Bolsonaristas passaram a mirar nas redes sociais o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, ao mesmo tempo em que mantêm os ataques ao mininistro Alexandre de Moraes. Além disso, insinuam que a corte e o Brasil podem ser alvos de medidas mais duras do governo de Donald Trump nos próximos dias.
A linha de frente dessa ofensiva é comandada a partir dos Estados Unidos pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e por Paulo Figueiredo, neto do último presidente da ditadura militar, João Figueiredo (1979-1985).
“Glória a Deus pela arrogância de meus adversários, ela liberou o caminho para que nós pudéssemos trabalhar sem obstáculos. Enquanto me adjetivavam de chapeiro para baixo, nós fazíamos o improvável. E anotem: ESTE É SÓ O COMEÇO!”, escreveu Eduardo em suas contas nas redes sociais na sexta-feira (18).
Desde o anúncio da revogação do visto americano de ministros do STF e parentes diretos, ocorrida na sexta, mesmo dia em que a PF realizou operação na casa de Bolsonaro e Moraes determinou o uso de tornozeleira eletrônica pelo ex-presidente, Eduardo tem comemorado nas redes, avocando para si a responsabilidade da medida do governo dos EUA.
Em várias postagens, ele lembra as críticas que recebeu quando o então presidente Jair Bolsonaro tentou emplacá-lo como embaixador em Washington, o que desencadeou ironias a partir de entrevista em que ele afirmou que tinha experiência por ter feito intercâmbio nos Estados Unidos e fritado hambúrguer no frio do Maine.
“Quem diria que o fritador de hambúrguer seria recebido [no departamento de Estado dos EUA] e a embaixadora do Brasil não?”, escreveu neste sábado (19).
Eduardo também tem repetido que há “ainda há muito por vir”. Em outra das postagens deste sábado, escreveu: “Sem sinal de GPS funcionariam as tornozeleiras eletrônicas?”. A referência é à afirmação nas redes bolsonaristas de que no pacote de sanções estariam restrições de funcionamento de satélites, que afetam o funcionamento de sistemas GPS.
Na sexta, em entrevista à CNN Brasil, Eduardo reafirmou que o americano poderia tomar medidas ainda mais duras contra o país.
“Espero que Deus ilumine a cabeça das autoridades brasileiras, principalmente da elite econômica, que tem muito poder, para que façam pressão nas pessoas corretas, notoriamente Alexandre de Moraes, e a gente consiga mudar esse cenário atual. Dos Estados Unidos, não falo em nome de ninguém, mas posso garantir: não haverá recuo. Se tudo der errado, pelo menos, nós estaremos vingados”, afirmou.
No mesmo dia, Eduardo repostou texto de um perfil que afirmava que “ao que parece”, a filha do Barroso estudava nos Estados Unidos e, que, caso ela tivesse sido atingida pela medida, seria deportada.
A maior parte dos comentários ao post traziam fotos e a defesa de eventual deportação da advogada Luna van Brussel Barroso.
Em nota, a assessoria do STF disse ser “falsa a informação publicada em blogs e redes sociais sobre a filha do ministro presidente do STF, Luís Roberto Barroso, estudar e advogar nos Estados Unidos”. “Também é mentira que ela será deportada. A única filha de Barroso mora no Brasil.”
Barroso foi aos Estados Unidos neste mês, a Miami, em visita familiar. Nem o ministro nem o STF se manifestaram sobre a decisão do governo dos EUA de revogar vistos de integrantes da corte e seus familiares.
Segundo uma pessoa com acesso à discussão, as autoridades americanas estavam cientes da visita e monitoraram a entrada de Barroso.
As postagens de Paulo Figueiredo, que apareceu em foto ao lado de Eduardo em frente à sede do Departamento de Estado do governo norte-americano, seguem a mesma linha.
“É bastante seguro afirmar que esse é só o começo. As coisas que eu tenho ouvido são assustadoras. Talvez, Magnitsky seja algo que vá deixar saudade. Então, se preparem porque vocês terão semanas eletrizantes pela frente”, disse o neto de Figueiredo em um vídeo.
A referência é à Lei Magnitsky, que permite a aplicação unilateral de punições a estrangeiros acusados de corrupção grave ou violações sistemáticas de direitos humanos e que passou a ser apontada por críticos de Moraes como possível base legal contra o ministro.
Figueiredo também fez menção aos ataques de bolsonaristas nas redes contra a filha de Barroso.
“Quero deixar claro aqui que reprovo a postagem de fotos dos filhos do Barroso que moram nos EUA, ou na verdade, de qualquer familiar de ministros, a não ser que tenham vínculos de lavagem de dinheiro com os próprios”, escreveu.
“Uma das meninas é uma estudante de Yale, pelo amor de Deus! Eles, infelizmente, terão sim seus vistos cassados, mas não por culpa deles.”
Tanto Eduardo como Figueiredo têm feito críticas a políticos de direita pela suposta demora em se solidarizar com Bolsonaro, em criticar o STF ou em se alinhar à tática desenvolvida pela dupla.
Além das críticas ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Eduardo postou ataques ao ex-vice de Bolsoanro e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS). Já Figueiredo, criticou o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e governadores de direita.
O neto do último presidente da ditadura militar também insinuou que os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), também podem entrar na mira de Trump e disse que isso só não ocorreu ainda por intervenção de Eduardo.
“Pelo que sei, foram preservados por enquanto, inclusive a pedido do Eduardo Bolsonaro. Todos terão a oportunidade de fazer a coisa certa e uma última chance de escolher o lado do Brasil ou o lado do Alexandre. Com a escolha, virão as consequências”, escreveu.
O Departamento de Estado dos EUA não confirmou o alcance da medida anunciada na sexta, nem mesmo se isso acarretaria deportação de eventuais parentes que os ministros tenham nos EUA. Pessoas que participam das discussões afirmam que a restrição de visto só vai poupar três ministros do Supremo: Kássio Nunes Marques, André Mendonça e Luiz Fux.
Isso se baseia em relatórios compartilhados pelos bolsonaristas com autoridades americanas.
Nesses relatórios elaborados por bolsonaristas, até mesmo o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi apontado como um ator que deu sustentação a Moraes e, portanto, deveria receber sanções.