloca o Santander lado a lado com outros bancos privados, como Itaú ou Bradesco, não vê uma diferença tão clara. “Todos esses grandes privados, por sua vez, acredito que estão no mesmo patamar de risco setorial. O que realmente destaca o Santander nesse momento é a comparação com o Banco do Brasil, justamente pela natureza estatal e pela pressão política que o BB carrega”, aponta.
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Assim, conclui, “o Santander pode ser visto como uma alternativa mais confortável que o BB nesse momento, mas não dá para afirmar com evidências claras que ele esteja mais protegido do que os outros bancos privados”.