A reação do governo Lula (PT) à elevação das tarifas de importação pelos Estados Unidos, anunciada nesta quarta-feira 30, foi marcada por uma leitura dividida: por um lado, o impacto imediato foi considerado mais brando do que se temia; por outro, setores estratégicos da economia ainda podem sofrer consequências relevantes.
O presidente está reunido no início da noite desta quarta com o vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB); o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o ministro da Casa Civil, Rui Costa; a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann; e o advogado-geral da União, Jorge Messias.
Em avaliação preliminar, integrantes do governo destacam que a decisão norte-americana, que eleva de 10% para 50% a alíquota de diversos produtos brasileiros, não é “tudo isso”. O alívio veio com a lista de exceções, que contempla 694 itens como suco de laranja, castanhas, petróleo, derivados energéticos, aeronaves e veículos.
No entanto, a preocupação recai sobre os produtos que ficaram de fora das exceções. Entre eles, estão café, cacau, carnes e frutas, itens centrais na pauta exportadora do Brasil. Conforme projeções do Ministério da Agricultura, esses setores já poderão sentir os efeitos da sobretaxa em agosto.
Apesar das incertezas, o governo acredita que haverá algum alívio no setor produtivo. A avaliação é que as principais multinacionais brasileiras, como a Embraer e grandes exportadoras de commodities energéticas e minerais, não serão diretamente afetadas, o que reduz o risco de crise sistêmica no comércio bilateral.
Internamente, Lula recebeu três alternativas como possíveis reações, que vão do gesto político mais extremo à diplomacia econômica multilateral:
- quebra de patentes: aventada em círculos mais ousados do governo, mas praticamente descartada por ser juridicamente controversa e diplomaticamente explosiva;
- regulamentação e taxação das big techs: já mencionada por Lula em eventos recentes como uma prioridade do governo. A medida, se acelerada, poderia ser vista como resposta indireta aos norte-americanos;
- denúncia à OMC: considerada a alternativa mais sensata, envolve acusar os EUA de sanção comercial desleal e buscar respaldo institucional para uma possível retaliação proporcional.
A tendência no Palácio do Planalto é adotar uma postura firme, mas não conflituosa, apostando na via diplomática e buscando o apoio de outros parceiros comerciais que também se sintam ameaçados por medidas unilaterais de Washington.