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Dólar segue competitivo mesmo com CDI nas alturas; veja como diversificar no exterior


Enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou os juros no Brasil, para 15%, o Federal Reserve (Fed) decidiu manter a taxa básica dos Estados Unidos entre 4,25% e 4,50% ao ano. Em um primeiro momento, isso pode dar a impressão de que compensa deixar o dinheiro apenas por aqui, aproveitando o rendimento da renda fixa. Mas isso é um equívoco, segundo analistas.

Manter um portfólio extra de investimentos no exterior – separado da carteira brasileira – deve ser uma decisão estrutural, ou seja, uma escolha estratégica de longo prazo, que não muda conforme o sobe e desce dos juros ou do dólar, segundo Rodrigo Sgavioli, head de alocação do research da XP Investimentos.

“Temos vários estudos que mostram que, a depender do perfil conservador, moderado, sofisticado, qualquer coisa entre 5% e 20% de um patrimônio que tenha um pedaço de ativos globais em dólar num portfólio diversificado lá fora, você tem uma diversificação patrimonial mais eficiente”, falou.

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Esse tipo de alocação “estrutural” permite que o investidor acesse o maior mercado de capitais do mundo, como o norte-americano, além de setores que não existem por aqui, como o de inteligência artificial. Também oferece proteção cambial, especialmente contra a inflação no Brasil, segundo especialistas consultados.

Juliana Benvenuto, sócia e coordenadora de conteúdo da Avenue, acrescentou que o investidor brasileiro que investe fora não trava apenas a taxa de juros americana, mas a combinação dela com o comportamento do dólar.

“E é aí que o dólar tem um papel muito relevante, porque se a gente olha seu comportamento frente ao real nos últimos 10 anos, o retorno médio fica próximo de 9% ao ano. Então, mesmo que momentaneamente o real se valorize no curto prazo, no longo prazo o câmbio tende a trabalhar a favor de quem diversifica globalmente, justamente porque o Brasil tem uma inflação estruturalmente mais alta do que a inflação americana”.

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Investimentos globais sem risco cambial

Além da carteira em dólar, Sgavioli acredita que também há espaço para ativos internacionais dentro da carteira brasileira, desde que protegidos contra a variação do dólar. São os chamados ativos hedgeados (fundos e ETFs com exposição ao exterior são alguns exemplos). “Nesse formato, o investidor não está exposto à variação do dólar. Em compensação, ele se beneficia do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos”, explica.

Esse diferencial, conhecido como “carrego”, está especialmente alto agora. Com o CDI na faixa dos 14% e os juros americanos ao redor de 4,25%, o ganho adicional de investir em ativos hedgeados chega a 8%, segundo Sgavioli. “É como se você pegasse o retorno esperado da renda fixa global e somasse esse prêmio extra. O mesmo vale para a renda variável, embora com mais cautela”, diz ele.

Hoje, a exposição ideal a ativos globais hedgeados dentro da carteira brasileira, segundo a XP, varia de acordo com o perfil do investidor: conservador fica em cerca de 2,5% da carteira; moderado em torno de 5%; e o sofisticado até 7%.

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Onde olhar para renda fixa?

Os Treasuries (títulos do Tesouro dos EUA) continuam atrativos, segundo analistas, pois oferecem yields acima da média histórica. Os papéis de 10 anos seguem com rendimento em torno de 4% a 4,5% ao ano, enquanto os de prazos mais curtos rendem entre 3,9% e 4,2%. Já no caso do crédito privado, os retornos chegam a 5% ou até 6% ao ano.

“Essas são taxas que a gente não via há bastante tempo. Os Estados Unidos – e o mundo – passaram por um período longo com juros próximos de zero. Então, a taxa de juros lá fora ainda está bastante atrativa”, disse Juliana.

Renda variável: oportunidades e cautela

As empresas norte-americanas continuam sólidas e seguem como boas apostas para investidores internacionais. Um relatório recente da gestora britânica Janus Henderson mostra que os resultados do primeiro trimestre de 2025 vieram fortes: 78% das companhias do S&P 500 superaram as estimativas de lucro por ação, mesmo com o cenário de incerteza econômica e comercial.

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“A gente vê oportunidade em ativos ligados a grandes tendências globais que não temos no Brasil, como tecnologia, inteligência artificial, segurança cibernética, transição energética, entre outros”, disse Juliana.

Rodrigo Sgavioli, da XP, adota uma postura mais cautelosa quanto à renda variável americana. Para ele, os prêmios de risco estão mais baixos, o que pode indicar retornos mais modestos no curto prazo.

“Como os preços lá já parecem bastante esticados, a gente acha que o retorno prospectivo no curto e médio prazo talvez não seja tão atrativo. Então, para o investidor mais conservador, talvez seja o caso de não ter ou ter muito pouco. Mas se for um investidor mais sofisticado, com horizonte mais longo, a gente gosta também da ideia de ter um pedaço disso”.

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Cuidados ao investir lá fora

migração de parte do patrimônio para o exterior deve ser feita com planejamento e de forma gradual, de acordo com Diego Correia, líder executivo da área de investimentos internacionais da XP. “Recomendamos um processo de alocação em até cinco anos, com etapas progressivas que respeitem o perfil e os objetivos de cada investidor”, diz.



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