Os Investimentos multibilionários em inteligência artificial estão levantando preocupações de parte do mercado sobre a formação de uma bolha. O sentimento não é compartilhado por Ronaldo Patah, estrategista do UBS Global Wealth Management, que ainda vê oportunidades nas empresas globais que investem na tendência.
Ele falou sobre o tema durante painel do Onde Investir 2026, o especial anual do InfoMoney, realizado em parceria com a XP, que reúne alguns dos nomes mais influentes do mercado para interpretar o cenário e apontar caminhos práticos de alocação. Entre os convidados está também Rodrigo Sgavioli, da XP.
Na visão de Patah, o desempenho forte de 2025, com bolsas americanas subindo mais de 15% impulsionadas pela onda de inteligência artificial (IA), não caracteriza uma nova bolha de tecnologia. Diferentemente da virada dos anos 1990 para 2000, quando várias empresas “pontocom” sequer tinham receita. “Diferente da bolha pontocom, hoje falamos de empresas grandes, lucrativas e com crescimento real de vendas e lucros”, pontua.
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Ele afirma que as big techs hoje têm um problema “bom”: não conseguem atender toda a demanda por infraestrutura de IA. Só em 2025, as quatro maiores devem investir cerca de US$ 460 bilhões em data centers, nuvem, chips e capacidade de processamento — bem acima dos US$ 300 bilhões estimados um ano antes.
Rodrigo Sgavioli, head de alocação da XP, concorda que a inteligência artificial ainda está longe de um ponto de saturação na economia real. O ciclo de investimentos em infraestrutura — capitaneado por gigantes como Google e Microsoft, começou há menos de dois anos e segue acelerando. Para ele, é cedo para falar em excesso de capacidade.
Assim, a discussão passa a ser o quanto as expectativas de lucros futuros já estão embutidas nos preços das ações. Os múltiplos de Bolsa, como o preço/lucro, hoje um a dois desvios-padrão acima da média histórica em alguns casos, justificam alguma cautela, mas não necessariamente uma postura defensiva.
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Sgavioli lembra que executivos de bancos como Goldman Sachs e Morgan Stanley já sinalizaram ser “natural” esperar alguma correção nos próximos 12 a 24 meses. “Pode haver algum nível de correção nos próximos 12 a 24 meses, mas tentar fazer market timing na Bolsa americana é a pior estratégia. O importante é estar posicionado.”
Com esse pano de fundo, o UBS mantém recomendação acima do neutro para ações globais. A casa aumentou a alocação em bolsa americana, voltou a comprar Europa, reforçou emergentes como Brasil e Índia e não vê, por ora, supervalorização desmedida: a bolsa dos EUA negocia a cerca de 22,5 vezes lucro, um múltiplo alto, mas considerado compatível com o crescimento esperado de lucros — ao menos 8% em 2026, segundo Patah.
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Qual a visão de alocação da XP?
Sgavioli explica, em 2026, a renda fixa ainda deve ser predominante nas carteiras brasileiras, mas com um mix diferente: menos pós-fixado, mais inflação e mais prefixado.
Ao mesmo tempo, a XP mantém participação relevante em multimercados e ativos globais, e aumentou, no segundo semestre, a exposição a renda variável doméstica. A projeção de valor justo do Ibovespa foi revisada de 185 mil para 220 mil pontos, considerando queda gradual da taxa de juros real e manutenção dos fundamentos das empresas.
Um ponto central da fala de Sgavioli é a necessidade de persistência na exposição à bolsa, sobretudo quando “tudo parece ruim”. Em 2025, muitos investidores estavam avessos à renda variável logo no início do ano — e acabaram ficando fora de uma alta expressiva do índice, que superou inclusive a projeção de 160 mil pontos traçada anteriormente pelo time de análise.
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Para ele, mais importante do que decidir se “vai ou não ter bolsa” é definir o tamanho da posição e o instrumento adequado. No recorte setorial, a XP vê oportunidades em áreas historicamente beneficiadas por cortes de juros. O setor imobiliário tende a ganhar tração em um cenário de queda da Selic com economia ainda relativamente firme. Bancos também podem se beneficiar.
Setores cíclicos ligados ao consumo, especialmente varejo, também podem ter recuperação de preço, desde que bem selecionados entre consumo discricionário e não discricionário. Farmacêuticas aparecem como players resilientes e menos sensíveis a choques de curto prazo. Utilities (energia, saneamento, etc.) também entram na lista de segmentos com visão construtiva.
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Onde Investir 2026
O Onde Investir 2026 reúne, ao longo da semana, economistas e estrategistas para discutir os temas que devem orientar os investimentos no próximo ano.
Nesta segunda (8), Ronaldo Patah, estrategista do UBS Global Wealth Management, e Rodrigo Sgavioli, sócio e head de alocação da XP, analisam o contraste entre o juro em queda no exterior e o juro ainda elevado no Brasil em ano eleitoral.
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Também hoje, Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, e Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, avaliam o início do ciclo de cortes do BC e o impacto da inflação e do fiscal.
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