Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, mostram que os alimentos ficaram mais baratos em julho, segundo mês consecutivo de queda. Entre as baixas, destaca-se o recuo no preço do café (-10,1%) e da batata-inglesa (-20,27%).
O grupo Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no índice, recuou 0,27% em julho, após diminuir 0,18% em junho. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o recuo foi impulsionado pela alimentação no domicílio (ou seja, o preço dos produtos nos mercados) que também caiu 0,69% no período.
O que é IPCA
- O IPCA é calculado desde 1979 pelo IBGE. O índice é considerado o termômetro oficial da inflação e é usado pelo Banco Central para ajustar a taxa básica de juros, a Selic.
- Ele mede a variação mensal dos preços na cesta de vários produtos e serviços, comparando-os com o mês anterior. A diferença entre os dois itens da equação representa a inflação do mês observado.
- O IPCA mensura dados nas cidades, de forma a englobar 90% das pessoas que vivem em áreas urbanas no país.
- O índice pesquisa preços de categorias como transporte, alimentação e bebidas, habitação, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação, comunicação, vestuário, artigos de residência, entre outros.
- O IPCA referente a agosto será divulgado em 10 de setembro.
Dos 160 subitens analisados em alimentação no domicílio, quase metade (78 produtos alimentícios) registrou queda na passagem de junho para julho. Outros 80 aumentaram e, apenas, dois tiveram estabilidade no período.
O preço do café moído, por exemplo, caiu 1,01% em julho e quebrou um ciclo de 18 aumentos seguidos, ou seja, a primeira queda no valor do produto desde dezembro de 2023, quando recuou 0,37%.
O que dizem especialistas
Economistas consultados pelo Metrópoles afirmam que as boas condições climáticas, a desvalorização do dólar e a expectativa de uma supersafra contribuíram para a deflação da alimentação no Brasil.
Matheus Dias, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que alguns produtos alimentícios têm tido sobreoferta no mercado interno, em razão da produção positiva.
“Todo produto que é negociado no mercado internacional, precificado em dólar, tem o seu preço afetado no Brasil. Em reais, esse produto acaba ficando mais barato”, explica.
Ele ressalta, ainda, que a recente queda de preços dos produtos alimentícios não está “diretamente relacionada” ao tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre parte das exportações brasileiras. “O dólar, a questão do clima, são os principais fatores para que a gente tenha uma deflação de alimentos atualmente. O tarifaço, a gente olha a partir de hoje para frente”, avalia.
Segundo Dias, tarifas unilaterais alteram cadeias globais e podem, no curto prazo, intensificar a queda de preços em produtos com dificuldade de encontrar novos mercados. “Esse cenário não é para todos os produtos alimentícios, mas para aqueles que tiverem uma maior dificuldade de redirecionar mercados”, explica ele.
Para os próximos meses, o economista projeta que a inflação dos alimentos volte a subir, em ritmo menor que o de 2024. “A gente tem uma gordura de safras boas que estão ocorrendo no meio do ano, acredito que o impacto seja menor”, prevê. “A inflação de alimentos acaba ficando mais bem comportada do que foi, por exemplo, no ano passado”, conclui.
Cristina Helena Pinto de Mello, professora de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), lembra que o Brasil incluiu uma grande parcela de itens na lista de exceção ao tarifaço, preservando cerca de 700 produtos das taxas.
Ela avalia que, no curto prazo, os preços podem seguir em queda, já que produtores tendem a direcionar a produção para o mercado interno. No médio e longo prazo, acredita que o nível de produção poderá ser ajustado.