Início GERAL Zampieri e Nery: assassinatos de advogados chocaram Cuiabá, mas seguem sem condenações

Zampieri e Nery: assassinatos de advogados chocaram Cuiabá, mas seguem sem condenações



Dois homicídios de advogados ocorridos em Cuiabá nos últimos anos — ambos executados em frente aos respectivos escritórios — tornaram-se símbolos da escalada da violência ligada a disputas judiciais, interesses econômicos e possíveis redes criminosas. Apesar do avanço das investigações, denúncias robustas e múltiplos réus, nenhum dos casos teve sentença definitiva até o momento.

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As vítimas são os advogados Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023, e Renato Gomes Nery, morto em julho de 2024. Os processos avançaram de forma distinta, mas compartilham um ponto central: a complexidade das apurações e a ausência de conclusão judicial.

Caso Roberto Zampieri: execução por encomenda e investigação paralela no STF

O advogado Roberto Zampieri foi morto a tiros em dezembro de 2023, no bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá, logo após deixar seu escritório. As investigações conduzidas pela Polícia Civil e pelo Núcleo de Defesa da Vida do Ministério Público de Mato Grosso (MPE) apontaram que o crime foi uma execução planejada, cometida mediante promessa de recompensa.

Em fevereiro de 2024, o MPE denunciou Antônio Gomes da Silva, Hedilerson Fialho Martins Barbosa e o coronel reformado Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas por homicídio triplamente qualificado — mediante paga, recurso que dificultou a defesa da vítima e uso de arma de uso restrito. Segundo a denúncia, Etevaldo teria contratado os executores, prometendo pagamento de R$ 40 mil.

De acordo com a acusação, o plano inicial previa o assassinato em uma propriedade rural, mas foi frustrado. Posteriormente, Antônio teria recebido uma pistola Taurus calibre 9 mm para a execução do crime. Zampieri foi surpreendido e atingido por diversos disparos, morrendo no local.

Em outubro de 2025, a Justiça da 12ª Vara Criminal de Cuiabá pronunciou os três réus, reconhecendo a existência de indícios suficientes de autoria e materialidade e determinando que eles sejam submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri. As prisões preventivas foram mantidas.

Apesar disso, ainda não há data marcada para o júri popular. Paralelamente, um inquérito complementar que apura a possível existência de mandantes e conexões mais amplas tramita sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Cristiano Zanin, o que adiciona novos desdobramentos e amplia o alcance do caso.

Caso Renato Gomes Nery: disputa fundiária, policiais envolvidos e múltiplas denúncias

O assassinato do advogado Renato Gomes Nery, de 72 anos, ocorreu em 5 de julho de 2024, em frente ao escritório dele, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, uma das vias mais movimentadas de Cuiabá. O crime, cometido em plena via pública, foi tratado desde o início como execução premeditada.

Em maio de 2025, o Ministério Público denunciou o policial militar Heron Teixeira Pena Vieira e o montador de móveis Alex Roberto de Queiroz Silva por homicídio qualificado, fraude processual, abuso de autoridade e organização criminosa. Segundo a acusação, Alex efetuou os disparos com uma pistola Glock adaptada para tiros em rajada, sob coordenação de Heron.

As investigações apontaram que o homicídio teria sido motivado por uma disputa judicial envolvendo mais de 12 mil hectares de terras no município de Novo São Joaquim. A vítima havia obtido vitória judicial expressiva, causando prejuízos financeiros às partes adversas.

O caso ganhou contornos ainda mais graves quando o MPE revelou conexões com outro episódio violento envolvendo policiais militares. A perícia apontou que a arma usada no assassinato de Renato Nery também foi utilizada na morte de Walteir Lima Cabral e na tentativa de homicídio de outras duas pessoas, em uma ocorrência inicialmente apresentada como confronto policial, mas posteriormente classificada como execução forjada.

Em junho de 2025, o Ministério Público ofereceu nova denúncia, incluindo os policiais militares Jackson Pereira Barbosa e Ícaro Nathan Santos Ferreira, apontados como intermediários no esquema criminoso, com promessa de pagamento de até R$ 200 mil pela execução.

Dias depois, um aditamento à denúncia ampliou ainda mais o rol de réus, incluindo o casal de agricultores Julinere Goulart Bentos e Cesar Jorge Sechi, apontados como mandantes do crime. Segundo o MPMT, Julinere teria atuado como mentora intelectual e Cesar como responsável pelo financiamento da execução.

A Justiça da 14ª Vara Criminal de Cuiabá acolheu o aditamento e incluiu o casal como réu, reconhecendo a existência de uma organização criminosa estruturada em núcleos de comando, intermediação, execução e obstrução das investigações.

Apesar do volume de denúncias, o processo ainda se encontra em fase de instrução, sem julgamento pelo Tribunal do Júri e sem sentença definitiva.

Crimes graves, processos longos

Os dois assassinatos expõem não apenas a vulnerabilidade de profissionais do Direito, mas também a complexidade de crimes que envolvem interesses econômicos elevados, possíveis redes criminosas e, no caso de Renato Nery, a participação de agentes do Estado.

Embora o Ministério Público tenha avançado significativamente nas investigações, com denúncias detalhadas e reconhecimento judicial da gravidade dos fatos, a ausência de julgamento final mantém abertas as feridas deixadas pelos crimes e prolonga a expectativa por respostas definitivas da Justiça.

Enquanto isso, os dois casos seguem como marcos da violência extrema em Cuiabá e da dificuldade do sistema judicial em dar desfecho célere a crimes de alta complexidade e repercussão social.



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