O governo tem pregado a separação de Poderes, e Lula seguiu essa linha. “O presidente da República tem que governar o país, e decreto é uma coisa do presidente da República”, disse. “Você pode ter um decreto legislativo quando você tem alguma coisa que fira muito a Constituição, o que não é o caso. O governo brasileiro tem o direito de propor IOF, sim.”
Lula tem justificado os aumentos como “justiça tributária e social”. “O dado concreto é que os interesses de poucos prevaleceram dentro da Câmara e do Senado, o que eu acho um absurdo”, afirmou o presidente.
É precisamente esse discurso, visto como um estímulo ao “nós contra eles”, que tem irritado o Congresso. Em vídeo publicado nas redes sociais nesta semana, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que, “no mesmo dia em que derrubamos [o decreto], aprovamos outras três medidas importantes para o nosso país”.
Lula chamou a decisão de Motta de pautar a urgência da derrubada do IOF “absurda”. “O erro, na minha opinião, foi o descumprimento de um acordo, que tinha sido feito no domingo [8 de junho] à meia noite na casa do presidente Hugo Motta”, disse o presidente. Segundo o governo, havia um acordo para que a equipe econômica debatesse alternativas a serem propostas em conjunto.
Menos de 20 dias depois, Motta pautou a votação do projeto que revoga o aumento do IOF. Como mostrou o UOL, Motta se recusou a conversar com a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, sobre o tema. Ele não atendeu nem a apelos de aliados para discutir a votação na reunião de líderes partidários, antes de levar a matéria ao plenário.
O governo foi pego de surpresa. O projeto que derruba o decreto do aumento do IOF foi votado nas duas Casas —uma seguida da outra, um movimento raro— com derrota incontestável para o presidente em ambos os casos.