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Pedro Taques, sócio da banca AFG & Taques Advogados Associados, apresenta documentos que mostram ligação de Luiz Antonio Mendes (detalhe) com empresas de consignados
novo capítulo no rumoroso e não menos nebuloso caso das operações de empréstimos, cartões de crédito e de benefícios contratados de forma consignada por 60% do total de servidores públicos do Poder Executivo, pode ser a motivação ou o estímulo que os deputados esperavam para aprovarem uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Cálculos iniciais do Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE/MT) apontam que os servidores públicos do Governo do Estado teriam dividas que somam R$ 12 bilhões, mesmo havendo dúvidas reais de que este montante esteja correto ou tenha sido contraído pelos servidores de forma transparente e sem abusividade.
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O ex-procurador da República, ex-senador e ex-governador Pedro Taques apresentou o que muitos desconfiavam, mas não admitiam: o empresário Luiz Antônio Taveira Mendes, filho do governador Mauro Mendes (União Brasil), é sócio de uma empresa financeira que, aliada a outras empresas, operaria empréstimos consignados no Estado – a Angar Securitizadora S/A..
Por meio da AFG & Taques Advogados Associados, Taques patrocina a defesa de seis sindicados e mais a Federação Sindical dos Servidores Públicos do Estado de Mato Grosso (Fessp-MT).
Em um vídeo em suas mídias sociais, Taques afirma: “Cada enxadada é uma minhoca! As vezes, várias minhocas. Vocês estão acompanhando os escândalos dos consignados em que mais de 30 mil servidores públicos do Estado de Mato Grosso foram roubados, foram enganados por algumas empresas consignatárias”.
Mais adiante, Taques ressalta que: “continuando estas investigações na busca de outras empresas consignatárias que estejam dando prejuízos aos servidores, encontramos a Angar Securitizadora, que tem nome de Bank, mas não é banco. Ela não tem autorização do Banco Central (conforme documento em anexo) para fazer consignado, e esta pessoa jurídica Angar fez consignado junto ao Ministério Público do Estado de Mato Grosso e junto ao Município de Cuiabá”.
“Estamos mandando esses documentos para o Ministério Público e para o Município de Cuiabá”, disse
“Agora aqui, mais coincidências”, diz Taques, fazendo referência à entrevista concedida em março deste ano, após leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, que teve o Lote 2 para exploração de trecho rodoviário por cobrança de pedágio, vencido pelo Consórcio Rota da Produção, formado pela Zopone Engenharia e Construção e pela Constral Construtora, que tem Claudio Zopone também como sócio da empresa Transmissora Acre S.A. e Luiz Antônio Taveira Mendes.”
Ao ser questionado pelo fato de ter uma empresa vencedora de um leilão para exploração de trecho rodoviário em Mato Grosso pela Zopone Construtora e ser o proprietário da construtora sócio do seu filho em outra empresa, Mauro Mendes tratou o assunto apenas como “uma coincidência, muito comum no mundo dos negócios”. Por isso, Taques repete várias vezes o termo coincidência.
“Essa Angar tem como sócio um cidadão que também é sócio da Angar Investimentos e tem ligação com filho do governador Mauro Mendes, Luiz Antônio Taveira Mendes”, diz Taques, apresentando cópia da ata da Assembleia-Geral de Constituição de Sociedade e Estatuto Social Angar Bank Securitizadora S/A, onde consta como sócio Luiz Antônio Taveira Mendes, entre outras figuras carimbadas em negócios mútuos, como Hélio Palma de Arruda Neto, genro do empresário Mauro Carvalho, que chegou a ser secretário da Casa Civil nos primeiros anos do Governo Mauro Mendes e amigos de longa data.
Mauro Carvalho se tornou, em 2022, na campanha de reeleição de Mauro Mendes para o Governo de Mato Grosso, candidato a primeiro suplente na chapa do então senador e candidato a reeleição Wellington Fagundes (PL).
Para ser aceito como candidato na chapa então favorita a vaga de governador e de senador, Wellington Fagundes teve que aceitar o nome de Carvalho, que chegou a exercer o mandato de senador por 120 dias.
Hoje, Wellington, que tenta surfar na onda da extrema-direita bolsonarista e que, em 2026, estará no meio do seu segundo mandato de senador, pleiteia disputar o Governo do Estado ,a sucessão de Mauro Mendes, que vem flertando com o PL, mesmo garantindo que apoia a candidatura do vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos).
“São muitas coincidências, além desta”, apontou Taques, outrora amigo de Mauro Mendes.
“A Zopone, que ganhou um trecho de concessão rodoviária no Estado do Mato Grosso, no Acre, é sócia do filho do governador. Nos caso dos R$ 308 milhões da Telefônica Oi, os recursos foram parar num fundo que tem participação do filho do governador. São três coincidências. Você tire suas conclusões”, conclui o vídeo de Taques, no Instagram.
Mauro Mendes e Pedro Taques se aproximaram e se tornaram amigos no passado. Em 2010, ambos disputaram as eleições, sendo Mauro candidato a governador e Taques ao Senado.
Mauro saiu derrotado por Silval Barbosa, mas Taques, quebrando a escrita e o favoritismo de Carlos Abicalil (PT), ficou com a vaga de senador da República, cargo que ocupou até 2014, quando disputou o Governo do Estado e se sagrou vencedor.
Só que, em 2012, Mauro Mendes, após duas disputas majoritárias, conseguiu ganhar as eleições para prefeito de Cuiabá e se aproximou ainda mais de Taques, tanto que avalizou a candidatura do então senador ao Governo do Estado.
Em 2016, Mauro, extremamente bem avaliado, alegou problemas de saúde na família, além de problemas financeiros, já que entrou com suas empresas em Recuperação Judicial, não disputou a reeleição para prefeito da Capital de Mato Grosso.
Já em 2018, disputou o Governo do Estado contra o próprio Pedro Taques, que disputava a reeleição e se sagrou vencedor. De lá para cá, a relação de ambos naufragou e e viraram adversários.
Na próxima segunda-feira, dia 30, termina o prazo concedido pelo Tribunal de Contas para que todas as empresas que realizaram operações consignadas com servidores públicos do Poder Executivo apresentem os contratos, sob pena de eles serem considerado anuláveis.
O presidente do TCE/MT, Sérgio Ricardo -i reeleito para mais dois anos – voltou a cobrar as empresas para que apresentem os documentos, sob pena de a instituição determinar ao Governo de Mato Grosso que suspenda os descontos em folha de pagamento.

