O mercado brasileiro vive uma terça-feira (12) de otimismo duplo: o dólar voltou a operar abaixo de R$ 5,40 pela primeira vez desde setembro do ano passado e o Ibovespa rompeu os 138 mil pontos, atingindo o maior nível desde maio. A combinação de inflação mais fraca no Brasil e nos Estados Unidos reaqueceu as apostas por cortes de juros nas duas economias, impulsionando moedas e ativos de risco.
Nesta tarde, por volta das 14h, o dólar à vista recuava 0,89%, cotado a R$ 5,395. Já o Ibovespa subia 1,95%, a 138.273 pontos, sustentado por papéis como Sabesp (SBSP3), em alta de mais de 10%, e BTG Pactual (BPAC11), com ganhos que passavam de 12% após resultados corporativos acima do esperado.
IPCA surpreende para baixo no Brasil
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho avançou 0,26%, bem abaixo da mediana das estimativas, que apontava para 0,37%. Foi também menor que a previsão mais otimista entre as casas consultadas, em resultado puxado pela queda em Alimentação e Bebidas e Vestuário, enquanto Habitação e Despesas Pessoais exerceram as principais pressões de alta.
No acumulado de 12 meses, a inflação desacelerou de 5,35% para 5,23%, ainda acima da meta de 3% perseguida pelo Banco Central, mas reforçando o cenário de alívio gradual.
Para Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, o dado é um alento, mas não elimina pressões. “O resultado traz algum alívio para o Copom, mas ainda evidencia pressões nas categorias inerciais”, afirma. Já Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, vê necessidade de prudência: “A inflação de serviços segue elevada e os núcleos permanecem acima do nível compatível com a meta, sinalizando a necessidade de manter a política monetária contracionista por um período prolongado”.
Ainda assim, analistas já começam a precificar cortes da Selic antes do que o esperado, com apostas se deslocando para dezembro de 2025 ou, no máximo, janeiro de 2026.
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CPI dos EUA reforça cenário de afrouxamento monetário
Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,2% em julho, com alta anual de 2,7%. O núcleo acelerou de 2,9% para 3,1%, impulsionado por serviços como assistência médica e passagens aéreas. Apesar dessa alta no núcleo, o mercado interpretou o dado como benigno, principalmente diante da desaceleração do mercado de trabalho nos últimos meses.
“O mercado gostou do dado de inflação divulgado hoje, pois isso significa que o Fed poderá reduzir os juros sem obstáculos no próximo mês”, avalia Seema Shah, estrategista-chefe da Principal Asset Management.
Segundo ferramenta do CME Group, as chances de corte de 25 pontos-base na reunião de setembro subiram para 90,1%. O cenário de redução acumulada de 75 pontos-base até dezembro tornou-se o mais provável, com 55,1% de probabilidade.
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A pressão política, por outro lado pesa: o presidente Donald Trump chegou a ameaçar processar o presidente do Fed, Jerome Powell, acusando-o de “trabalho horrível e grosseiramente incompetente”, um tom que aumenta o ruído, mas que não alterou o consenso do mercado sobre cortes de juros ainda neste ano.
Efeito no câmbio e na Bolsa
Com juros mais baixos nos EUA, o dólar perde força globalmente, pois a remuneração dos títulos americanos diminui e investidores buscam mercados mais rentáveis, como o Brasil. Ao mesmo tempo, a inflação mais baixa por aqui reforça a confiança no real e sustenta a valorização cambial.
O Banco Central brasileiro também contribuiu para a liquidez, ao realizar leilão de até 35 mil contratos de swap cambial para rolagem de vencimentos, ajudando a suavizar oscilações no câmbio. Um leilão de títulos do Tesouro com demanda acima do esperado também ajudaram a amenizar taxas.
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Na Bolsa, além do ambiente macro favorável, o noticiário corporativo deu combustível extra ao rali. “Os resultados trimestrais têm contribuído para o desempenho do Ibovespa. Hoje, BTG Pactual e Sabesp se destacam por balanços que surpreenderam positivamente”, diz Rodrigo Moliterno, diretor de renda variável da Veedha Investimentos.
A Sabesp reportou Ebitda ajustado de R$ 3,4 bilhões, 10% acima do consenso, puxado por redução de custos e reversão de provisões. Já o BTG Pactual sinalizou confiança em manter retorno sobre patrimônio de 24% ou mais em 2025, após registrar ROAE anualizado de 27,1% no segundo trimestre.
O que monitorar
No Brasil, a expectativa é de deflação em agosto, influenciada pelo “bônus de Itaipu” na conta de luz, o que pode reforçar apostas de corte da Selic no fim do ano. No exterior, o dado de emprego de agosto nos EUA, previsto para 5 de setembro, será determinante para a decisão do Fed.
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Por enquanto, a convergência de fatores domésticos e externos favoráveis dá ao investidor brasileiro um dia de alívio no câmbio e de fôlego extra para a Bolsa.





