Agência Câmara
Os deputados Coronel Assis, Coronel Fernanda e José Medeiros, da extrema direita bolsonarista e da “bancada da bala” na Câmara Federal
Os deputados Coronel Assis (União Brasil), Coronel Fernanda (PL) e José Medeiros (PL), da bancada bolsonarista de Mato Grosso na Câmara Federal, integram a “bancada da bala” e ganharam destaque, na semana passada, com a aprovação da polêmica PEC da Blindagem.
Os três estão no bloco de 34 dos 42 policiais e militares, cuja maioria se elegeu prometendo guerra à bandidagem, mas, na última terça-feira (16), ajudaram na aprovação da proposta.
A PEC é vista como uma brecha para ampliar a infiltração do crime organizado na política, favorecendo a criação de um narcoestado no Brasil, segundo a Folha de S. Paulo.
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Os dois coronéis da Polícia Militar de Mato Grosso e o policial rodoviário federal se elegeram, em 2022, com a bandeira do bolsonarismo, pregando a defesa dos valores cristãos, com o lema “Deus, Pátria, Família e Liberdade”.
Fernanda sempre se apresentou como militar linha-dura, defensora dos valores cristãos.
Assis, ex-comandante da PM estadual, também sempre fez questão de se mostrar como do “núcleo duro” da corporação, mas, como bolsonarista radical, é um defensor intransigente da PEC.
Medeiros é um defensor extremo da família Bolsonaro e crítico contumaz do Governo Lula (PT). É pré-candidato a senador.
Nas últimas eleições, Fernanda obteve 60.304 votos. Assis recebeu 47.479 votos. Medeiros totalizou 82.182 votos.
A coronel lutou – e até apelou, em vídeo no qual chorou por apoio de Jair Bolsonaro – e consegiu disputar como sendo “candidata de Bolsonaro” em Mato Grosso.
O coronel se notabilizou pela defesa do armamento civil, atraindo a simpatia dos CACs (Colecionadores, Atiradores Esportivos e Caçadores), uma das bandeiras de Bolsonaro em 2018, quando disputou e venceu a Presidência da República.
A notoriedade que Assis, Fernanda e Medeiros ganharam ao votarem a favor da PCE da Blindagem – também conhecida como PEC da Bandidagem, por razões óbvias – não deve ser festejada.
Os três políticos, segundo analistas, se desgastaram, e isso pode ser extremamente prejudicial aos seus projetos político-eleitorais com vistas a 2026.
No âmbito da bancada da bala, os dois militares e o PRF de Mato Grosso fazem parte de um bloco que reúne 13 policiais civis, 14 policiais militares, seis federais, dois bombeiros militares, dois policiais rodoviários federais e cinco oficiais do Exército, entre os quais dois generais da reserva.
Quase a totalidade deles se elegeu prometendo “mão dura” contra o crime e os criminosos.
“Queriam acabar com as saidinhas, criticavam as leis que devolviam bandidos contumazes às ruas e pediam o fim das audiências de custódia. Mas os que se diziam campeões da lei e da ordem desempenharam um papel diferente na semana passada”, diz o jornalista Marcelo Godoy, em artigo, na segunda-feira (22), no jornal O Estado de São Paulo.
Um levantamento do jornalista aponta que, na lista dos deputados que votaram a favor da PEC da Blindagem, 34 dos 42 integrantes da chamada bancada da bala – e do fuzil – resolveram, da noite para o dia, inovar.
“Quando tiveram de decidir sobre os malfeitos dos deputados, deram apoio maciço à PEC para salvar das garras da Justiça políticos corruptos e agentes do crime organizado escondidos nos parlamentos”, diz ele.
Leia a íntegra do artigo publicado no Estadão:
Os policiais e os militares do Congresso que deram um presente aos corruptos e ao crime organizado
Eles são 13 policiais civis, 14 policiais militares, seis federais, dois bombeiros militares, dois policiais rodoviários federais e cinco oficiais do Exército, entre os quais dois generais da reserva. Quase a totalidade deles se elegeu prometendo mão dura contra o crime e os criminosos. Queriam acabar com as saidinhas, criticavam as leis que devolviam bandidos contumazes às ruas e pediam o fim das audiências de custódia. Mas os que se diziam campeões da lei e da ordem desempenharam um papel diferente na semana passada.
Levantamento feito pela coluna na lista dos deputados que votaram a favor da chamada Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Blindagem mostra que 34 dos 42 integrantes da chamada bancada da bala – e do fuzil – resolveram, da noite para o dia, inovar. Quando tiveram de decidir sobre os malfeitos dos deputados, deram apoio maciço à PEC para salvar das garras da Justiça políticos corruptos e agentes do crime organizado escondidos nos parlamentos.
E isso no dia do enterro do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, assassinado na segunda-feira pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Pior. Entre os parlamentares que sancionaram a proposta estavam dois delegados da Polícia Civil paulista e um terceiro, que deixou a carreira. Ou seja, horas depois que o caixão do delegado baixava à sepultura no Cemitério da Paz, dois que se apresentam como delegados, estavam sancionando o projeto que especialistas em combater os corruptos, como o procurador Roberto Livianu, chama de PEC Salva Ladrão.
Afinal, o que aconteceu com a bancada da bala? O ladrão de carros Lúcio Flávio Villar Lírio ficou célebre nos anos 1970, entre outras coisas, por uma frase que parecia banal, mas repetida até hoje: “Polícia é polícia, bandido é bandido”. Essa máxima foi seguida por tantos policiais – civis e militares – que arriscaram a suas vidas para sequestrar os bens e prender os líderes de organizações criminosas, como a investigada pela Operação Carbono Oculto.
São eles que mostraram que o PCC chegou à Faria Lima e às fintechs do crime, por onde também circula o dinheiro da sonegação e de políticos corruptos. O primeiro desses casos foi descoberto há cinco anos, durante as operações Rei do Crime e Tempestade, ambas da Polícia Federal. Ali estavam doleiros flagrados pela Operação Lava Jato lavando dinheiro do PCC ao lado de corruptos da máfia da Covid, que desviaram milhões em compras superfaturadas de respiradores artificiais durante a epidemia provocada pelo vírus Sars-Cov-2.
Aprovar a PEC da Blindagem, portanto, para Livianu, é o método mais seguro para que o crime organizado fique impune no País, pois é cada vez maior a infiltração do PCC e do CV no poder público, como demonstra a investigação que pôs na cadeia o deputado estadual TH Joias. Com a PEC, TH Joias continuaria impune, ajudando traficantes de armas e de drogas do Rio. Sem ela, o parlamentar ocupa uma cela no Complexo Penitenciário de Bangu.
É preciso dizer que dos 13 policiais civis do Congresso, quatro votaram contra a PEC, entre eles os dois delegados eleitos por São Paulo. Aqui vão seus nomes: Bruno Lima (PP) e Mário Palumbo Junior (MDB). Aqui também vão os nomes dos três outros, aqueles que disseram sim à PEC no dia em que o doutor Ruy era enterrado. Dois deles, aliás, haviam sido punidos quando Ruy era delegado-geral: Da Cunha (PP) e Bilynskyj (PL). O terceiro é Gilberto Nascimento (PSD).
Entre os PMs, um desastre. Doze dos 14 representantes que poderiam votar apoiaram o projeto. Houve apenas um voto contrário, o do pastor e sargento Isidoro, da Bahia, e uma ausência: a do Capitão Augusto (PL-SP). Todos os demais, a começar pelo decano Alberto Fraga (PL-DF), resolveram “proteger os corruptos” sob a alegação de que as prerrogativas e imunidades dos parlamentares estariam sendo violadas e eles fossem pessoas indefesas.
O placar do voto mostra o “sim” de todos – pasmem: todos – os coronéis da PM que foram eleitos. Seria importante que eles explicassem às suas corporações por que fizeram isso. Reagiram à uma injusta agressão? Era legítima defesa? Mas existe legítima defesa da corrupção? Porque a PEC, se aprovada pelo Congresso, vai salvá-los também, indistintamente, como tem alertado o procurador Livianu e seu Instituto Não Aceito Corrupção.
Há um caso ainda pior. O dos delegados e policiais federais que votaram a favor da proposta. Um deles tem a desfaçatez de usar até o nome da instituição quando se exibe aos eleitores, justo a PF, aquela que se notabilizou nas duas últimas décadas pelo combate à corrupção e aos desvios de recursos públicos. Nenhum dos seis federais eleitos para o Congresso – certamente, explorando a imagem da corporação – foi contrário à proposta. Um apenas esteve ausente: o escrivão Eduardo Bolsonaro, por razões de força maior. É claro.
Os dois bombeiros e os dois policiais rodoviários federais também foram à favor da proposta, bem como todos os cinco oficiais do Exército. Todos eles. Sim. Inclusive os dois oficiais generais. O que só demonstraria para seus colegas, cada vez mais, o distanciamento deles dos valores da caserna, há muito trocados pelos interesses pessoais e pelas três tentações de Brasília. Todos sabemos que elas são três: dinheiro, poder e privilégio.
Aqui está a lista dos deputados das bancadas da bala e do fuzil e como cada um votou:
SIM
· Delegada Ione Barbosa,
· Delegado Caveira
· Delegado Éder Mauro
· Delegado Fábio Costa
· Delegado Gilberto Nascimento
· Delegado Paulo Bilynskyj
· Delegado Da Cunha
· Felipe Becari
· Coronel Alberto Fraga
· Coronel Meira
· Coronel Assis
· Coronel Fernanda
. Coronel Ulysses
· Capitão Alberto Neto
· Capitão Alden
· Sargento Portugal
· Sargento Gonçalves
· Sargento Fahur
· Cabo Gilberto
· Da Vitoria
· Junio Amaral
· Delegado Ramagem
· Delegado Matheus Laiola
· Delegado Marcelo Freitas
· Gilvan da Federal
· Sanderson
· Dr Frederico
· Pedro Aihara
· José Medeiros, policial rodoviário
· Nicoletti
· General Girão
· General Pazuello
· Coronel Crisóstomo
· Coronel Zucco
· Subtenente Hélio Lopes
NÃO
· Delegado Bruno Lima
· Delegado Palumbo
· Delegada Katarina
· Delegada Adriana Accorsi
· Pastor Sargento Isodoro
AUSENTES
· Thiago Flores, policial civil
· Capitão Augusto
· Eduardo Bolsonaro





