Na visão da estrategista Aline Cardoso, do Santander, a bolsa brasileira “entrou claramente em território de ‘bull-market’”.
Em relatório enviado a clientes com data de domingo, ela destacou que, após a forte queda e o noticiário de 5 de dezembro de 2026, o Ibovespa já recuperou cerca de metade dos pontos que havia perdido naquele dia.
Naquela sexta-feira, o Ibovespa superou 165 mil pontos pela primeira vez na sua história no melhor momento, mas virou e fechou abaixo dos 158 mil, após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) se lançar candidato para a eleição presidencial em 2026.
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“Um dos sinais mais claros de um verdadeiro ‘bull market’ é quando surpresas negativas provocam apenas correções leves, pois os compradores entram rapidamente para aproveitar qualquer fraqueza dos preços”, afirmou Cardoso.
“Em períodos ‘bullish’, os investidores tendem a olhar além das manchetes negativas, o que limita as quedas e sustenta um ambiente favorável ao risco, mesmo quando as incertezas macroeconômicas ainda não foram totalmente resolvidas.”
A estrategista ressalta que a rotação setorial foi um tema claro na semana passada. Nos EUA, os investidores continuaram a reduzir exposição a empresas de tecnologia de alto crescimento e ligadas à IA, redirecionando capital para setores mais tradicionais e de valor. Esse movimento foi impulsionado por notícias ligadas a fundamentos: a líder em software corporativo Oracle divulgou uma perspectiva pessimista que reacendeu preocupações sobre uma possível “bolha da IA”. A ação caiu 10,8% na quinta-feira, 11 de dezembro (contra +0,2% do índice S&P 500) — sua maior queda em quase um ano — após a orientação trimestral de vendas ficar abaixo do esperado e a empresa sinalizar um aumento de US$ 15 bilhões em investimentos em nuvem e IA.
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Ao mesmo tempo, setores orientados para valor e cíclicos tiveram desempenho superior nos mercados globais na semana passada. “O Brasil, frequentemente visto como uma oportunidade de valor dentro dos mercados emergentes (EM), tende a se beneficiar dessa mudança na preferência dos investidores”, aponta.
Notícias macroeconômicas também impulsionaram grande parte da ação do mercado nesta semana, especialmente decisões dos bancos centrais dos EUA e do Brasil. A política do Federal Reserve (Fed) foi o centro das atenções: em 10 de dezembro, o Fed cortou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual (seu terceiro corte consecutivo), para a faixa de 3,50% a 3,75%, em uma votação “incomumente dividida” do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC). A comunicação do comitê foi interpretada como um pouco menos dovish (favorável a cortes) do que o esperado, mas não excessivamente restritiva. O mercado reagiu positivamente: os investidores ficaram aliviados ao ver que o Fed ainda prevê alguns cortes de juros em 2026, em vez de fechar completamente essa possibilidade.
No Brasil, o Banco Central (BCB) não trouxe surpresas, mas manteve um tom cauteloso. Em 10 de dezembro, o Copom manteve a taxa Selic em 15,0% pela quarta reunião consecutiva. A decisão foi unânime e amplamente esperada.
Segundo a equipe macro do Santander, o BC preservou sua postura restritiva, mas suavizou a linguagem sobre a política monetária e o mercado de trabalho, sinalizando que a principal questão agora é por quanto tempo as taxas devem permanecer nos níveis atuais.
O cenário inflacionário no Brasil também se tornou mais favorável: a projeção para o segundo trimestre de 2027 caiu para 3,2%, provavelmente sem ajustes no hiato do produto ou maior conservadorismo, apesar do recente aumento da incerteza. Um corte em janeiro ainda está em pauta, mas exigiria um cenário macroeconômico claramente melhor; março atualmente parece o cenário base mais confortável. Dito isso, o Relatório de Política Monetária de 18 de dezembro pode fornecer a justificativa técnica para um movimento antecipado.
Outro desenvolvimento importante da semana foi a confirmação de que o Fed começará a comprar títulos do Tesouro dos EUA de curto prazo, com um plano inicial de adquirir cerca de US$ 40 bilhões em títulos por mês a partir de 12 de dezembro de 2025. As compras têm o objetivo de ajudar a gerenciar a liquidez do mercado e garantir o funcionamento estável dos mercados de financiamento de curto prazo, especialmente diante das tensões observadas nos mercados de recompra (repo) e empréstimos overnight nos últimos meses.
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“Essa mudança deve ser favorável para os ativos de mercados emergentes e brasileiros. Historicamente, a expansão do balanço do Fed tende a enfraquecer o dólar e incentivar os investidores a rotacionar para ativos de maior risco (higher-beta), incluindo ações de mercados emergentes”, avalia Aline.
Assim, no contexto atual do mercado — onde as avaliações dos mercados emergentes estão baratas, o posicionamento é leve e o capital está saindo das caras ações de tecnologia dos EUA — o momento amplifica os efeitos positivos, avalia.
(com Reuters)
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