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Descoberta do pedido de asilo à Argentina não encerra o risco de fuga de Bolsonaro – CartaCapital


A revelação de que Jair Bolsonaro (PL) tinha em seu celular um pedido de asilo preparado para ser entregue ao presidente da Argentina, Javier Milei, é a confirmação de uma suspeita que existia desde pelo menos fevereiro de 2024, quando o ex-presidente passou dois dias escondido na Embaixada da Hungria em Brasília, logo depois de ter seu passaporte apreendido pela Polícia Federal.

No mesmo ano em que fez as últimas edições no documento que tratava do pedido de asilo à Argentina, Bolsonaro testou também outra rota de fuga, que passava por dentro da embaixada húngara na capital federal.

Ao chegar ao endereço, ele foi recebido pelo embaixador Miklós Halmai, representante no Brasil do primeiro-ministro Viktor Orbán, o maior expoente na Europa da extrema-direita à qual o ex-presidente brasileiro pertence.

Uma vez dentro da casa, Bolsonaro recebeu travesseiro e lençóis para pernoitar. Legalmente, sua estadia foi protegida por documentos internacionais como as Convenções de Viena, que tratam da inviolabilidade das instalações diplomáticas estrangeiras contra operações de busca e de captura, e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que garante a todos o direito de pedir asilo contra perseguição política – um direito distorcido por Bolsonaro para se evadir dos processos judiciais dos quais é alvo no Supremo, sendo o principal deles o que trata da tentativa frustrada de um golpe de Estado em 2022/2023.

Câmeras de circuito interno filmaram a estadia de Bolsonaro na Embaixada da Hungria e as imagens foram vazadas para o jornal americano The New York Times, que publicou o furo. À época, o ex-presidente negou que estivesse tentando fugir. Como o processo contra ele por envolvimento no golpe era mais nebuloso do que está agora, o plano acabou abortado, e o próprio ministro Alexandre de Moraes aceitou a versão de que Bolsonaro não estava empenhado em fingir-se de asilado para se evadir.

Agora, a revelação da carta com o pedido de asilo a Milei, descoberta em um dos celulares do ex-presidente pela Polícia Federal, confirma que em 2024 os planos de fuga eram – apesar das negativas – uma prioridade absoluta.

Assim como Bolsonaro, vários de seus seguidores envolvidos no 8 de Janeiro tiveram a mesma ideia e cruzaram a fronteira para o lado argentino, na tentativa de evitar o cumprimento das sentenças. Ao contrário do que a sintonia ideológica entre Milei e Bolsonaro poderia fazer supor, o governo argentino devolveu vários desses brasileiros, o que pode ter semeado a dúvida sobre se o ex-presidente não seria devolvido também, caso tivesse apresentado a carta.

Agora, debeladas as rotas húngara e argentina, resta a Bolsonaro forçar uma saída pelos EUA, que, embora seja um caminho difícil e improvável, não é impossível. O presidente americano, Donald Trump, não tem se deixado conter por limites ao responder positivamente aos pedidos do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para intervir no Brasil em favor do pai – seja por meio de sanções econômicas, taxações, mensagens hostis nas redes sociais ou suspensão de vistos de autoridades brasileiras.

Uma concessão americana de asilo a Bolsonaro poderia se dar por meio de um acordo político de redução de danos entre os dois países ou por uma fuga escamoteada que fizesse uso de veículos consulares que dispõem da mesma proteção e inviolabilidade outorgada às embaixadas e consulados. Evidentemente, colocar Bolsonaro dentro de um carro consular ou de uma aeronave seria uma manobra truculenta, especialmente tendo em conta a proibição legal de que ele se aproxime e tenha contato com autoridades estrangeiras. Mas todas as ações americanas em favor dele já têm sido truculentas até aqui. Essa seria mais uma.



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