O Ministério Público do Estado (MPE) pediu que o policial militar Heron Teixeira, agente da Rotam, e o caseiro de sua chácara Alex Roberto de Queiroz, sejam julgados pelo Tribunal do Júri pelo assassinato do advogado Renato Nery. A dupla confessou o envolvimento direto no crime. Heron foi o “coordenador” de toda execução, enquanto Alex foi quem puxou o gatilho no dia 5 de julho de 2024, enquanto Nery chegava em seu escritório na capital.
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Nesta quarta-feira (23), o promotor de Justiça Rinaldo Segundo ofereceu as razões finais do MPE à 14ª Vara Criminal de Cuiabá, detalhando as provas que sustentaram a acusação, e pediu a submissão da dupla ao júri popular.
Heron confirmou que intermediou o crime a pedido de Jackson, aceitando a proposta de R$ 200 mil, mas alegou que não acreditava que Alex realmente mataria o advogado. O agente da Rotam confessou ainda que o total seria pago em parcelas, sendo que apenas R$ 100 mil foram de fatos repassados pelos mandantes. Heron chegou a confirmar que foi diversas vezes até Primavera do Leste para cobrar Jackson Pereira pessoalmente.
Jackson, também denunciado, seria amigo próximo de Heron há cerca de 10 anos e foi ele quem o procurou para trama, após ser contatado pelos produtores rurais Cesar Sechi e Julinere Goulart Bentos, que perderam disputa judicial contra Nery por diversos hectares de terra em Novo São Joaquim.
Heron esclareceu que os verdadeiros mandantes do assassinato eram o casal Julinere Goulart Bentos e Cesar Jorge Sechi, residentes no mesmo condomínio que Jackson Pereira Barbosa em Primavera do Leste. Julinere confessou seu envolvimento e o do marido no crime e, por isso, também são réus pelo homicídio, respondendo como os mentores intelectuais. “Ele não ia viver para gastar o que tomou de mim”, teria sido a frase por Julinere, Ela e Cesar seguem presos enquanto aguardam julgamento.
Num primeiro momento, Jackson alegou que o mandante era seu sogro, mas depois admitiu a mentira e revelou que o motivo seria uma disputa de terras. Segundo a confissão de Heron, Jackson teria recebido R$ 120 mil de Julinere Goulart Bentos via PIX antes do crime.
Quanto aos pagamentos, Heron confirmou que dos R$ 200 mil prometidos, foram pagos apenas cerca de R$ 100-120 mil em parcelas, e que ficou apenas com R$ 10 mil para suas despesas, repassando o restante para Alex. Os pagamentos ocorreram através de Icaro Nathan Santos Ferreira (que serviu como intermediário na primeira entrega) e posteriormente em encontros diretos com Jackson Pereira Barbosa.
Alex prestou três depoimentos. No primeiro interrogatório, negou, depois admitiu parcialmente e, por fim, confessou o crime: afirmou que estava endividado e aceitou a proposta de Heron, oferecida num churrasco. Diante do aceite, alugou a arma por R$ 1.500 de um conhecido do crime organizado.
Ele descreveu como espionou a vítima por semanas e, ao vê-la chegando no escritório, confessou que atirou em sua porta (com a arma disparando sete tiros de uma vez). Em seguida, afirmou que queimou roupas, capacete e até o celular para apagar evidências.
Inicialmente, Deiviane Ribeiro da Cruz, esposa de Alex, negou qualquer ligação do crime com a moto Honda Titã vermelha, usada na execução, registrada em seu nome, mas depois mudou sua versão, afirmando que Heron (um policial militar) e outros recolheram o veículo após o crime e o esconderam por meses em uma “chácara da ROTAM”.
Já Kaster Huttner Garcia, outra testemunha-chave, relatou que o crime foi encomendado por um casal de fazendeiros de Primavera do Leste em uma disputa de terras, com o policial Jackson Pereira Barbosa (candidato a vereador) como intermediário, Heron como coordenador e Alex como executor – que usou uma moto sem placa e uma pistola 9mm defeituosa, adaptada para disparar em rajada, fornecida por Icaro Nathan Santos Ferreira, outro policial da ROTAM.
Diante das confissões, perícias e depoimentos convergentes, o Ministério Público pede que os dois réus sejam pronunciados e julgados pelo Tribunal do Júri, sustentando que as provas mostram Alex como executor e Heron como articulador do homicídio qualificado. O processo agora segue para análise judicial.