Início FINANÇAS por que índice caiu “apenas” 0,54% na sessão pós tarifaço de Trump?

por que índice caiu “apenas” 0,54% na sessão pós tarifaço de Trump?


O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, mas distante da mínima, conforme o efeito do anúncio de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos aos produtos do Brasil concentrou-se em alguns papéis, como Embraer (EMBR3), enquanto Vale (VALE3) teve desempenho robusto, atuando como contrapeso positivo com a alta do minério, o que ajudou a amenizar a baixa do índice. A commodity subiu 3,67% hoje em Dalian, na China.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou com declínio de 0,54%, a 136.743,26 pontos, após chegar a 136.014,47 pontos na mínima do dia (-1,07%). Na máxima, marcou 137.471,88 pontos (-0,01%). O volume financeiro somou R$26,3 bilhões.

Após o fechamento do pregão na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre todas as exportações do Brasil para aquele país a partir de 1º de agosto, separada de todas as tarifas setoriais existentes — caso do aço e do alumínio, por exemplo.

FERRAMENTA GRATUITA

Simulador da XP

Saiba em 1 minuto quanto seu dinheiro pode render

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que seu governo primeiro buscará negociar com os EUA, mas alertou que adotará a reciprocidade caso essas conversas não deem frutos.

Entre estrategistas, a avaliação é de que a medida tem um impacto direto limitado na economia e no mercado de ações, embora possa afetar de forma mais acentuada algumas empresas e ter reflexos indiretos na taxa de câmbio e na inflação, além de adicionar incertezas e volatilidade aos negócios.

“Embora as tarifas unilaterais dos EUA sobre o Brasil não sejam totalmente irrelevantes, seu impacto macroeconômico seria modesto”, avaliou o economista-chefe da gestora ARX, Gabriel Barros, citando que o perfil de exportação do país, centrado em commodities com demanda global, oferece uma valiosa proteção.

Continua depois da publicidade

“Quando combinado com uma resposta coordenada de política econômica, o Brasil está bem posicionado para neutralizar efeitos adversos e preservar a estabilidade econômica, mesmo em um cenário de aumento do protecionismo comercial global”, afirmou Barros.

No mesmo sentido, estrategistas do Santander chefiados por Aline Cardoso afirmaram em relatório enviado a clientes que, a menos que a situação se agrave ainda mais, não antecipam um impacto relevante sobre as ações brasileiras, com exceção de algumas empresas específicas.

Oportunidade na renda fixa internacional: acesse gratuitamente a seleção mensal da XP para investir em moeda forte

Continua depois da publicidade

Parceria comercial e desafios

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tanto em exportações quanto em importações, respondendo por 12% e 15% do total, respectivamente, o que somou US$ 40,3 bilhões em 2024 — o equivalente a 1,9% do PIB. Apesar da relevância, a XP avalia que o impacto potencial das tarifas pode ser limitado, já que a maior parte das exportações brasileiras para os EUA é composta por commodities, que tendem a ser redirecionadas para outros mercados.

No lado das importações, a XP destaca que os equipamentos de geração de energia lideram a pauta, mas com uma composição menos concentrada em relação às exportações. Entre as empresas listadas, a casa aponta a Embraer (EMBR3) como a mais exposta ao novo cenário, seguida por Suzano (SUZB3) e Tupy (TUPY3).

Para a Vale (VALE3), o impacto é limitado considerando a pequena porcentagem de receitas nos EUA, inferior a 1%. Nas siderúrgicas, as tarifas já estão em vigor e a exposição é baixa.

Continua depois da publicidade

No setor discricionário, Azzas (AZZA3) e Alpargatas (ALPA4) têm cerca de 10% das receitas nos EUA, mas o JPMorgan avalia que o impacto não será tão relevante.

“O impacto para as empresas de petróleo deve ser limitado, pois suas receitas estão principalmente ligadas aos preços internacionais das commodities, e a tarifa levaria basicamente a ajustes nos mercados de exportação”, apontam. Já para as distribuidoras de combustíveis, o mercado é essencialmente doméstico, mas podem enfrentar consequências indiretas que afetem a dinâmica das importações, como flutuações cambiais e volatilidade do mercado.

A XP também chama atenção para possíveis efeitos indiretos que devem ser monitorados, como a resposta do governo brasileiro ao anúncio, a chance de escalada para uma crise geopolítica mais ampla ou, alternativamente, a abertura de uma negociação comercial com os EUA. Além disso, há potenciais implicações sobre o câmbio, os fluxos financeiros, o investimento direto estrangeiro (IDE) e as eleições presidenciais brasileiras de 2026.

Continua depois da publicidade

O JPMorgan comenta que o anúncio de Trump foi um “banho de água fria” para o mercado acionário brasileiro, que vinha registrando entrada contínua de capital estrangeiro nos últimos três meses, em um momento positivo. Embora seja difícil prever como os mercados vão reagir, não se descarta um agravamento do cenário até que haja uma definição mais clara.

A Genial Investimentos destaca que “a despeito do histórico de idas e vindas na política comercial do governo Trump, a especificidade do caso brasileiro (que acabou ganhando contornos mais políticos do que econômicos) contribui para que seja mais difícil para os EUA considerarem voltar atrás dessa decisão”.

Para Otávio Araújo, consultor sênior da Zero Markets Brasil, ainda assim, a tarifa de 50% anunciada por Trump representa um desafio para o Brasil. O impacto direto será sentido nos setores exportadores, mas o efeito indireto pode ser uma retração nos investimentos e maior volatilidade econômica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu em nota oficial afirmando que qualquer medida unilateral de elevação de tarifas será respondida com reciprocidade, e destacou que o Brasil é um “país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”.

Na frente de dados, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,24% em junho, recuando 0,02 ponto percentual (p.p.) em relação a abril (0,26%). O dado veio ligeiramente acima do esperado.

Veja os destaques de ações do dia:

DESTAQUES

  • EMBRAER ON (EMBR3) recuou 3,7%, com analistas citando a empresa como uma das mais afetadas pela decisão de Trump. A Embraer disse que está avaliando os possíveis impactos em seus negócios. O JPMorgan estimou um efeito de 13% na receita e também chamou a atenção para aumento de custos no segmento de jatos executivos em razão da produção nos EUA, com reflexos nas margens. No pior momento, a ação caiu mais de 8%. Mesmo com a queda nos últimos quatro pregões, Embraer ainda sobe 34% no ano.
  • MINERVA ON (BEEF3) caiu 1,28%, reduzindo o declínio visto mais cedo (-9,5%). A companhia estimou um impacto potencial máximo ao redor de 5% de sua receita líquida, com base nos embarques brasileiros sujeitos à nova política de tarifas anunciada pelos EUA. No setor, MARFRIG ON (MRFG3) subiu 6,38% e JBS (BDR: JBSS32), listada nos EUA, ganhou 0,91%. Na visão do Goldman Sachs, as empresas de carne bovina podem ter efeito leve da nova tarifa, com a Minerva sofrendo relativamente mais.
  • VALE ON (VALE3) avançou 2,29%, em sessão positiva também para siderúrgicas, com CSN ON (CSNA3) valorizando-se 5,04%, USIMINAS PNA (USIM5) subindo 1,89% e GERDAU PN (GGBR4) fechando em alta de 0,54%. Analistas do Citi afirmaram que o impacto da nova tarifa parece limitado no setor. No caso do aço, citaram que já está sujeito a tarifas setoriais, logo, não é afetado, enquanto Vale pode redirecionar os volumes para outras regiões.
  • ITAÚ UNIBANCO PN (ITUB4) perdeu 3,08%, tendo como pano de fundo relatório do UBS BB cortando a recomendação da ação para “neutra”, embora o preço-alvo tenha sido elevado de R$37 para R$40. Na visão dos analistas, a forte valorização do papel no ano limita o potencial de “re-rating”. No setor, SANTANDER BRASIL UNIT (SANB11) cedeu 2,24%, BRADESCO PN (BBDC4) encerrou em baixa de 1,34%, BANCO DO BRASIL ON (BBAS3) recuou 1,12% e BTG PACTUAL UNIT (BPAC11) caiu 0,87%.
  • PETROBRAS PN (PETR4) cedeu só 0,25%, mesmo com a queda de mais de 2% do barril do petróleo Brent. De acordo com analistas do Bradesco BBI, o impacto direto da nova tarifa deve ser limitado no setor, dado que as empresas possuem exposição restrita às exportações para os EUA. Eles também citaram que ainda não está claro se as exportações de petróleo serão isentas da tarifa recentemente anunciada, já que, por exemplo, o petróleo não foi incluído no anúncio no “Dia da Libertação”.
  • LOCALIZA ON (RENT3) avançou 2,46%, renovando máximas na sessão, após o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin afirmar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta quinta-feira decreto que prevê a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros que tiverem maior capacidade de reciclagem e emitam menos gases de efeito estufa. Analistas do UBS BB consideraram a notícia positiva para Localiza e Movida. MOVIDA ON (MOVI3), que não está no Ibovespa, saltou 6,8%.
  • COSAN ON (CSAN3) encerrou o dia negociada em queda de 3,03%, com o anúncio de Trump no radar, mas também preocupações sobre eventuais medidas retaliatórias do Brasil, com taxas mais altas para produtos norte-americanos, o que poderia gerar um cenário de maior inflação, com potencial impacto nas taxas dos DIs. Isso afetaria empresas com alta exposição ao CDI, como a Cosan. RAÍZEN PN (RAIZ4), joint venture da Cosan com a Shell, caiu 1,86%.
  • SUZANO ON (SUZB3) recuou apenas 0,3%, mesmo com analistas citando a empresa entre as mais afetadas pela medida de Trump, entre eles os do BTG Pactual. “O principal desafio agora será verificar se a companhia conseguirá redirecionar esse volume para outras regiões, especialmente considerando que a demanda global por celulose, em particular na China, continua enfraquecida”, afirmaram. No setor, KLABIN UNIT (KLBN11) avançou 1,19%.
  • B3 ON (B3SA3) perdeu 2,83%, tendo como pano de fundo a notícia de que aSL Tools, que desenvolve plataforma de negociações eletrônicas de valores mobiliários e ativos financeiros, recebeu autorização da CVM para atuar como mercado de balcão organizado em crédito privado, reforçando o cenário de competição para B3. A plataforma da SL Tools agora poderá também ser usada para negociar debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA), entre outros.

(Com Reuters)



FONTE

Google search engine