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O prefeito Abilio Brunini (PL) discutiu com a professora da UFMT Maria Inês Barbosa, doutora em Saúde Pública, por causa do uso do pronome “todes”, que ele associou ao PT
O prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini (PL), voltou a protagonizar debates acirrados e, até mesmo desnecessários, por causa do que ele declara combater, que seria a ideologia partidária na Administração Pública Municipal. Gestão, por sinal, da qual ele é o chefe, mas algumas de suas muitas decisões acabam por reforçar a ideologia da extrema direta.Ou seja, contra a ideologia da esquerda, no melhor embate PL x PT.
Na quarta-feira (30), chamou a atenção o fato de o prefeito interromper, logo no início, a palestra da pesquisadora Maria Inês Silva Barbosa, mestre da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por ela ter cumprimentado a todos, a todas e a “todes”. Abílio tomou a palavra, repreendeu a palestrante, ameaçando deixar o evento, que faz parte das exigências do Sistema Único de Saúde (SUS), se a ideologia partidária não ficasse de fora do evento.
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Essa posição foi reafirmada após o término da abertura do evento pelo próprio prefeito, sem conseguir explicitar o porquê de tanta aversão à aqueles contrários à sua corrente partidária. A pesquisadora usou o pronome neutro “todes”.
“O prefeito sonha com o extermínio da esquerda no Brasil, principalmente o PT”, disse um vereador da base aliada, que pediu anonimato e que acrescebtou que o chefe do Palácio Alencastro não aceita argumentações e não admite nem quando é confrontado e que ele está errado. Segundo o parlamentar, o pedido de anonimato é pelo com receio do que chamou de “truculentas reações do gestor”.
A polêmica aconteceu durante a instalação da 15ª Conferência Municipal de Saúde de Cuiabá, que vai até esta quinta-feira (31), no Hotel GFazenda MT, em Cuiabá. O objetivo é discutir e aprimorar o Sistema Único de Saúde (SUS), reunindo profissionais da área, gestores públicos e a sociedade civil, para debater políticas e práticas relacionadas à Saúde no município.
Um dos palestrantes mais ilustre é o deputado federal Osmar Terra (PL), que foi ministro de Jair Bolsonaro, idolatrado por Abílio Brunini
Em tom ameaçador, o prefeito protagonizou o que ele supostamente tenta combater em sua gestão: a ideologia partidária. “Aqui no nosso município, na nossa gestão, a gente não trabalha com pronome neutro, nem com doutrinação ideológica. Durante a minha gestão, não vou aceitar a manifestação de pronome neutro. Se a senhora não se sentir à vontade em fazer uma apresentação que discuta a Saúde de Cuiabá sem doutrinação ideológica e sem manifestação de pronome neutro, eu vou suspender a apresentação”, afirmou o prefeito, se dirigindo à pesquisadora da UFMT, sob vaias.
Maria Inês Silva Barbosa retomou a palavra lembrando que a vida e a democracia exigem de todos admitir o contraditório, admitir que nem todos têm a mesma opinião. E reforçou sua posição sobre Saúde para todos, observando que não seria necessário o prefeito retirá-la do evento, mesmo porque ela deixou o local sob aplausos.
“Quando eu falo de equidade, eu tenho que falar de todos, todas e todes porque essas pessoas querem ser ouvidas. Não tenho como falar do acesso universal igualitário a todas as ações e serviços de Saúde, sem me referir a todos, todas e todes. O senhor não vai precisar me retirar da sala porque eu me retiro”, afirmou Maria Inês.
Ao final da abertura do evento, Abílio Brunini, no melhor estilo “impávido colosso” (que não tem medo, intrépido) reafirmou que não vai aceitar o uso de linguagem neutra. A referência era clara: ele não qualquer referência ao PT.
Em nota, a Prefeitura de Cuiabá informou que não será permitido o uso de linguagem neutra em eventos e espaços institucionais patrocinados pelo Poder Executivo Municipal.
A medida, segundo o informa, se baseia “no compromisso com a preservação da norma culta da língua portuguesa e na neutralidade ideológica das ações públicas”.
“O prefeito reforçou que todas as pessoas têm espaço garantido na gestão municipal, independentemente de raça, orientação sexual, religião ou posicionamento político. No entanto, destacou que manifestações ideológicas, de qualquer vertente, não devem interferir na condução técnica das políticas públicas nem na linguagem adotada nas ações oficiais do Executivo”, completa a nota.
Os fatos ganharam as mídia sociais e postagem reverberaram durante todo o dia, só não ganhando mais espaço por causa de operações policiais.
PRECEDENTE – Essa não é a primeira vez que o prefeito de Cuiabá impõe sua vontade (política, é claro) de gestor perante manifestação pública.
Durante protesto na Câmara Municipal pela defesa da indenização de 45 dias de férias para os professores da rede pública de Cuiabá, quando a palavra foi aberta à presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep), subsede Cuiabá, Marivone Pereira, o prefeito – que frequenta muito mais o Legislativo agora do que quando era vereador e foii cassado – partiu para o confronto com vereadores da própria base, que se colocaram a favor do benefício para a categoria.
Assim que viu que não conseguiria suspender o benefício, tanto que já havia mandado para apreciação dos vereadores projeto suspendendo os 15 dias extras de recesso, passou a defender a privatização da Educação Pública Municipal. Os resultados das notas de avaliação dos alunos da rede pública municipal de Cuiabá estão as piores das capitais e, até mesmos, entre os142 municípios de Mato Grosso.
O difícil para um político é manter a mesma postura de quando está na oposição e quando está na situação. Ainda mais, no debate com uma professora, negra e com um currículo de fazer inveja, para a grande maioria das pessoas.
Maria Inês Silva Barbosa tem graduação em Serviço Social pela Faculdades Metropolitanas Unidas(1976), Especialização em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo(1989), especialização em Foundation Course And Specialization Course On Med pela Federal Government Of The Republic Of Austria (2000), especialização em Curso Avançado Sobre Relações Raciais e Cultura Ne pela Universidade Cândido Mendes(1998), mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(1992) e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo(1998).
Atualmente, é professsora adjunta 3 da Universidade Federal de Mato Grosso.
Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde Pública. Atuando principalmente em temas como racismo; saúde; exclusão; mortalidade e população negra.
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