Especialistas da área de gestão de resíduos sólidos e reutilização de materiais – a popular reciclagem – são taxativos em destacar que um grande desafio no Brasil no que diz respeito ao tema é a participação e a educação popular ambiental.
Fazer a separação dos materiais e buscar postos de coleta e triagem, entre outras medidas, são apontadas como alternativas no dia a dia para ampliar a quantidade de resíduos reciclados no país.
De acordo com o último levantamento da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), apenas 8,7% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) produzidos no ano passado foram devidamente reciclados. Desses, 65% vieram de sistemas de coleta informal, ou seja, de catadores de resíduos não associados ou formalizados.
Os números indicam a área como um flanco de oportunidades não só ambientais, mas também econômicas. Fato percebido pela Europa há mais de uma década, no caso das máquinas coletoras de embalagens que premiam os consumidores que levam os materiais até os pontos de coleta.
No caso da Noruega, por exemplo, o sistema de logística reversa com máquinas alcançou mais de 95% de garrafas plásticas recicladas – nível que o Brasil só alcança com as latas de alumínio a partir de uma grande estrutura de logística em todo o país.
Na Alemanha, o sistema “Pfandautomat” funciona há 30 anos incentivando a reciclagem com um sistema de caução em que o consumidor paga um valor extra pela garrafa e o resgata quando a devolve, obrigando que os produtores mantenham um nível de 70% de reuso das embalagens.
Já no Brasil, medidas semelhantes ainda andam timidamente. O programa Retorna Machines da Ambipar, por exemplo, conta com equipamentos automáticos de coleta que recebem embalagens de plástico, vidro e alumínio em troca de Pix direto na conta, descontos no transporte público e aplicativos de mobilidade ou mesmo contas de energia, dependendo da região.
Com 800 equipamentos instalados em 134 cidades de 19 unidades federativas, o sistema tem cerca de 500 mil usuários ativos, dos quais 70% utilizam as máquinas duas ou mais vezes por mês e levam de cinco a seis embalagens por depósito.
Em 2025, o programa recebeu cerca de 50 milhões de embalagens, das quais 60% eram de plástico e alumínio.
Em comparação, o país produziu aproximadamente 13 milhões de toneladas de embalagens em geral no ano de 2024, sendo que um milhão de toneladas foi enviada à reciclagem (31% de papel, 31% de vidro, 20% de plástico, 17% de metal e 1% de outros
materiais).
Para Felipe Nassar Cury, head de Pós-consumo da Ambipar, a estratégia de incluir o cidadão no processo tem se mostrado um ganho no caso do programa Retorna Machines.
“O maior valor do programa é conectar pessoas ao impacto positivo que podem gerar no dia a dia. Cada embalagem retornada simboliza menos pressão sobre recursos naturais e mais oportunidades para a cadeia da reciclagem. As Retorna Machines têm registrado um nível crescente de engajamento da população brasileira, com adesão acima do previsto em grande parte das cidades onde o programa foi implantado”, afirma.
Todo o material recolhido nas máquinas são rastreáveis digitalmente e passam por unidades especializadas e em centrais operadas ou apoiadas por cooperativas, antes de retornarem às indústrias.
“Esse ciclo, que conecta tecnologia, logística reversa e inclusão socioprodutiva, reduz a pressão sobre recursos naturais, diminui emissões associadas à extração de matérias-primas e melhora os índices municipais de recuperação de resíduos”, completa Cury.





