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Vale do Araguaia é cenário de gravações do primeiro longa da região “O Menino Que Carregava Água na Peneira’



Conhecidas por seus rios extensos, serras e áreas de cerrado, as paisagens do Vale do Araguaia se tornaram set de filmagem do primeiro longa-metragem de ficção rodado na região. Desde o fim de julho, municípios como Barra do Garças e Araguaiana, no interior do Mato Grosso, recebem as gravações de “O Menino Que Carregava Água na Peneira”, escrito e dirigido pelo cineasta Daniel Leite Almeida.

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Livremente inspirado na obra de Manoel de Barros, o filme é produzido pela Araraguaia Produções com recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio do edital Cine Motion – Produção Audiovisual da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT). As filmagens incluem locações como o Parque da Serra Azul, os rios Garças e Araguaia e uma fazenda próxima a General Carneiro, na zona rural de Barra do Garças.

“Trazer para as telonas as paisagens, a cultura e a mística do cerrado, a partir de uma junção das minhas memórias com os poemas de Manoel de Barros, tem sido muito bonito. É como revisitar a infância”, relata o diretor. “Cada diária, ainda que exaustiva, me permite sair com vida, a partir desse encontro com a natureza. O filme não sairia se não fosse a participação direta de pessoas do próprio Vale do Araguaia”, complementa.

O longa acompanha a jornada de um garoto sem nome que parte em busca de sua identidade e do sonho de ser escritor. Em Araguaiana, um dos locais de gravação é a Escola Municipal Laura Vicuña. “Essa escola tem uma história muito linda. Eu estudei aqui, aprendi bordado, pintura e [aprendi] a ler e escrever. Hoje, recebo esse projeto com muito carinho. Vai ser importante para nossas crianças e para o município”, afirma a secretária de Educação da cidade, Gerayne Aquino.Foto: Wilson Vieira.Elenco: tradição e estreia no mesmo set

O filme reúne nomes importantes da cena artística do Mato Grosso, além de atores estreantes no cinema. Um dos destaques é o ator J. Astrevo, que interpreta o personagem Vô Severino. “Essa experiência é fundamental para plantar uma semente. O cinema não é uma linguagem exclusiva dos grandes centros. Essa produção ajuda a formar plateia, gera renda, cria oportunidades e deixa um legado. O retorno disso certamente vai aparecer”, avalia.

Ao lado dele, atua Domingas Vieira, moradora do município de Santa Terezinha (MT). Ela dá vida à Maria Quitéria, a mãe do Menino. É a primeira vez que integra o elenco de um filme. “Vi o link nas redes sociais e resolvi me inscrever. Nem imaginei que seria escolhida. Deixei minha casa, minhas coisas, e vim, porque sei que não estou perdendo nada. Estou ganhando. A equipe me acolheu com muito carinho. E atuar ao lado de pessoas como o J. Astrevo tem sido emocionante”, afirma.

Cinema feito por muitas mãos

A produção reúne cerca de 150 pessoas entre elenco, equipe técnica e figuração, abrindo espaço para jovens que estão começando a carreira no cinema. A diversidade que marca a trilogia Alice dos Anjos, saga da qual O Menino que Carregava Água na Peneira faz parte, é outro destaque do longa, que conta com mulheres e pessoas negras na chefia de departamentos, além da participação de profissionais indígenas.

Com isso, o filme impulsiona a profissionalização no audiovisual no interior do estado. Parte da equipe técnica, inclusive, é formada por pessoas que participaram de oficinas gratuitas sobre cinema de ficção oferecidas como contrapartida social do projeto. As formações foram voltadas para moradores da região e ocorreram antes do início das gravações.

Marina Escorisa, assistente de produção de objetos, é um exemplo. Ela vive sua primeira experiência em um set de filmagem. “Nunca tinha atuado com arte no cinema. A liberdade de criação, a inspiração coletiva e o envolvimento com o território são muito fortes. A cidade se mobilizou. As pessoas reconhecem o filme. E isso mostra que a cultura está em movimento aqui”, ressalta.

Para ela, o impacto é também emocional. “A parte mais bonita é ver a arte nos olhos das pessoas. Eu me emocionei. É muita gente trabalhando junto, cada um fazendo sua parte. Isso não vai acabar aqui. Esse projeto abriu portas, movimentou a cidade [Barra do Garças] e uniu culturas”, acrescenta.

O diretor Daniel Leite Almeida reforça que o objetivo da produção é justamente esse. “Colocar pessoas do interior como protagonistas de processos criativos e técnicos rompe com uma lógica centralizadora do cinema. O que está acontecendo aqui é, antes de tudo, um gesto de pertencimento”, finaliza.



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