Essa discordância é o cerne das crises, apontam aliados. Em suas falas e decisões, Haddad tem procurado mostrar e garantir o comprometimento com o controle fiscal, com a busca pelo déficit zero e com o arcabouço, proposto por ele e defendido por Lula (pelo menos publicamente). De forma sutil, o objetivo do ministro é dar uma esfriada na economia, mirando no controle da inflação e na consequente queda da taxa de juros pelo BC.
O presidente, por sua vez, segue o compromisso com os investimentos e estímulo ao consumo. Só nos últimos meses, o governo anunciou o programa de crédito consignado, o reajuste dos valores máximos de financiamento do Minha Casa, Minha Vida e a isenção da conta de luz para 60 milhões de pessoas, além do novo vale-gás, a ser revelado em breve, mas que deverá impactar outros 20 milhões de brasileiros.
Embora defenda sempre seu ministro, pupilo assumido, Lula não esconde que seguirá por este caminho. Em eventos e discursos, costuma repetir que é por meio do consumo “dos mais pobres” que a economia gira, pois “quando o pobre compra mais, a indústria contrata mais e a roda gira” —uma plataforma que estruturou seus primeiros mandatos.
Essa diferença de caminhos aponta para um debate dentro do governo e do PT. Ao UOL, os poucos defensores de Haddad no partido dizem que o ministro sabe “disso tudo” e faz “como pode”, ao passo que governistas mais fervorosos apontam que é por meio desses anúncios que Lula trilha o caminho para a reeleição no ano que vem. Para eles, sem o investimento social, o quadro do presidente, que já não é dos mais folgados, fica ainda mais complicado.