Início FINANÇAS Com Bolsonaro isolado, direita buscará mais autonomia, avalia cientista político

Com Bolsonaro isolado, direita buscará mais autonomia, avalia cientista político


Os candidatos da direita que querem disputar as eleições de 2026 vivem uma ambiguidade entre o apoio a Jair Bolsonaro e conseguir se afastar do ex-presidente. Mas atualmente a rejeição a Bolsonaro está em alta, segundo o cientista político da Tendências, Rafael Cortez. A avaliação foi feita após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter decretado a prisão domiciliar de Bolsonaro na noite de segunda-feira (4).

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“Os governadores, por exemplo, não estiveram presentes nas manifestações [pró-Bolsonaro, em 3 de agosto]. Isso significa uma busca por esse afastamento,” afirmou o cientista político ao InfoMoney. Segundo Cortez, vai ser interessante ver o quanto os nomes da direita vão fazer suas próprias movimentações eleitorais, já que agora não há comunicação com o ex-presidente.

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Mesmo assim, o cientista político avalia que Bolsonaro não está fora do jogo, mesmo inelegível. Um candidato apoiado por ele, ou da família dele, pode ser bastante competitivo nas eleições de 2026.

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Para Cortez, o maior dilema no relacionamento com o bolsonarismo é para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). E, embora a popularidade do Bolsonaro esteja em queda, a rejeição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ajudar uma candidatura de direita.

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Confira a entrevista do cientista político Rafael Cortez para o Infomoney:

InfoMoney As novas medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes enfraquecem politicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro?

Rafael Cortez – A principal implicação do agravamento das cautelares decididas pelo ministro Alexandre de Moraes é no xadrez eleitoral da direita. Uma das características que a direita enfrenta, especialmente os candidatos a assumirem uma candidatura da direita em 2026, é uma situação ambígua com o bolsonarismo e com o ex-presidente. Eles entendem que precisam do apoio do ex-presidente mas, ao mesmo tempo, precisam encontrar uma separação diante da alta rejeição que o Bolsonaro tem junto à opinião pública e em tendência de alta por conta dos desdobramentos da questão do tarifaço e de Donald Trump. 


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IMAs manifestações, no último domingo (3), juntaram milhares de apoiadores de Bolsonaro. Mesmo assim, você acha que existe esta tendência de rejeição em alta?

RC – Na sociedade como um todo, tem uma percepção de desgaste. Uma coisa não exclui a outra. Apesar do aumento de manifestações de apoio ao ex-presidente, tem também uma maior rejeição.

IMDiante disso, como fica a situação de quem quer capitalizar os votos de Bolsonaro e da direita que não é bolsonarista? 


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RC – A implicação política é maior do que Bolsonaro. Os governadores, por exemplo, não estiveram presentes nas últimas manifestações. Isso significa uma busca por afastamento. Agora vai ser interessante ver o quanto esses nomes vão ter maior ambição e vão buscar fazer as suas respectivas movimentações eleitorais, dado que não há comunicação com o ex-presidente. Bolsonaro está mais isolado e, portanto, esses nomes da direita podem perceber como uma oportunidade para buscarem maior autonomia.

IM – Como o senhor avalia que o governador Tarcísio vai reagir?

RC – Tarcísio é o que tem o maior dilema nesse relacionamento com Bolsonaro, porque é percebido como um “produto” do bolsonarismo. Essa contradição é mais clara em Tarcísio, do que, por exemplo, em Eduardo Leite ou Ronaldo Caiado. Leite e Caiado têm uma carreira mais autônoma, a despeito de precisarem do apoio da direita.

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Minha leitura em relação a Tarcísio é de que ele fará um movimento de bastidor, ainda muito discreto, para encontrar essa autonomia junto a quem tem mais peso, como os líderes partidários e os grandes setores econômicos. Publicamente, ele tem que aprender, nesse momento, a se dissociar do bolsonarismo. Não imagino Tarcísio fazendo nenhuma manifestação mais forte nas redes sociais em relação à cautelar [prisão domiciliar de Bolsonaro]. Neste momento, Tarcísio tende a ser mais discreto.
 


IM – Por outro lado, falta muito tempo pra eleição. Você acredita que ainda pode surgir um elemento novo ou os nomes já estão postos?

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RC – É uma eleição ainda muito polarizada, marcada pelo petismo versus antipetismo. O que eventualmente vamos assistir – e essa acho que é a principal incerteza – é o comportamento da direita: se vai ter uma candidatura única do antipetismo ou se vai haver uma divisão da direita, dadas as condições que estão postas. É um cenário mais complicado para essa união da direita justamente é porque aumentou o custo reputacional de estar perto de Bolsonaro em 2026.

IMEstas medidas provocam desgaste e um enfraquecimento político do Bolsonaro?

RC – Não vejo um aumento muito expressivo da rejeição, porque já houve esta movimentação. O problema é que a sua influência política, ainda que com o mesmo nível de popularidade, vai diminuindo. Na minha interpretação, sem uma candidatura presidencial bolsonarista, essa influência cai mais rápido. Disputar uma eleição, em alguma medida, é um modo de você prolongar a sua vida política.

IM – A possibilidade de colocar a esposa ou um filho de Jair Bolsonaro como candidato pode ser uma saída para o bolsonarismo?

RC – Essa pode ser uma saída, porque o bolsonarismo olha com desconfiança para essas candidaturas patrocinadas pela centro-direita, incluindo o movimento de Tarcísio, que é percebido como perigoso pelo bolsonarismo.

IM – Uma candidatura da esposa ou do filho, mesmo com a possibilidade de Bolsonaro ser preso até as eleições, ainda seria competitiva?

RC – Sim. A rejeição do ex-presidente Lula é persistentemente alta, então, vai ser competitivo independentemente de quem for o candidato do antipetismo. Esse cenário da candidatura patrocinada por Bolsonaro na composição como alguém membro da família é uma saída para manter a influência do ex-presidente, nesse cenário cada vez mais restrito, mas ainda sob muita incerteza por conta da sua condição jurídica.

Essa candidatura é, politicamente, um dos instrumentos possíveis para manter a sua influência. Haveria uma repetição do que aconteceu com o ex-presidente Lula em 2018, mas ainda é preciso acompanhar o timing e o julgamento.

De toda forma, o desafio de manter a influência do ex-presidente Bolsonaro após 2026 ainda está posto. As candidaturas da centro-direita são percebidas como candidaturas que colocam em risco essa influência bolsonarista, porque, uma vez vitoriosa, o antipetismo troca de nome.

IM – Como deve ficar a questão jurídica do ex-presidente?

RC – Todas as manifestações jurídicas nesse campo, desde o posicionamento da Procuradoria-Geral da República às manifestações dos integrantes da Primeira Turma do STF, apontam na direção de uma condenação. Provavelmente, a pena seria muito alta. Então, tem o elemento da perda de influência, mesmo que a gente não tenha alteração na popularidade. Mas há uma influência política decrescente, mesmo se a popularidade permanecer nos mesmos patamares.



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