As ações do Banco do Brasil (BBAS3) têm passado por dias difíceis na Bolsa, com quedas consecutivas em meio à visão de resultados negativos no segundo trimestre de 2025 (2T25), com números nada animadores para os empréstimos ao agronegócio.
Porém, na sessão desta sexta-feira (1), os papéis operavam próximos à estabilidade, indicando um pregão tranquilo para BBAS3 após muitas sessões turbulentas.
Mas, às 15h30 (horário de Brasília), tudo mudou. Em poucos minutos, as ações passaram da estabilidade para uma forte queda de 6,52%, a R$ 18,35, às 16h (horário de Brasília). Os ativos fecharam em queda de 6,85%, a R$ 18,35.

Veja abaixo o gráfico mostrando a forte queda dos ativos nesta sexta-feira (1):

Muitas foram as especulações sobre os motivos para essa queda, passando de novas revisões para baixo por instituições financeiras para os números da companhia até temores em relação à lei Magnitsky.
De acordo com a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, Eduardo Bolsonaro teria pedido bloqueio total de bens de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) já enquadrado na Lei Magnitisky – e que o governo Trump estaria examinando, também, a possibilidade de aplicar sanções diretamente a instituições financeiras brasileiras, o que poderia ter resultado, no período da tarde, em acentuação de perdas concentrada na ação do BB.
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Porém, dados divulgados pelo Banco Central durante a tarde apareceram como o grande e imediato motivo de preocupação para os investidores do BB – trazendo números ainda piores do que os analistas de mercado projetavam.
Durante a tarde, o BC publicou dados operacionais de maio das instituições financeiras, com dados muito negativos para o Banco do Brasil. A instituição estatal registrou um lucro líquido bastante fraco, de R$ 516 milhões no mês, indicando um lucro líquido de R$ 3,5 bilhões (de forma run rate, ou métrica financeira que permite estimar o desempenho futuro de uma empresa com base em seus resultados atuais) no trimestre. Este número está 31% abaixo da projeção do Bradesco BBI para o período, que é de R$ 4,89 bilhões. Enquanto isso, a carteira de crédito permaneceu estável.
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O Morgan Stanley, por sua vez, projetou o lucro do Banco do Brasil a R$ 3,345 bilhões levando em conta os dados do BC, uma queda trimestral de 50% e de 63% ano a ano. “A proxy do Banco do Brasil sugere outro resultado trimestral mais fraco, provavelmente devido a mais problemas com a inadimplência do agronegócio”, apontou a equipe de análise. Por outro lado, analistas destacaram projeções positivas para BTG Pactual (BPAC11) e Itaú Unibanco (ITUB4) a partir dos dados do BC.
Mais cortes de projeções
Cabe destacar que, mais cedo, o BTG Pactual havia cortado as previsões para o banco e reduzido o preço-alvo de R$ 30 para R$ 24, reiterando recomendação neutra.
No relatório em questão, a equipe de análise levou em conta os dados divulgados individualmente pelos bancos em abril — disponíveis no Banco Central, com o BB reportando lucro líquido de R$ 1,7 bilhão – a deterioração contínua da carteira de crédito agro nos meses de maio e junho (segmento no qual o BB é líder), e os feedbacks recentes de participantes do mercado e da própria companhia. Neste relatório, o BTG apontou projeção de lucro líquido de R$ 5 bilhões no 2T (ROE, ou retorno sobre o patrimônio líquido, de 11,1%) e de R$ 23,5 bilhões em 2025 (ROE de 12,5%), quedas de 23% e 20% em relação às suas estimativas anteriores, e estão 3% e 14% abaixo do consenso, respectivamente.
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Confira:
“Esperamos que, juntamente com os resultados do 2T, o BB revise seu guidance de lucro líquido ajustado, que estimamos agora entre R$ 21–25 bilhões, além de uma redução do payout, provavelmente para 30%”, apontou a equipe de análise.
O banco vê deterioração do agro impulsionada por fatores cíclicos e estruturais. “Embora esse segmento tenha se destacado na economia durante esse período, o endividamento dos produtores também aumentou de forma contínua. Esse crescimento acelerado, somado a desafios recentes de preços e clima, tem gerado uma deterioração relevante dos ativos, tanto por fatores cíclicos quanto estruturais — impactando diretamente os resultados do banco e exigindo novas revisões de expectativa”, apontam os analistas.
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Com a queda mais acentuada nos preços de commodities importantes para o Brasil — como a soja — entre 2023 e 2024, o nível de alavancagem dos produtores aumentou de forma expressiva, o que resultou em crescimento da inadimplência nas carteiras de crédito, apontou o banco. Nesse contexto, o banco já esperava um 1T mais fraco para o Banco do Brasil, mas principalmente em função das mudanças contábeis impostas pela Resolução 4.966, que determinou exigências maiores de provisionamento para o crédito rural. No entanto, à medida que aprofundou a análise — inclusive conversando com o time do BB e com outros agentes de mercado especializados em crédito agro — o BTG passou a entender que a deterioração tem raízes mais estruturais do que inicialmente imaginado.
Na visão do BTG, há algumas razões que apontam para desafios estruturais no segmento agro do BB: (ii) O banco pode ter deixado de ser o banco principal de alguns produtores, o que o empurra para o fim da fila de prioridades de pagamento; (ii) segundo relatos do mercado, o BB utiliza armazenagem terceirizada para os grãos dados como garantia, o que enfraquece sua posição em caso de execução de colaterais; (iii) a A Lei 14.112/20 permitiu que produtores rurais recorressem à recuperação judicial, impedindo a execução de hipotecas. Apesar da lei existir desde 2020, os impactos começaram a ser sentidos apenas recentemente, pois o período de 2021 a 2023 teve inadimplência historicamente baixa; (iv) muitos novos produtores passaram a cultivar soja atraídos pelos preços elevados nos últimos anos.
“Esses não são os clientes tradicionais do BB e, diante de dificuldades, têm recorrido à judicialização sem receio de perder o acesso ao crédito subsidiado — muitos podem simplesmente abandonar a atividade”, avalia o BTG.
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(com Reuters)