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Bolsonaro posa com Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Ronaldo Caiado (GO), Wilson Lima (AM), Ratinho Júnior (PR) e Mauro Mendes (MT).
Donald Trump deixou bem claro que se as instituições brasileiras se ajoelharem perante ele e interromperem o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, os Estados Unidos podem rediscutir o tarifaço de 50% contra os nossos produtos.
Mesmo assim, governadores da direita, em um evento que reuniu uma plateia ideologicamente alinhada a eles, não deram importância à chantagem política do presidente norte-americano.
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Faz parte do jogo que pretendentes ao Palácio do Planalto culpem Lula pela situação, aproveitando a plateia composta de empresários e integrantes do mercado financeiro reunidos, em São Paulo, pela XP Investimentos, neste final de semana.
Mas, ao ignorar que uma nação estrangeira tenta subjugar o Supremo Tribunal Federal a inocentar Bolsonaro, apesar das provas ao contrário e pressionar o Congresso Nacional a aprovar uma anistia, eles mostram que soberania e autodeterminação não é um princípio que lhes é caro.
Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO) e Ratinho Júnior (PR) querem alcançar a Presidência da República.
Mas como confiar que, uma vez vez lá, não se curvarão a uma potência estrangeira quando ela obrigar o país a seguir sua vontade?
Os governadores poderiam ter criticado a diplomacia sob Lula e as opções de política comercial do atual presidente e, ao mesmo tempo, bater duramente na tentativa de interferir nas decisões do país e na traição cometida pelo clã Bolsonaro, que colocou pátria (os EUA), família (a própria) e liberdade (a de Jair) acima de empregos e negócios de milhares de brasileiros.
Optaram, de olho nos votos bolsonaristas, da plateia e da sociedade, passar um paninho.
É um cálculo político, claro. De olho nos institutos de pesquisas que apontaram uma recuperação da aprovação de Lula diante de sua reação ao tarifaço, evitam explorar o que gera voto para o adversário.
O problema é que, com isso, acabam demonstrando que não se importam com a dimensão de interferência em nossos assuntos domésticos.
Ratinho Júnior disse, no evento, que “Bolsonaro não é mais importante que essa relação comercial entre os Estados Unidos e o Brasil”. Mas é exatamente assim que o governo Trump está se comportando, e ignorar isso cobra um preço do nosso país.
As decisões sobre o tarifaço estão centralizadas na Casa Branca e no Departamento de Estado, o que reforça que a questão não é simplesmente comercial, mas principalmente (geo)política.
O Governo brasileiro vem tentando negociar as tarifas antes mesmo dos 50% impostos pelos EUA, quando Trump anunciou que taxaria o mundo, porém, sem efeitos.
O ponto, contudo, é que não basta fazer concessões — o que aumentariam o já grande superávit comercial norte-americano sobre nós, permitir que as big techs não tenham que responder às leis brasileiras como outras empresas fazem ou parar de falar sobre a importância de os Brics terem uma moeda própria.
Os EUA estão, neste momento, forçando a mão para livrar Jair. E, eventualmente, enfraquecer o atual governo a fim de ter um presidente alinhado a eles a partir de 2027.
Não digo com isso que os três governadores, uma vez no poder, cederiam a esta pressão de Trump porque ela nem seria necessária.
Eles concederiam um perdão ao ex-presidente como primeira medida de seus governos.
O que nos remete a outras perguntas: qual a importância de preservar o Estado democrático de direito e do repúdio a golpes de Estado para aqueles que almejam a Presidência da República?
Para uma parcela do mercado financeiro, democracia é irrelevante desde que ganhem com isso.
O mesmo vale para políticos da direita de grande estatura?
É fato que defesa de democracia não dá voto. Mas vale lembrar que subserviência para gringo também não.
Em tempo: De Miami, onde ataca os interesses do Brasil, o deputado federal Eduardo Bolsonaro criticou Tarcísio e Ratinho Jr por não defenderem Jair e criticarem o tarifaço.
Não, não é porque foram atacados por um dos fomentadores do caos que eles estão certos.
Eduardo, ele próprio um presidenciável, queria que seu plano fosse chancelado pelos governadores.
Ignora, em sua sede de poder, que, ao culparem Lula e passarem pano para Jair, fizeram exatamente isso.