Nos últimos meses, uma das principais teses de investimentos na Petrobras (PETR3;PETR4) está sendo questionada: o pagamento de dividendos.
Conforme destaca o Bradesco BBI, dada a curva de investimentos em capital (Capex) acelerada da Petrobras, a ausência de reorganização do portfólio e as perspectivas desafiadoras para os preços do petróleo, o mercado tem questionado a longevidade da política de proventos mínimos da empresa, estabelecida em 45% do Fluxo de Caixa Operacional (FCO) menos o Capex.
Neste sentido, o BBI fez uma análise de sensibilidade sobre quantos anos a política de dividendos pode durar, com base em diferentes cenários de preços do petróleo a longo prazo, e qual a porcentagem do investimento em caixa da empresa efetivamente entregue.
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Os analistas preveem que a política de dividendos da Petrobras durará de 3 a 6 anos se os preços do Brent a longo prazo permanecerem em US$ 60 – “o que não é alarmante, mas levanta incertezas”.
No entanto, a situação se complicaria se os preços a longo prazo se acomodassem em US$ 55 o barril ou menos, com essa faixa caindo para 1 a 2 anos de uma política de dividendos duradoura.
“Apesar de gostarmos da política de dividendos da Petrobras, ela foi elaborada para uma gestão que busca eficiência e reorganização do portfólio. Embora vejamos a mensagem de Magda Chambriard [CEO da estatal] introduzindo alguns desses conceitos de eficiência, a execução ainda precisa ser vista e esperamos que a Petrobras avance com algumas aquisições nos próximos 6 a 12 meses”, avalia Vicente Falanga, que assina o relatório.
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O BBI, embora veja nessa gestão méritos no crescimento da produção e no estabelecimento de uma política de preços menos ruidosa, também aponta que a eficiência e a gestão de portfólio não foram um de seus pontos fortes até o momento.
Chambriard tem se manifestado mais sobre a implementação de cortes de investimentos agregados de aproximadamente US$ 8 bilhões para o próximo plano quinquenal e também falou sobre a retomada de algumas pequenas vendas de ativos (como a Bahia Terra), mas a execução ainda precisa ser vista.
Ao mesmo tempo, os níveis de despesas gerais e administrativas (G&A) continuaram a aumentar significativamente nos últimos dois anos (com um CAGR, ou Taxa de Crescimento Anual Composta, trimestral de 2,6% em dólares) e a Petrobras tem discutido a possibilidade de retornar ao etanol por meio de fusões e aquisições, além do mercado distribuição de GLP e, potencialmente, campos offshore fora do Brasil.
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“Em nossa opinião, a questão é que, com essas políticas expansionistas, os dividendos mínimos estariam em risco, dados os cenários de enfraquecimento do preço do petróleo, algo que o mercado definitivamente não aprecia (nem as receitas públicas)”, aponta o BBI.
No curto prazo, se a Petrobras investisse cerca de US$ 2,5 bilhões em fusões e aquisições para investimentos em leilão do pré-sal/etanol, veria seu rendimento de dividendos (dividend yield, ou dividendo em relação ao preço da ação) cair para níveis trimestrais de 1,2% no 2T26/3T26, de 2,0% a 2,2% no 4T25/1T26, totalizando um rendimento de dividendos de cerca de 6,7% em 12 meses (contra a expectativa do BBI de cerca de 6,5% para a Ecopetrol).
Dito isso, à medida que avança para 2026, o banco vê as ações da Petrobras sendo negociadas menos de olho em dividendos e mais de olho em eleições e, dependendo do resultado, a perspectiva por eles retratada pode mudar materialmente. O banco, contudo, segue com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para PETR4, com preço-alvo de R$ 40, ou potencial de alta de 31% frente o fechamento da véspera.