O presidente Lula (PT) cobrou fidelidade dos ministros do centrão durante reunião ministerial no Palácio do Planalto nesta terça-feira (26) e sugeriu que deixem o governo caso não se sintam confortáveis para defendê-lo.
Ao final do encontro, ao fazer um discurso político, o petista se dirigiu diretamente aos ministros do União Brasil e do PP para cobrar que eles se posicionem durante atos de oposição organizados por seus partidos.
Um dos eventos mencionados pelo presidente, a homologação da federação entre as duas legendas na semana passa contou com a presença do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem Lula se referiu na reunião como candidato à Presidência em 2026.
Dizendo-se defensor de sua equipe, sem distinção partidária, o petista afirmou esperar que seus ministros também defendam sua administração. Ele chegou a dizer que continuaria amigo de seus ministros, mas pediu que eles se sentissem à vontade para conversar sobre o futuro e seguissem seus caminhos se for o caso.
Ainda segundo relatos, Lula afirmou que não gostaria de constranger ninguém, mas tampouco de ser constrangido.
Nas últimas semanas, os atos de formalização da federação União Progressista, que reúne União Brasil e PP, foram marcados por discursos de oposição ao governo petista.
Mencionando especificamente o ato de homologação da federação, Lula disse que seus ministros deveriam ter levantado a mão para defender a gestão, em uma demonstração de que haveria divergências dentro de seus partidos. Nesse momento, insinuou que, do contrário, deveriam deixassem os cargos.
O União Brasil tem três representantes na Esplanada: Celso Sabino (Turismo), Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional).
O PP, por sua vez, tem André Fufuca (Esporte), além de ter indicado o presidente da Caixa Econômica Federal. Na avaliação de participantes da reunião ministerial, a passividade de seus ministros diante de críticas ao seu governo foi o estopim de Lula para o desabafo.
Ainda segundo relatos, ao mencionar que Tarcísio deve ser candidato à Presidência em 2026, Lula disse que, em algum momento, os ocupantes de cargos do Republicanos vão ter que tomar uma decisão.
Neste momento, o petista teria olhado para o ministro Silvio Costa Filho, deputado federal licenciado do partido. Ainda segundo relatos, o presidente afirmou que não pedirá para ninguém deixar o cargo, mas que espera que todos tenham consciência.
Ao falar dos laços com os ministros, Lula disse que não tinha pretensão de ser amigo de Antonio Rueda, presidente do União Brasil. Ele disse que não gosta de Rueda e que a recíproca também é verdadeira.
Os dois se reuniram pela primeira vez em julho deste ano. Aliados do dirigente partidário classificaram o encontro como uma conversa dura, já que ocorreu no dia seguinte à derrubada do decreto presidencial que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) pelo Congresso.
Rueda é um dos articuladores da fusão dos partidos de oposição, ao lado do presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI). Sobre o senador, Lula disse que ele foi ministro de Jair Bolsonaro (PL) e enfrenta dificuldades para se reeleger no Piauí ao Senado no próximo ano.
Ainda segundo relatos, o petista lembrou ter sido eleito sem aliança com os partidos do centrão. Ao final da fala, Sabino e Fufuca foram conversar com ele.
Lula aproveitou para falar de recente derrota no governo no Congresso e reconheceu como um erro político o descuido que levou a oposição a emplacar representantes nos dois principais cargos da CPI do INSS.
Segundo relatos, disse que não responsabiliza a oposição por isso, já que ela fez o papel dela. De acordo com um ministro, o petista afirmou ainda que os oposicionistas tinham na comissão parlamentar sua única boia de salvação.
Na reunião, o presidente disse ainda que só deixaria de concorrer nas eleições de 2026 por questões de saúde. Ele também afirmou que está confiante, em seu melhor momento, e que nunca houve um governo com tantas entregas.
No seu discurso de encerramento, também cobrou do ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) ações voltadas à garantia de segurança da população de baixa renda, nas periferias.
Ao fazer uma apresentação sobre medidas econômicas, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse rezar pelo santo que baixe juros, o que foi entendido por participantes como uma crítica à política monetária conduzida pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Ainda no encontro, o ministro Sidônio Palmeira (Secom) apresentou aos colegas o novo slogan da gestão: “Governo brasileiro – do lado do povo brasileiro”, que substituirá “União e Reconstrução”. Ele também mostrou uma peça publicitária com o novo mote e indicou que ela será divulgada nos próximos dias.
A ideia da nova frase é reforçar a defesa da soberania brasileira, que vem sendo tratada pela gestão petista em meio à ofensiva do governo Donald Trump contra o país com a imposição da sobretaxa de 50% a produtos brasileiros e sanções a autoridades. No encontro, Lula e quase a maioria dos ministros usaram um boné com a frase nacionalista “O Brasil é dos brasileiros”.