O fator que faltava para animar o mercado?
O Ibovespa acelerou fortemente os ganhos na sessão para mais de 2% nesta sexta-feira, com maiores apostas de um corte na taxa de juros norte-americana no próximo mês após o discurso do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole.
A sessão desta sexta já começou com ganhos para o índice, mas a alta se acelerou para o Ibovespa no fim da manhã depois das falas do Powell, fechando com ganhos de 2,57%, a 137.968 pontos, aproximando-se dos 138 mil pontos. Na semana, o benchmark da Bolsa subiu cerca de 1%. Já o dólar comercial caiu 0,95%, a R$ 5,425 na compra e R$ 5,426 na venda.

Em Wall Street, o Dow Jones subiu 1,89%, a 45.631 pontos. O S&P 500 teve alta de 1,52%, a 6.466 pontos, enquanto o Nasdaq Composite avançou 1,88%, a 21.496 pontos. Todos os 11 subsetores do S&P 500 eram negociados em alta, com o setor imobiliário saltando 1,8%, enquanto o setor de consumo discricionário ganhava quase 2%.
Powell disse que a política monetária dos Estados Unidos pode precisar de ajustes, dada a mudança no equilíbrio de riscos.
Com isso, os operadores agora precificam uma probabilidade de quase 90% de um corte na taxa de juros pelo Fed em setembro, contra cerca de 75% antes dos comentários de Powell.
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Apesar de abrirem caminho para um corte de juros na reunião do Fed de 16 a 17 de setembro, as falas do chair também dão grande importância aos relatórios de emprego e inflação que serão divulgados antes disso.
Após o discurso, o Ibovespa, que avançava cerca de 0,8%, ganhou força e subiu em torno de 2%, revertendo a trajetória de queda acumulada na semana para um saldo positivo.
Agora, o índice caminha para fechar a sexta-feira com ganho semanal de cerca de 0,8%, após uma semana marcada por receios envolvendo movimentos do STF e o impasse entre Brasil e Estados Unidos.
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Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, reforçou que a fala do dirigente do Fed veio no sentido de sinalizar a possibilidade de corte de juros já em setembro. “Ele justificou essa visão com base na taxa de desemprego, que estaria se distanciando do nível de equilíbrio, o que exige atenção mais imediata. Em seu discurso, destacou que será necessário revisitar a política monetária, mas sem descartar o risco inflacionário”, aponta.
Para o especialista, o ponto central é que, desde março e abril, o Fed tem tratado o impacto das tarifas como algo pontual, buscando afastar a percepção de que haverá consequências inflacionárias duradouras. “No curto prazo, pode haver choques em alguns itens de forma escalonada, em setembro, outubro ou até janeiro, mas a interpretação é de que não haverá uma pressão que desancore as expectativas de inflação”, avalia.
Diante disso, o cenário abriu espaço para cortes de juros já na próxima reunião. Vale lembrar que alguns dirigentes defendem dois cortes ainda em 2025, mas a maioria sinaliza pelo menos um movimento. Com apenas três reuniões até o fim do ano, esse posicionamento parece fazer bastante sentido.
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Seema Shah, estrategista-chefe da Principal Asset Management, entendeu que o corte de 25 pontos-base parece ser o que foi sinalizado. Se o Fed optar por corte de 50 pb, “os mercados podem interpretar como um sinal de influência política, em vez de uma decisão baseada em dados”, ponderou.
Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, aponta que o discurso trouxe um novo grau de otimismo para um mercado altamente apoiado na expectativa de uma breve retomada do ciclo de cortes de juros.
“Apesar de reconhecer que o ambiente macro continua desafiador, especialmente com as mudanças em imigração e políticas comerciais afetando oferta e demanda com efeitos difíceis de antecipar, o presidente do Fed afirmou que a política monetária está restritiva e sinalizou a proximidade de ajustes, o que resultou em uma resposta imediata dos ativos”, avalia.
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Além das indicações de cortes de juros, Powell buscou tranquilizar o mercado em relação a interferências políticas nas decisões do banco central, em meio a frequentes ataques do presidente americano, Donald Trump.
A sinalização é de que as decisões de política monetária serão tomadas somente em cima de dados e suas implicações para a perspectiva econômica e o balanço de riscos, e que essa abordagem jamais será deixada de lado pelos membros do comitê. “Essa postura firme é essencial para manter o nível de juros de longo prazo controlados, já que uma política monetária pouco confiável aumenta a precificação de risco de uma economia e, consequentemente, as taxas cobradas pelo mercado para investir em seus ativos”, ressalta.
Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos, avalia que o corte em setembro já era esperado, mas o Powell está sendo um pouco mais dovish, ou seja, um pouco mais leve com relação a manter a atual taxa de juros do que o mercado esperava.
“Não se esperava um discurso dele tão inclinado a começar a fazer política monetária expansionista tão rápido. Acredito também que o mercado não estava esperando que ele falasse que o mercado de trabalho nos Estados Unidos já tinha passado por um pico e agora eventualmente esta esfriando”, aponta.
Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, Powell enfatizou que o balanço de risco existente com as incertezas econômicas e o impacto dessas incertezas em termos de inflação e no nível de emprego continua muito elevado.
“Ainda assim, dentro desse balanço de riscos, a fala dele sugere que o FED vê a inflação como potencialmente temporária e que os riscos para desaceleração do mercado de trabalho aumentaram e, com isso, pode ser apropriado um ajuste na política monetária. Quando ele fala isso, essa observação levou o mercado a entender que a gente deve ter um corte de juros na próxima reunião de setembro, tal qual já vinha sendo aguardado e especificado nas curvas de juros”, aponta Castro Alves.
Neste cenário, avalia Cruz, para o Brasil, o ambiente é positivo. “Com a taxa de juros doméstica ainda em patamar elevado, a atratividade do diferencial para o investidor internacional aumenta. É claro que, no curto prazo, seguimos acompanhando o cenário político local, mas é inegável que a política monetária americana continua sendo um dos principais vetores para o fluxo de capital estrangeiro”, conclui.
(com Reuters)