O deputado federal José Medeiros (PL-MT) adotou um discurso diferente ao comentar a operação da Polícia Federal que teve como alvo o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), aliado político, encontrado com R$ 469,7 mil em dinheiro durante cumprimento de mandado de busca e apreensão na semana passada. Conhecido por críticas recorrentes a parlamentares petistas, a quem costuma associar a práticas de corrupção, Medeiros afirmou que o caso envolvendo integrantes do PL não pode ser tratado da mesma forma.
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Em declarações à imprensa, o deputado disse que a apreensão de dinheiro, por si só, não caracteriza crime. “Não falou nada que ele estava roubando. Encontrou um dinheiro em casa e qualquer pessoa pode ter dinheiro em casa. Agora, tem que ver o seguinte: é fruto de roubo? Aí é outra coisa”, afirmou. Em seguida, acrescentou que a situação é incomum, mas que precisa ser esclarecida. “Essa história aí não é normal, não”, disse.
Medeiros afirmou que já havia comentado com Sóstenes sobre a possibilidade de uma operação. Segundo ele, haveria uma estratégia política para associar parlamentares da oposição a casos de corrupção. “Uma das estratégias do PT vai ser querer jogar todo mundo para a vala da corrupção”, declarou. Para o deputado, a investigação demonstra um nível elevado de fiscalização sobre despesas parlamentares. “Quando o escrutínio está nas filigranas da cota parlamentar, é porque o desespero está grande”, afirmou, ao dizer que passará a cobrar a análise das contas de todos os deputados.
Sobre a origem do dinheiro encontrado com Sóstenes Cavalcante, Medeiros disse acreditar na versão apresentada pelo aliado, de que os valores são provenientes da venda de um imóvel. “No momento em que ele mostrar documentos e provar isso, está tudo resolvido. Se não, aí é outra coisa. Mas até agora não tem nada”, afirmou.
A operação da Polícia Federal foi deflagrada na sexta-feira (18) e também teve como alvo o deputado Carlos Jordy (PL-RJ). A investigação apura suspeitas de uso irregular da cota parlamentar, verba destinada a custear despesas do mandato. Segundo a PF, os desvios teriam ocorrido por meio de uma empresa de fachada, uma locadora de veículos, utilizada para receber recursos públicos.
Os dois parlamentares negam irregularidades e afirmam ser vítimas de perseguição política. Sóstenes Cavalcante declarou que o dinheiro apreendido tem origem lícita e decorre da venda de um imóvel de sua propriedade.
Relatório da Polícia Federal aponta que Sóstenes e Jordy teriam desviado recursos da cota parlamentar em benefício próprio, com participação de assessores dos gabinetes. Entre os investigados estão Adailton Oliveira dos Santos, assessor ligado ao PL, e Itamar de Souza Santana, assessor de Jordy. De acordo com a PF, ambos teriam realizado movimentações financeiras incompatíveis com a renda declarada, com valores milionários em créditos e débitos entre 2023 e 2024.
Decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que embasou a operação, aponta indícios de ocultação e dissimulação de valores de origem ilícita, com possível caracterização do crime de peculato. A investigação também cita a existência de outros envolvidos ainda não identificados, que integrariam uma suposta organização criminosa com divisão de tarefas.
Apesar dos apontamentos da PF, Medeiros afirmou que, no entendimento dele, não há elementos suficientes, até o momento, para imputar crimes aos deputados. “Se uma pessoa tem cuidado com os recursos públicos e consegue pagar menos em um contrato, isso virou suspeita agora?”, questionou, ao criticar também a inclusão de Carlos Jordy na investigação.
As apurações seguem em andamento, com análise de mensagens extraídas de celulares, depoimentos e quebras de sigilos bancários autorizadas pela Justiça.
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