Com mais de 35 milhões de brasileiros fora do radar bancário, a CloQ propõe estratégias práticas para transformar a exclusão financeira em oportunidade de crescimento sustentável
No Brasil, cerca de 35,3 milhões de adultos — 21,7% da população — permanecem invisíveis ao sistema financeiro formal, segundo levantamento da Serasa Experian. Esses cidadãos não possuem conta, cartão de crédito, histórico de consumo ou qualquer registro de crédito ativo, o que os impede de acessar serviços básicos e de construir uma trajetória financeira formal.
Para Rafa Cavalcanti (foto em destaque), CEO da CloQ, startup especializada em soluções de análise de crédito e dados alternativos, o desafio é também uma oportunidade. “A exclusão não é necessariamente ausência de renda. Muitos desses brasileiros trabalham, consomem, movimentam dinheiro todos os dias — mas o sistema não os enxerga. Com dados e tecnologia, é possível mudar isso de forma escalável e responsável”, afirma a executiva.
De acordo com dados recentes do Banco Central de 2024, 84% dos adultos brasileiros já possuem conta bancária, um avanço relevante nos últimos anos. Ainda assim, a inclusão financeira permanece desigual: grande parte da população de baixa renda segue enfrentando barreiras para acessar crédito, produtos e informação de qualidade. Para que o sistema financeiro alcance quem ficou à margem, será preciso repensar a forma de avaliar, comunicar e oferecer soluções a esses novos públicos.
Com isso, Rafa Cavalcanti destaca cinco caminhos práticos que podem ajudar instituições financeiras a destravar a inclusão de clientes invisíveis e expandir o alcance do crédito no país.
1. Utilizar dados alternativos para análise de crédito
O uso de informações de consumo, pagamentos digitais e hábitos cotidianos pode substituir ou complementar o histórico bancário tradicional. Modelos baseados em dados alternativos ajudam a identificar a capacidade de pagamento de quem ainda não possui um score formal.
2. Simplificar processos de identificação e onboarding digital
Mais de 60% das instituições financeiras ainda apontam a verificação de identidade como obstáculo à inclusão, segundo pesquisa da LexisNexis Risk Solutions. Automatização, biometria e integração de dados públicos e privados reduzem barreiras de entrada e tornam o processo mais rápido e seguro.
3. Criar produtos financeiros adaptados ao perfil invisível
Nano-créditos, contas digitais simplificadas e produtos com menor exigência documental ampliam o acesso de quem vive na informalidade. Esses formatos também ajudam o sistema a gerar dados e construir o histórico necessário para o acesso ao sistema financeiro formal.
4. Investir em educação financeira e construção de histórico positivo
A maior parte dos invisíveis não está negativada — apenas fora do radar. Segundo a Serasa Experian, 80,5% não têm restrições no CPF, mas também não possuem registros formais. Programas de educação financeira e incentivo à digitalização são essenciais para que esses consumidores criem hábitos de registro e consumo rastreável.
5. Construir ecossistemas de dados compartilhados
A consolidação de ecossistemas interconectados, com bancos, fintechs, varejistas e plataformas digitais, acelera o avanço da inclusão. O modelo de open finance permite cruzar informações de consumo e pagamento, ampliando a visão sobre o comportamento financeiro dos indivíduos e permitindo decisões de crédito mais justas.
“A era do cliente invisível está chegando ao fim. As instituições que conseguirem enxergar esse público de forma inteligente e empática sairão na frente — não apenas por ampliar mercado, mas por contribuir para um país mais justo e financeiramente integrado”, finaliza Rafa.





