Desde que voltou à Casa Branca, republicano ainda tenta consenso para o tarifaço, falha na promessa de resolver conflitos armados e culpa o Federal Reserve pela economia
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, completa neste domingo (20.jul.2025) seu 1º semestre de volta à Casa Branca. O republicano iniciou seu 2º mandato em Washington D.C. em 20 de janeiro depois de 4 anos de campanha como líder da oposição a Joe Biden (democrata) e assumindo o papel de mártir depois da invasão do Capitólio em 2021 e duas tentativas de assassinato.
Nesses 6 meses na Presidência, Trump seguiu à risca as principais promessas de campanha de 2024. Conseguiu a aprovação no Congresso da lei para cortar impostos, endureceu o processo de deportação de imigrantes ilegais e elevou as tarifas de importações à China e a demais parceiros comerciais. Também manteve sua palavra de combater a cultura woke e eliminar barreiras a pessoas e instituições anti-vacina.
Os maiores percalços desde o retorno ao poder vieram na política externa. Trump falhou em solucionar as guerras no Oriente Médio e Ucrânia –as quais prometeu encerrar–, viu resistência de aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em aumentar os gastos com defesa e não obteve sucesso nas negociações comerciais pós-tarifaço.
Esse último é o ponto principal do governo Trump 2 até aqui. As tarifas comerciais eram uma bandeira do presidente desde o 1º dia de gestão. Foi concretizado em evento na Casa Branca em 2 de abril. O plano: taxas de 10% a 50% sobre todas as importações dos 185 parceiros comerciais dos Estados Unidos. O resultado: queda das Bolsas, derretimento das ações das big techs e críticas do Ocidente levaram o Executivo a adiar a aplicação das alíquotas em 3 meses.
O novo prazo dado pelo republicano foi 9 de julho. A estratégia era fechar 90 acordos comerciais com 90 países (1 por dia) para evitar a taxação. Não funcionou. Só 3 países chegaram a tratados com Washington e Trump adiou novamente a tributação, agora para 1º de agosto. O novo modus operandi é o envio de cartas alertando para um novo aumento da taxa anunciada em abril. Ao todo, 27 nações já receberam as notificações, incluindo o Brasil.
Já o papel de mediador de conflitos teve um bom começo. Trump conseguiu assegurar um cessar-fogo entre Israel e Hamas em janeiro, dias antes de assumir a Presidência. A trégua durou 2 meses e foi desfeita em março, mesma época em que Israel voltou a trocar ataques com o Líbano.
Na Ucrânia, o republicano priorizou a Rússia nas negociações para resolução da guerra, que já dura mais de 3 anos. Apostou na proximidade com o presidente russo, Vladimir Putin, reforçou as críticas contra o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, e excluiu a União Europeia da mesa de debates. O acordo, que pareceu próximo, hoje está distante. Trump passou a ameaçar Moscou com novas sanções caso não chegue a um tratado de cessar-fogo.
A reunião de Trump e Zelensky na Casa Branca foi o ponto baixo das negociações. Os 2 bateram boca no Salão Oval e adiaram a assinatura do acordo de exploração de mineiras raros no país europeu.
BRASIL FORA DA FESTA
Zelensky foi 1 dos 15 chefes de Estado e governo a serem recebidos pelo republicano na sede do Executivo norte-americano nesses 6 meses. O premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, foi o 1º e o único a ir duas vezes. O último foi o príncipe herdeiro do Bahrein, Salman bin Hamad Al Khalifa, na 5ª feira (17.jul).
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não foi ao Salão Oval e sequer conversou com Trump –pessoalmente ou por telefone. O petista diz que não há motivo para o contato. Mas Washington também dá a entender que não tem vontade de realizar o contato.
O distanciamento também atinge a diplomacia. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também nunca falou com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio. O chanceler brasileiro disse ter enviado uma carta ao chefe da política externa dos EUA e se colocando à disposição. O Departamento de Estado não respondeu.
O governo brasileiro não teve contatos de alto nível com os Estados Unidos nem nos estágios iniciais do tarifaço. Para o Planalto e o Itamaraty, a taxa mínima de 10% imposta por Trump sobre produtos brasileiros não foi visto como um problema. E chegou a ser interpretada como uma vitória das relações exteriores brasileiras por ter evitado uma tarifa maior.
Mas o jogo virou neste mês com as ameaças de Trump de elevar a alíquota para 50% caso o governo brasileiro não pare de “perseguir” o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Aliado do republicano, Bolsonaro é réu em ação da 1ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga o núcleo próximo do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado.
A inclusão de Bolsonaro como argumento para uma medida comercial punitiva foi fortemente criticada pelo governo Lula, que vê “interferência à soberania” brasileira por Trump. O presidente dos EUA já saiu em defesa do ex-presidente ao menos 6 vezes neste mês. E disse que espera ver o retorno dele ao poder. Nos preços de hoje, é impossível. Bolsonaro está inelegível.
Trump já tentou ser cabo eleitoral no exterior. Não funcionou. Candidatos de direita admiradores do líder norte-americano, tidos como favoritos em eleições gerais pelo mundo, sofreram viradas nas urnas depois de políticas protecionistas do republicano como as tarifas e declarações controversas como a anexação do Canadá, a tomada do Canal do Panamá e a renomeação do Golfo do México. Trump foi indiretamente responsável pela derrota de apoiadores no Canadá, na Romênia e na Austrália.
Eis outros assuntos que protagonizaram o 1º semestre de Trump de volta ao poder:
- Musk – principal cabo eleitoral e apoiador de Trump nas eleições de 2024, deixou o governo em maio e rompeu com o republicano. Agora, faz críticas ao presidente nas redes sociais e anunciou a criação de um novo partido;
- TikTok – a venda do aplicativo de rede social chinês não avançou. Trump entrou no governo estendendo o prazo de 19 de janeiro para vender o app e evitar sua suspensão nos EUA. Os deadlines passaram para 5 de abril, 19 de junho e, o atual, 17 de setembro;
- Oriente Médio – os EUA bombardearam o Irã em 21 de junho e entraram oficialmente na guerra do Oriente Médio em apoio a Israel. A mando de Trump, o país atacou as instalações nucleares e militares de Teerã;
- cortes – Trump anunciou o encerramento do Departamento de Educação dos EUA e cortou os repasses de ajuda humanitária a outros países pela USaid;
- educação – grandes universidades norte-americanas tiveram verbas congeladas pela Casa Branca. O governo exige reformas educacionais e o fim dos programas de diversidade e inclusão das instituições.
APROVAÇÃO BAIXA E RISCO ELEITORAL
Em 6 meses de governo, a aprovação de Trump entre os norte-americanos é de menos da metade da população. A taxa nunca ultrapassou os 50% desde o início do mandato. Atualmente está em 40%, segundo a Gallup. É a 2ª pior taxa de um presidente dos EUA no pós-2ª Guerra, mas é melhor que o registrado no mesmo período em seu 1º mandato.
Em julho de 2017, o então político de 1ª viagem era aprovado por só 37% da população depois de 6 meses de gestão. O democrata Joe Biden, 4 anos depois, tinha o aval de 50% dos eleitores no mesmo período. O único presidente com números similares ao de Trump foi o também republicano Gerald Ford, que tinha aprovação de 39% em 1975. Ford era vice de Richard Nixon e assumiu a Casa Branca depois da renúncia do titular durante o processo de impeachment pelo escândalo de Watergate.
A economia, um dos principais trunfos de popularidade de um presidente dos EUA, ficou de lado nessa análise. Os números são similares ao da reta final de governo de Biden. Os juros estão inalterados, a inflação oscila abaixo dos 3% e a taxa de desemprego segue pouco acima dos 4% herdados do democrata.
Para Trump, a culpa do não aquecimento da economia é de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (o banco central norte-americano). Em reiteradas oportunidades, o republicano chamou o líder do Fed de “atrasado” por não cortar os juros e ameaçou demiti-lo. Powell está em seu 2º mandato à frente da autarquia. A princípio, fica no cargo até 2026.
Ano que vem também é ano de eleições de meio de mandato. É uma espécie de termômetro da Casa Branca nas urnas. No pleito, estarão em jogo todas as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes e 1/3 dos assentos do Senado (35 dos 100).
Assim como em seu 1º mandato, Trump assumiu com maioria republicana nas duas Casas do Capitólio, mas perdeu o controle do Senado nas eleições de meio de mandato de 2018. As pesquisas de opinião indicam que o cenário não é o mesmo para 2026, mas a tendência é que o partido do presidente reduza sua maioria de só 3 senadores na Casa Alta. Sem controle do Congresso, o chefe do Executivo norte-americano teria que acelerar sua agenda nos próximos 3 semestres de governo.